Conciliação

A guerra diária

Na verdade, vocês não vivem em sociedade. Cada um vive a sua vida isolado do outro. Ou melhor: cada um vive ao lado do próximo, mas quando se aproxima dele é para dominá-lo.

A característica do ser humanizado é ser dominador. Para que? Para poder ganhar. É por isso que é preciso trabalhar em si essas coisas que conversamos hoje.

É preciso esquecer as histórias dos livros e filmes onde existe o mocinho e o bandido. Isso não existe. São apenas pessoas diferentes procurando ganhar individualmente. E, antes que chegue a hora de estourar uma briga ou guerra entre vocês, é preciso trabalhar pela conciliação.

Parece que estou falando algo extremamente nova. Algo extremamente sábio, mas isso não é real. Há quantos anos estão casados?

Participante: três anos ...

Será que nesse tempo ainda não descobriram que cada um precisa abrir mão de algumas vontades para poderem viver juntos? Claro que sim. Se sabem que precisam agir assim para poder conviver com o cônjuge, porque não usam a mesma coisa para conviver com os outros?

Portanto, o que estou falando não é novo, mas plenamente conhecido por vocês. É algo destituído de qualquer sabedoria imensa. Não se trata de novidade, mas algo que é do conhecimento de todos.

Quem convive com alguém, pai com filho, mãe com filha, marido com esposa, aprende desde cedo que é preciso abrir mão em determinados momentos, insistir em outros, deixar o próximo ganhar em determinados momentos. Se não age assim na sua vida, o casamento ou a paz familiar acabam. Se essas relações acabam, imagine as que você tem com estranhos.

Aí está o problema. É por causa desse querer ganhar sempre que os seres humanizados vivem constantemente em guerra uns com os outros. Para quem não busca a vida em conciliação, todas as demais pessoas do planeta são inimigos em potenciais, pois pensam diferente, querem resultados diferentes, possuem vontades não semelhantes às suas.

É assim que o ser humanizado existe, vive. A primeira coisa que faz quando conhece uma pessoa a analisa. Ou melhor: as julga. Forma conceitos que para você definem aquela pessoa. Só uma pergunta: que lei usam para julgar o próximo? Os seus: suas verdades, suas posses, paixões e desejos.

O resultado final dessa análise é o que? Conclusões que dizem, para você, quem é ele. Todo ser humanizado sabe perfeitamente como é aquele com quem se relaciona. Como ela não é aquilo, isso chama-se preconceito.

Por isso esse é o primeiro trabalho que precisa ser realizado. Durante os próximos sete mil anos acontecerão muitos outros que precisarão ser feitos, mas esse é o primeiro. Por isso, está na hora de se dedicarem ao trabalho coexistir.

Isso é preciso porque, do jeito que vai, cada um tendo uma variedade maior de verdades, paixões, compromissos, desejos, a sociedade está sendo completamente fragmentada. Pegue qualquer gênero de assunto de hoje: música, pintura, política, costumes, ciência e verá a fragmentação que está acontecendo. Dentro da ciência, por exemplo, antes haviam os médicos. Hoje isso não mais existe. O que há são especialistas nas mais diversas áreas.

O médico antigo, aquele que tratava de todas as doenças acabou. Hoje é uma variedade tão grande de especialidades que acho que tem um para cuidar de um dedo e outra especialidade que cuida de outro. O pior: cada um dos especialistas consideram-se melhores dos que os outros. Cada um acha que possui a verdade maior que a dos outros porque crê que a especialização lhe faz melhor.

Continue analisando: a música. Antes tínhamos três ou quatro ritmos de música. Hoje são centenas e um próprio tipo já começa a se fragmentar em subtipos. Os que gostam de um deles acham que a música deles é melhor do que a de outro ritmo. Não é assim que o mundo vive?

Quando um se acha melhor, o outro vira o que? Mal, ruim, filho do diabo. Não é assim que tratam o funk? Porque? Porque consideram que a música que eles gostam é boa.

Veja como vivem o tempo inteiro presos ao bem e o mau? Não estou dizendo que tenha que ouvir ritmos que não gosta, se não gosta, não ouça, mas compreenda que o outro não é mau: ele apenas gosta de um ritmo diferente.