Já conversamos sobre duas coisas necessárias para poder alcançar o estado de espírito de conciliar-se com o outro: aceitar perder e destruir a fé como hoje ela é exercida. Vamos para a terceira.
O primeiro estudo que realizamos foi ‘O Evangelho Segundo Tomé”. Nele, a primeira coisa que vimos é que não existe certo e errado, bom ou mau. Desde o início do nosso primeiro estudo já falamos sobre isso ...
Como vive o ser humanizado? O tempo inteiro perdido dentro do binômio bom e mau, certo e errado. Mesmo quem já nos ouviu de cabo a rabo ainda hoje vive preso a isso. Porque isso acontece? Porque não aceitam perder ...
Todo aquele ou aquilo que pode fazer o ser humanizado perder alguma coisa é mau e está errado. Pode ser pai, mãe, irmão, amigo íntimo. Se o seu irmão quiser uma parte maior da herança do seu pai, mesmo que saiba que ele precisa mais, você não cederá. Além disso, dirá que ele é mau.
Portanto, se estamos conversando em tomar uma postura de conciliação e para isso é preciso começar a trabalhar a ideia de perder, para poder ganhar a felicidade, a terceira coisa necessária a ser feita é acabar com a ideia do bem e do mau.
O ser humanizado precisa acabar com a existência disso na sua vida, pois senão jamais aceitará perder e com isso jamais viverá em conciliação. Quem ainda separa o mundo em bom e mau, em Deus e o diabo, obsessores, capetas, etc., quem ainda mantém viva a ideia de que existem pessoas para lhe fazer mal, isso quer dizer que não aceita perder.
Por isso, é preciso que mostremos às pessoas que não existe mau. O que existe?
Participante: a Perfeição.
Você ainda está me falando em teoria. Quero a prática. Nela, o que é que existe, se não existe o bem e o mau? Vou tentar lhe ajudar a compreender ...
Vamos supor que chegue em casa e não tenha janta. Ela lhe explica: ‘hoje não deu para fazer’... Com certeza a chamará de mau. Dirá que você trabalhou o dia inteiro para sustenta-la, que chegou cansado e ainda por cima tem que sair para comprar janta ou passar fome. Dirá que isso é maldade, ou seja, transformará a ela e a sua ação como mau.
Agora, porque será que ela se tornou má, porque não fez?
Participante: porque não fez ...
Volto a dizer: de nada adianta ficarmos conversando teoricamente, usando ensinamentos; é preciso alcançar a prática para que o que estamos conversando seja compreendido.
Porque, na prática, ela não fez a sua janta?
Participante: porque estava cansada, porque tinha outras coisas para fazer, porque não estava bem ...
Exatamente. Observando, então, a prática da situação, podemos entender que a sua esposa não fez a janta não por ser má, mas porque teve razões para isso. Dessa compreensão tiro a resposta à minha pergunta: a pessoa má é aquela que possui razões diferentes da sua.
Aquela pessoa apenas possui verdades e razões diferentes da sua, mas isso não quer dizer que seja má: apenas pensa diferente. Você chamou a outra de má porque a ação praticada por ela ofendeu o que você queria, ou seja, atrapalhou a sua vitória. Só que ela não agiu de determinada forma por maldade, propositalmente para lhe deixar passar fome: ela, não importa quais foram, teve seus motivos para isso.
A sua esposa pode ter passado mal durante o dia, pode ter encontrado mais dificuldade, pode, até, ter querido lhe fazer uma surpresa saindo para jantarem. Ela pode ter motivos que justifiquem não ter feito a janta e que podem ser aceitos por você, mas só entrará em conciliação com ela, se conscientizar-se disso. Se ainda achar que ela representa o mau, que quis intencionalmente lhe deixar com fome, com certeza criará uma rusga. Quando você aceita que a mente a chame de má, que agiu para feri-lo, acabará aceitando todos os argumentos que a mente gerará para demonstrar a insatisfação por não ter conseguido o que se queria.