O poder da felicidade

Pena do ser humano

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Pena do ser humano

101. O pobre coitado

Uma pessoa me fala que estava tentando colocar em prática os ensinamentos que passamos a respeito da não identificação com o eu material, com o ego. Diz que conseguiu alguma coisa, mas como resposta a mente criou uma ideia que ele nunca tinha tido: ter pena do ego, do ser humano. Isso o fez perder a concentração e novamente viver como a personalidade humana ao invés de apenas observá-la.

Aparentemente essa questão não seria para conversarmos dentro deste estudo, do estudo do poder da felicidade, mas tem sim. Tem porque quando este ser não consegue mais a não identificação passa a viver a identificação, viver o que o ego dita, e com isso volta ao estado de sofrimento.

Como o que foi narrado nesta questão foi classificado pelo próprio ser humano como algo estranho e que nunca havia acontecido, é alguma coisa que a mente usa algumas vezes. Por isso, vamos conversar sobre este assunto aqui.

Existe você, o espírito, e você, o ser humano. Pelo menos para vocês existem estes dois seres. Não estou afirmando que existem os dois, mas sim dizendo que para vocês estes dois seres existem.

Quem é você, o espírito? O ser universal, aquele que segundo o Espírito da Verdade é incompreensível e não identificável para o ser humano.

Este é você, o espírito. Só que neste momento está humano e aquilo que está é o que é agora. Portanto, é o espírito, mas por estar humano torna-se um humano. É essa identificação que lhe faz, apesar de todos os ensinamentos e das crenças nas coisas espirituais viver como humano, ou seja, preso ao prazer e a dor.

Só que vem um espírito chamado Joaquim que diz: o ser humano que você pensa que é vai morrer, vai acabar. Diz, também, que ele é apenas a encarnação do espírito, ou seja, que trata-se apenas das provações que o ser universal faz. Por isso, você começa a imaginar que trata-se de um espírito usando um ser humano em benefício próprio, pouco se lixando para o que acontece ao humano. É a partir deste raciocínio que a pena pelo ser humano surge naturalmente.

Só que não é essa a realidade. O ser humano não sofre, não passa por situações de sofrimento. Por causa disso, você não precisa ter pena dele ...

102. O ser humano não sofre

Acho que neste momento em que afirmei que o ser humano não sofre acabei de embaralhar a mente de vocês. ‘Como você pode dizer que o ser humano não passa por sofrimentos se eu tenho dor, preocupação, angústia, saudades, etc. Possuo um monte de coisas que são sofredoras. Como, então, você afirma que o ser humano não sofre’? Vou tentar explicar a minha informação.

O ser humano não vive nada. O que ele possui é a ideia de viver, o que é algo bem diferente um do outro. Vamos falar disso ...

Viver, vivenciar – vou falar de um jeito humano para que possam entender – é sentir na própria pele o que está acontecendo. O ser humano sofreria se sentisse na própria pele a angústia, o medo, o sofrimento. Se ele tivesse essas vivências, se sentisse essas coisas na própria pele, eu diria que ele sofre.

Só que ele não tem essa vivência, não sente isso na própria pele, mas tem apenas a ideia de estar vivendo essas coisas. Vou explicar isso ...

Digamos que você, o ser humano, está angustiado por alguma coisa. Você acredita naquela angústia e nos momentos que lhe levaram a viver aquilo. Só que nada disso é real. Todas essas coisas são apenas uma história criada pela mente. O que existe é a ideia de existir e não a própria existência.

Porque digo isso? Porque afirmo que aquilo que é vivido como sofrimento pelo ser humano não existe no mundo físico, mas apenas no mundo mental? Porque muitos outros seres humanos podem passar por situações análogas sem a angústia, sem o sofrimento.

É fundamentado neste aspecto que afirmo que o ser humano não sofre. Ele não está vivendo na própria pele, mundo externo, o sofrimento, mas apenas no seu mundo interno. É dentro da mente de cada um que existe o sofrimento e por isso é que digo que ele não existe realmente, mas sim a ideia de estar sofrendo aquilo.

Sei que não estou me fazendo muito claro nesta conversa, mas é muito difícil explicar o que quero lhes dizer. Isso acontece justamente por causa da questão da não identificação. Como não conseguem se libertar da identidade humana, se identificam com o que a mente cria e afirma que é real. Só que aquilo com o qual se identificam não é real, mas apenas uma ideia de existir.

Aquilo que o ser espiritual, por conta da identificação com a personalidade humana, vive como real, não o é: trata-se apenas de uma criação mental. A angústia, o sofrimento e o medo por qualquer coisa neste mundo forma criados pela mente e não algo que esteja presente no momento de agora.

Volto a dizer: sei que está complicado para vocês me entenderem, acompanharem meu raciocínio. Isso acontece porque realmente esta questão é complicada de falar com vocês. O que estou querendo dizer, resumidamente, é que os sofrimentos que o ser humano vivencia não são reais: eles são apenas a ideia de estar sofrendo.

