As virtudes e o vício

Pergunta 903

Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?

Incorrerá em grande culpa, se o fizer para criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, brando; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não possam aplicar estas palavras de Jesus: vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trava no seu próprio.

Esta pergunta e a respectiva resposta estão completamente de acordo com ensinamento crístico: é preciso tirar a trave do seu olho para que não veja o cisco no olho do próximo.

Este é um ensinamento que deve ser seguido por todo aquele que pretende alcançar a elevação espiritual, principalmente por aqueles que se dizem cristãos, seguidores de Cristo. Estes, portanto, não devem observar o erro dos outros.

Mas, daí se afirmar que é proibido ou errado fazer esta observação, seria a mesma coisa que negar a Realidade do mundo espiritual. Vamos entender o assunto.

Como vimos anteriormente, o Espírito da Verdade ensina que os seres espirituais na erraticidade preparam-se para novas encarnações praticando a observação da forma como os encarnados relacionam-se com seu ego durante a ‘vida carnal’. Ou seja, a forma como os espíritos aprendem para depois poder fazer suas provações, é observar o que os seus irmãos fazem.

Assim sendo, se fosse proibido observar as atitudes espirituais do próximo, o ser universal desencarnado não poderia aprender nada na erraticidade e, portanto, nada teria a provar e jamais se elevaria. A observação, portanto, por si só não é proibida ou considerada errada, mas, para que ela seja válida é preciso, como diz o Espírito da Verdade neste texto, se observar qual a intenção com que ela é praticada.

‘Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade’. Ou seja, a observação da forma de proceder do próximo pode ser feita, mas ela precisa ser executada apenas como aprendizagem sem unir-se a esta observação qualquer crítica.

A análise da forma de um ser humanizado relacionar-se com o seu ego, seja por parte do espírito encarnado ou não, deve ser realizada apenas com a intenção de se tomar ciência do que está sendo feito, constatar o está acontecendo. Dela jamais deve resultar a crítica ou a acusação. A observação que auxilia o ser encarnado no processo de reforma íntima é aquela onde ele se cientifica de um individualismo praticado por outrem, sem acusá-lo de mau, errado, feio, imoral, etc.

Mas, como praticar tal observação? Juntando-se a ela a caridade. Se o ser humanizado observar o próximo exercendo a indulgência, a benevolência e o perdão àquilo que observou como atitude individualista, certamente tal forma de proceder pode auxiliar na elevação espiritual. Agora, se além de observar o ser humanizado ainda se deixar levar pela onda de acusações caluniosas que o ego cria (a trave do seu olho), tal exercício de nada lhe valerá no sentido da elevação espiritual.

Portanto, aí está mais um trabalho de patrulhamento que o ser humanizado deve exercer sobre as verdades que o ego vivencia: não acreditar nas acusações caluniosas que o ego cria à partir das observações feitas sobre o proceder do próximo.