As virtudes e o vício

Pergunta 905

Alguns autores hão publicado belíssimas obras de grande moral, que auxiliam o progresso da humanidade, das quais, porém, nenhum proveito tiraram eles. Ser-lhes-á levado em conta, como Espíritos, o bem a que suas obras hajam dado lugar?

A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente, se não a fazeis dar frutos que vos alimentem? Grave é a culpa desses homens, porque dispunham de inteligência para compreender. Não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher-lhes os frutos.

Eis, neste trecho, uma das maiores lições que toda espiritualidade tenta sempre passar aos irmãos encarnados: a fé morta, o conhecimento morto. Não só o escritor, o chamado mestre, mas também o leitor que recebe os ensinamentos, quem não os coloca em prática, nada consegue como aproveitamento na sua encarnação no sentido da elevação espiritual. Tudo aquilo que se aprende precisa ser usado para tenha alguma valia.

Deixe-me dizer uma coisa que os seres humanizados sabem, mas que se esquecem constantemente. O amor e o conhecimento são dois elementos que jamais se gastam: quanto mais se pratica ou divide, eles se multiplicam. Quanto mais você amar, mais amor receberá; quanto mais você divide o que sabe, mais aprende.

Aquele que lê ou que escreve objetivando ganhar individualmente, para aumentar sua notoriedade, age como os antigos piratas que enterravam seus tesouros numa ilha deserta ou no fundo do mar e não usufruíam dele. O tesouro enterrado não vale de nada: para que ele tenha importância é preciso que esteja em rotatividade.

É isto que Cristo ensinou através da ‘Parábola dos Talentos’ ou ‘Parábola dos Três Empregados’.

NOTA: Íntegra da parábola dos talentos se encontra em Mateus – 25,14-30.

O escravo que enterrou o bem que recebeu do Senhor para devolvê-lo intacto, foi considerado como preguiçoso e infiel e, por isso, foi punido através do seu desterro para o lugar onde existe o ranger de dentes. Ou seja, é o espírito que não pratica o amor e não objetiva auxiliar o próximo durante a sua existência espiritual e que, por isso, é preciso ser constantemente remetido às encarnações.

A fé viva, a ação espiritual que liberta o ser universal da roda da sansara (encarnações), então, é aquela onde existe a prática daquilo que se recebe do Pai, seja em carga sentimental ou cultural, sem guardar este patrimônio para si.

Mas, como será isso na prática? Como viver com a fé viva? Transformando o ensinamento que se recebe em fundamento de nossa existência. Ou seja, colocando o bem que o Senhor deixou sob nossa responsabilidade para que renda lucros, como foi o caso daqueles empregados da parábola que foram considerados como trabalhadores e fiéis.

Quem recebeu o tesouro do ensinamento cristão precisa colocá-lo em prática. Ou seja, precisa amar a todos e a tudo incondicionalmente, escolher a que senhor servir, buscar amealhar bens no céu ao invés de amontoá-los na carne... Aquele que não transforma tais ensinamentos em fundamentos da existência carnal, ou seja, que ainda condiciona o seu amor e que busca a elevação espiritual mas não abre mão de gozar o prazer material, este está escondendo o tesouro recebido de Cristo.

Da mesma forma aqueles que receberam tesouros de outros mestres precisam colocá-los em prática para que vivam a fé viva. De que adianta se dizer hindu, praticar a meditação e a yoga se na sua existência o que lhe vem à mente não é considerado como maya? De que adianta se dizer budista se a libertação das paixões e desejos oriundos dos cinco agregados ainda não se transformou em realidade? De nada.

De nada adianta o ser humanizado dizer-se sábio, que conhece os ensinamentos dos mestres da humanidade, se na hora da vivência dos acontecimentos da vida ainda acredita nas ilusões (mayas) que o ego cria, se não ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e se não pratica a compreensão correta e todos os outros elementos do Nobre Caminho Óctuplo.

Para alcançar a elevação espiritual é preciso que se tenha praticado aquilo que aprendeu. Na hora da verificação do que foi realizado durante a encarnação, de nada adiantará a notoriedade que qualquer um tenha alcançado por ter aprendido (saber), mas somente aquilo que ele realizou com o que aprendeu. Por isso é muito fácil aprender, mas é difícil praticar o que se aprende.

A prática daquilo que se recebe é, portanto, a realização.