O nobre caminho

O despertar

“Monge, existem dois extremos que devem ser evitados por um monge. Quais são eles?

O primeiro é a devoção aos desejos sensuais e ao prazer resultante dos desejos sensuais. Esse tipo de devoção é inferior, vulgar, indigno, mundano e não traz benefícios. O segundo é a devoção à austeridade extremada. Esta devoção é dolorosa, indigna e não traz benefícios.” (Samyutta Nikaya V 420).

Depois que Sidarta alcançou a sua elevação, retornou ao lugar onde vivia com os monges em aprendizado. Lá chegando o Buda proferiu um discurso (sutta) sobre o que lhe havia acontecido. Esse discurso (“Girando a Roda do Dharma”) começa justamente com a informação de Sidarta aos seus amigos de que o caminho que leva ao despertar total e ao Nirvana (reino do céu) é o Caminho do Meio.

Esse caminho foi definido pelo Buda como aquele que existe entre a austeridade extremada e a devoção aos desejos sensuais. Antes de continuarmos nosso estudo é preciso relembrar alguns aspectos para que não nos prendamos à letra fria do texto.

Buda nunca escreveu nenhum dos seus discursos. Eles foram proferidos e guardados de memória por aqueles que ouviram. Mesmo esses não escreveram os discursos, mas foram transmitindo a outros através de gerações até que, quase duzentos anos após o desencarne de Sidarta apenas um monge conhecia os discursos de Buda.

Para preservar os ensinamentos no original os monges pediram àquele que conhecia os discursos para que os escrevesse. Inicialmente o monge relutou muito, mas, finalmente, decidiu escrevê-los. Assim as palavras que compõem os discursos de Buda só foram escritas duzentos anos após a sua morte.

No entanto, essas palavras escritas duzentos anos após o desencarne do Buda foram perdidas. Em um acidente no local onde se guardavam os papiros que continham os discursos budistas tudo se perdeu. Novamente os discursos foram reescritos depois de séculos de proferidas.

Mesmo que as mesmas palavras de Buda tivessem sido mantidas, nem assim poderíamos utilizá-las no sentido restrito. É preciso lembrar que o povo daquela época, incluindo o próprio Sidarta, não possuía o conhecimento que hoje a humanidade já compreende. Todo ensinamento budista afeta diretamente o processo raciocínio da inteligência.

A moderna medicina ainda se declara incapaz de compreender perfeitamente esse processo. A psicologia, ciência que trata do raciocínio, já compreende alguns aspectos, mas esse conhecimento é extremamente recente. Portanto, Sidarta ao passar seus ensinamentos tateava no escuro, pois conhecia a essência dos raciocínios, mas não possuía nenhum conhecimento do funcionamento da inteligência.

Dessa forma, aprisionar-se ás palavras do Buda é manter individualismo. O que deve ser compreendido no ensinamento do Buda é a essência dele e não se ater firmemente a palavras.