Progressão dos Espíritos

Pergunta 122

Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, gozar da liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, qualquer tendência que os encaminhe para uma senda de preferência a outra?

O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

Vamos por partes porque a resposta contém diversas informações. A primeira: o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo.

Isso quer dizer que o espírito, no seu início, não possui livre arbítrio. Esse elemento só torna-se disponível quando ele toma consciência de si mesmo, ou seja, só quando se reconhece como individualidade.

Segunda: a causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade.

Inicialmente podemos dizer que a causa do individualismo não está no espírito, mas fora dele. Mas, a informação sobre esse assunto vai mais além: está nas influências a que cede. Sendo assim, podemos dizer que as causas do individualismo não estão no que acontece, mas no ceder à tentação ao vivenciar alguma coisa.

 É isso que precisamos entender. O seu livre arbítrio se consiste em você universalizar-se ou individualizar-se frente a um acontecimento. Não são os fatos que possuem em si individualismo ou universalismo, mas a forma como o espírito reage a eles.

É a forma de reagir aos acontecimentos da existência que determinam o atraso ou o adiantamento do espírito. Quando cede à tentação de individualizar alguma coisa, foi ele que cedeu a tentação e não o acontecimento em si que causou isso. Fazendo essa opção, o ser universal afasta-se de Deus.

Mas, o que é ceder à tentação de vivenciar algo de uma forma individualista? Gostar ou não do que está acontecendo, querer ou não querer, achar limpo ou sujo, bonito ou feio. Aplicar valores aos acontecimentos da vida: isso é ceder à tentação do individualismo.

Um acontecimento é apenas um acontecimento. Quando o ser aplica valores é que ele passa a ser bom ou ruim. Esses valores caracterizam o individualismo porque são individuais, ou seja, só você acredita neles.

Existem pessoas que vivenciam o mesmo acontecimento que você e não dão os mesmos valores. É por isso que seus valores não podem ser considerados universais. O bom ou ruim é seu valor e a utilização dele, a crença de que algo seja bom ou ruim, representa que você cedeu à tentação de dar um valor àquilo que está acontecendo.

Então, veja. Quando se fala aqui que a causa está fora do espírito, não quer dizer que está no acontecimento, mas sim na mente humana, no ego. É ali que o acontecimento deixa de ser apenas uma ocorrência e se transforma nos acontecimentos adjetivados. São esses valores que o ego aplica ao acontecimento que estão fora do espírito e servem como influência para o ser ceder ou não à tentação de aplicar um valor a ele.

Quando o espírito cede, o valor gerado pelo ego se transforma numa verdade. É neste momento que se diz que o espírito critica.

Para ceder a essa tentação o ser universal utilizou o seu o livre arbítrio. Ou seja, Deus criou a situação e os valores externamente ao ser e ele livremente optou entre o universalismo, ou seja, viver a realidade sem nem um valor, e o individualismo (acreditar nos valores aplicados às coisas).

Sei que o que estou dizendo é de difícil compreensão para vocês, mas uma batida de carro, por exemplo, é apenas uma batida de carro. Se essa batida é denominada como ruim ou boa, se trata apenas de valores que o ego cria para a provação do espírito.

O que é uma partida de futebol? É uma partida de futebol. Agora, se ela é boa ou ruim, se você gosta ou não, se torce ou não por um dos times, isso é a sua prova. Acreditar nesses valores é ceder à tentação criada pelo seu ego como uma provação.

Mas, a fala do Espírito da Verdade não termina por aí. Tem mais informações: é o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

A figura emblemática da queda do homem e do pecado original que é citada nesse texto, trata-se da passagem bíblica de Adão e Eva. Nela, a cobra fala com Eva assim: ‘que morrer nada, Deus não quer que você coma desse fruto, porque, se comê-lo, seus olhos se abrirão e você conhecerá o bem e o mal’. Eva, então come o fruto proibido e o que a leva a decidir por comê-lo é o seguinte pensamento: ‘como seria bom ter esse conhecimento’.

Ter esse conhecimento: foi essa a tentação a que Eva sucumbiu. Ela sucumbiu, não foi a cobra (o fator externo, o acontecimento) o culpado. Os acontecimentos não têm culpa, mas sim o espírito, que quer ter o poder de dar valor as coisas.

O bem e o mal, o certo e o errado, o bonito e o feio, o limpo e o sujo, o arrumado e o desarrumado das coisas, são a maçã que é oferecida a cada momento ao espírito. Quando ele come esse fruto, ou seja, acredita na verdade criada pelo ego, cede à tentação. O culpado nesta história não é a cobra (os acontecimentos externos), mas sim o espírito que cede à tentação.

Tem muita gente que não acredita na história de Adão e Eva, mas ela é fundamental para quem quer buscar a elevação espiritual. Na Verdade nunca aconteceu um primeiro casal, mas a mensagem que a história contém é fundamental para quem promover a reforma íntima.

Todos somos espíritos que comemos a maçã, ou seja, que queremos ter os olhos abertos, a capacidade de ver, a capacidade de enxergar. Queremos ter o poder de dizer o que presta e o que não presta. Esta é a condição humana do espírito.

Ser humano é o espírito que está vivendo num mundo guiado por um ego, onde sofre provações para poder exercer o seu livre arbítrio para se libertar do individualismo. É só isso: o ser humano não é nada mais do que isso.

Na hora que compreendermos isso, poderemos deixar de lado a soberba de ser um humano e entender que as coisas que sabemos servem apenas como uma maçã que nos é oferecida a cada momento para que nós, seres universais, possamos exercer uma livre opção em não acreditar naquilo que o ego cria.

No momento em que esta for a compreensão sobre a vida, podemos deixar de lado a observação do mundo para poder buscar a interiorização necessária para a elevação. Com ela, ao invés de nos preocuparmos com a calça dos outros, iremos lutar para nos libertarmos da ideia de que ela está amarrotada ou não.

Com isso nos libertamos da crítica, pois já não vivemos a ideia de que uma calça amarrotada é feia e que uma bem passada é bonita.

Participante: se os advogados e juízes utilizassem esse critério, a justiça dos homens seria uma maravilha.

Seria uma maravilha para quem? Para o espírito? Não.

Os critérios adotados pela justiça humana são perfeitos, pois são instrumentos da ação carmática. Como você poderia se libertar da ideia de culpado ou inocente se não houvesse leis que servissem para julgar?

As leis humanas, como estão, são perfeitas. Quem mata ou rouba merece ir para a cadeia: essa é a ação carmática. Agora, como penalidade, esse ser não precisa receber a sua raiva, a sua indignação, as suas condenações que afirmam que ele é um assassino, um monstro.

Isso ele não precisa, mas você dá porque afinal de contas, sabe que ele está errado e, principalmente, sabe o que deveria ser feito, o que é justo...

Percebe? Os acontecimentos são necessários para a sua tentação. Por isso, ao invés de querer mudar o mundo, lute para não aceitar as verdades que o seu ego cria.