Ensinamentos de Krishna - Resumo

Os yogues

25 - Assim que certos yogues há que oferecem sacrifícios aos devas, e outros há que oferecem seu próprio ser como oblação no fogo de Brahman. (Bhagavad Gita – Capítulo IV)

Devas são os espíritos da natureza humana. Yogue é o que pratica o caminho da elevação.

Os religiosos humanos não fazem promessas ou rezam para santos para alcançar os seus desejos individualistas? Esses são um tipo de yogues: eles estão num caminho de busca da espiritualidade, pois são religiosos. Mas, para os verdadeiros Yogues, aqueles que entregam o seu ser para o fogo sagrado, esse queimar é missionário.

O fogo sagrado que Krishna se refere é o amor. Aqueles que sacrificam seus próprios desejos ao amor a Deus através do amor universal, ou seja, aceitam receber um tiro sem acusar, ser caluniado, escarnecido, crucificado sem revidar, estes alcançam a união com Deus.

26 - Alguns oferecem a própria sensação auditiva ou mesmo outras sensações mais, na oblação do fogo de quem controla (e que é o Ser interior); outros ainda, no entanto, oferecem o som, e outros, por fim, oferecem os objetos sensibilizadores como oblação no fogo dos sentidos. (idem)

Alguns oferecem a própria sensação auditiva, ou seja, renunciam a querer compreender os acontecimentos e objetos da forma que a mente lhe propõe. Eles renunciam a compreensão de algumas palavras... Alguns yogues, ou seja, seres caminhando no sentido da elevação espiritual, renunciam a sua intencionalidade ao escutar palavras não se sentindo ofendido, caluniado, atacado.

27 - Há os que oferecem todas as ações dos sentidos e as funções das forças vitais (ou "prânas") no fogo da Yoga do auto controle (ou união), encendido pela Sabedoria. (idem)

É através da sabedoria que estes vivem sem intencionalidade.

28 - Alguns oferecem a riqueza como sacrifício; outros oferecem a austeridade e a Yoga, enquanto há os que consideram como "yajnas" (ou sacrifícios) o voto austero, o estudo das Escrituras e a sabedoria. (idem)

Austeros são aqueles que aceitam a viver uma vida em que poderiam ter mais, mas não têm para desta forma servir a Deus. E outros yogues meditam muito, vivem em meditação para servir a Deus e não para ganhar nada... Outros se entregam sem intencionalidade ao estudar os livros sagrados.

É isso que Krishna está dizendo aqui...

29 - Alguns há que praticam o "prânayâma" (ou o controle dos pranas ou forças vitais), oferecendo "prâna" (ou a exalação) no "apana" (ou na inalação) e "apana" no "prâna", depois de restringir a saída e a entrada dessas forças. Enquanto outros que regulam sua alimentação, oferecem as funções dos "prânas" nos "prânas" ou os sentidos. (Depois de dominar um dos cinco "prâ¬nas", o yogue passa a concebê-los como um fogo sagrado, e nes¬se oferece os quatro prânas restantes como oblação. O yogue per¬feito controla os cinco prânas ou o corpo psicofísico, que é o que chamamos corpo e alma humana). (idem)

O yogue perfeito é o que controla tudo. Por isso existem diversos caminhos, diversas yogas ou ações espirituais de entrega a Deus, mas elas somente serão completas quando o yogue dominar tudo.

Portanto, não adianta você fazer, por exemplo, a caridade doando a austeridade a Deus ('deixo de comprar pra mim pra comprar para o pobre') sem que tenha dominado também a mente. É válido praticar a caridade? É yoga? Sim, é um caminho para a elevação, mas ainda não é o caminho completo. Ele só estará completo quando houver o domínio de todos os sentidos, inclusive a mente.

30 e 31 - Todos eles conhecem o "yajna" que consome seus pecados; e eles, absorvendo o néctar, o resto da oblação, alcançam o Eterno Brahmán. (Qualquer ação cumprida inegoisticamente ou cumprida como uma oferta a Deus purifica a mente do homem e o liberta.) Aquele que não cumpre com "yajna", este mesmo mundo não lhe pertence e muito menos o outro; ó tu, o melhor dos Kurus!, compreende isso. (idem)

Absorvendo o néctar, o resto da oblação. Já explicamos aqui o que é se alimentar do resto da ação: é aquele que recebe o que vem da ação sem esperar mais nada. Este ser participa da ação sem intencionalidade. Se ganhar ótimo, se perder, ótimo. Qualquer ação feita sem egoísmo, ou seja, sem individualismo ou intencionalidade purifica o Espírito. Qualquer ação...

Portanto, não existem determinadas ações que lhe purifica ou outras que lhe mancha: qualquer ação pode purificar. O que vai decidir se a ação lhe purifica ou mancha, na verdade, é a sua intencionalidade, ou seja, e o controle sobre o sentido e o controle sobre a mente.

Este mesmo mundo não lhe pertence significa que os acontecimentos não satisfazem. O mundo não lhe pertence, ou seja, o yogue tem a consciência que as coisas não vão acontecer do jeito que quer.

Destes ensinamentos podemos tirar uma grande compreensão: quem age com intencionalidade perde neste mundo e no próximo. Perde neste mundo porque não vai ficar satisfeito e nem vai entrar no próximo, porque ainda não descobriu como encontrar a verdadeira felicidade. Compreenda que não adianta querer lutar para que a sua intencionalidade ocorra, para que as coisas aconteçam do jeito que você quer, porque isso não vai lhe trazer resultado positivo. Agora, se abrir mão da intencionalidade, se viver a vida de uma forma equânime, se controlar a sua mente para não desejar mais nada, vai ganhar esse mundo e o próximo.

Na verdade abrir mão da intencionalidade é não esperar resultado algum, ou seja, tanto faz acontecer ou não. Ter desejos, você sempre os terá, pois sua mente funciona dentro de um padrão chamado humano. O problema é desejar o desejo...

Portanto, precisamos compreender que a luta, o controle da mente, não coisa é para a próxima vida: é para essa vida. Não existe outra forma de se viver feliz se não for abrindo mão da intencionalidade. Enquanto você não abrir mão, não estará vivendo, mas sobrevivendo, contando o tempo para a morte, pois viver é estar feliz. Quando não se está feliz, se está morto.

Sendo assim, não adianta correr atrás da satisfação desse mundo. Por mais que corra atrás da satisfação desse mundo jamais ela acontecerá.