Essa ideia é tratada como real por conta de identificação que o espírito possui com a personalidade humana durante a encarnação. Se o ser universal não tivesse esta identificação, não teria naquele momento aquele sofrimento. Veria que aquilo era apenas uma ideia gerada pela mente, uma criação mental que não era real, mas que com a junção com força de maya tornou-se uma realidade.

Se o ser estivesse não identificado não viveria assim. Portanto, não se deve ter pena do ser humano e nem é necessário ter pena dele, pois ele não sofre, não vive o sofrimento. Esta forma d viver só acontece porque o espírito está identificado com um gerador de consciência que vive a ideia de estar sofrendo. Este é o primeiro detalhe.

103. O fim

Quanto ao fim do ser humano, isso causar dor, é outra coisa que precisamos conversar. Isso porque a questão de acabar, ter um fim, é algo interessante e que por isso precisamos abordar neste momento.

O que é o fim de alguma coisa? É o término, a extinção. Quando algo chega ao fim acabou, não existe mais.

A partir disso, pergunto: quando o ser humano pode ter a consciência de que acabou, que chegou ao fim? Nunca. Você, o ser humano, nunca terá a consciência de que foi extinto. Vou explicar o que estou afirmando.

Enquanto não acabar, não pode haver a consciência de ter acabado. Depois que acabar, que foi extinto, o ser humano não tem mais consciência. Como, então, pode haver a consciência de ter acabado? Sendo assim, o ser humano jamais terá consciência de ter sido extinto, pois para que ela existisse, não poderia ter havido antes a extinção.

Chegamos, então, a mais uma questão que a pessoa que me questiona neste momento coloca na sua pergunta: a pena pela extinção do ser humano. Para que ter pena do ser humano pelo fato dele ser extinto um dia, se ele não sofrerá por isso, já que não terá a consciência de ter sido extinto? Antes de chegar ao fim, o ser humano não sofre esta dor e nem poderá sofrer depois que isso acontecer, pois não terá mais consciência de nada.

Essa questão do fim é muito importante. O fim é o término de tudo e quando alguma coisa acaba, é extinta, não mais existe e é como se nunca tivesse existido. Isso vale, por exemplo, para relacionamentos amorosos, afetivos.

Digamos que você seja amigo de uma pessoa e de repente a amizade acabe. No momento seguinte que ela acabar, já acabou, e por isso posso dizer que não existe mais e é como se nunca tivesse existido. Sendo assim, porque sofrer por algo que nunca existiu?

O problema é que acham que depois de extinto alguma coisa pode continuar existindo. Isso é impossível. Se a amizade acabou, ela encerrou, não existe mais. Sei que é difícil entender o que estou dizendo. Por isso vou tentar explicar melhor.

Quando uma amizade acaba, o que passa a existir é a lembrança dela ter existido e não mais ela. Por causa da identificação com a mente, a lembrança passa a ser vivida como algo real, algo que afirma que a amizade existiu, mas ela não existe mais.

A partir daí você poderia me perguntar: ‘esta amizade não pode voltar’? Eu digo que não. O que pode haver é uma nova amizade com a mesma pessoa, mas não mais aquela.

Repare numa coisa. A amizade que você tem com uma pessoa existe dentro de um determinado nível, é formada por alguns parâmetros. O que a levou a acabar, seja em que aspecto for, causará marcas que fará com que a nova amizade, se ela viver, seja vivenciada em um nível diferente, com aspectos diferentes. Por isso, não será a mesma amizade que voltará, mas uma nova.

Isso é importante para compreenderem a questão do fim. Fim é fim: depois que algo acaba, não existe mais. Por isso é preciso que trate como nunca houvesse existido para que não deixe que aquilo que acabou traga reflexos para a vida, para o momento atual.

Isso serve inclusive para a morte. Quantos têm medo da morte? Mas, se ela é o fim, se não há nada depois dela, se marca a extinção do ser humano e se este só terá a consciência de que morreu depois da morte, não haverá a consciência de que morreu. Para que, então, ter medo dela?

Vocês tem medo de morrer e ficar se lamentando por causa disso. Garanto que isso jamais acontecerá. Isso porque se a morte for o fim, você jamais saberá que morreu. Mas, se existir vida depois da morte, para que lamentar ter perdido a vida? Se souber que morreu, você não está morto.

A perfeita compreensão sobre o fim é necessária porque sem ela existe sofrimento. O fim é o ponto final e nada existe depois. Portanto, depois que o fim chegar, nada pode afetar mais aquilo.

Enfim, está aí mais uma forma de ter o poder da felicidade. Se a sua mente cria durante o trabalho de não identificação com ela a pena do ser humano, não tenha isso. Não tenha pena do sofrimento que esse ser possa ter, pois ele possui apenas a ideia de sofrer, mas não sofre verdadeiramente. Também não tenha pena pelo fato dele acabar um dia, porque quando isso acontecer nem lembrará do dia que existiu.

Portanto, fique tranquilo. Continue buscando a sua não identificação e a sua mente novamente lançar a ideia que hoje lhe aflige, diga: ‘não preciso ter pena do ser humano’.

Com as graças de Deus.