Ensinamentos de Krishna - Resumo

O caminho da ação

O bendito senhor disse:

03 - Ó impecável, como já te disse, neste mundo dois são os ca¬minhos a seguir: ou o Sendeiro da Sabedoria (ou Jnana-Yoga), que é para os meditativos, ou o Sendeiro da Ação Impessoal (ou Karma-Yoga), que é para os ativos. (Bhagavad Gita – Capítulo III)

Krishna responde que existem dois caminhos: um caminho para aqueles que levam a vida na meditação – se isolam e lá, com eles mesmos conseguem se elevar a Deus – e um caminho para aqueles que vivenciam sua vida normalmente, para aqueles que levam uma vida normal.

Hoje muito poucos são escolhidos para o primeiro caminho. A maioria – pela época atual, pelos carmas presentes – precisa vivenciar o segundo caminho, ou seja, viver em coletividade. Esta forma de vivência Krishna chama de Karma-Yoga, ou a Ação sem Intenção.

Então, segundo o bendito Senhor existe dois caminhos que levam a Deus: a vida afastada da coletividade e a vida na coletividade, desde que vivenciada sem intenções.

04 - Um homem não consegue libertar-se da ação só porque resolve não cumpri-La; tampouco pela simples renúncia à ação se logra a perfeição. (A verdadeira não-ação é aquela em que, ao cumprir-se, todo e qualquer motivo pessoal ou intenção está ausente) (idem)

Agora o bendito senhor está falando de atos, ações. Ele diz: o homem jamais poderá deixar de fazer alguma coisa. Isto é o que fala primeiramente. Vamos estudar esta afirmação...

Você não pode fugir das ações pré-programadas para sua existência; não pode se negar a praticar atos que estejam escritos no seu livro da sua vida. Tal compreensão deve nos levar a entender que as pessoas não fazem e nem podem fazer nada errado. Ninguém jamais poderá deixar de fazer aquilo que esteja fazendo ou que fez. Isso porque quando alguém age está sempre cumprindo a determinação de Deus para aquela ação.

Agora, ao fazer a ação, o ser humano pode anexar a ela uma paixão, positiva ou negativa. Paixão positiva é o prazer: ‘eu gostei’ do que fiz’, ‘eu queria fazer isso’, ‘eu fiz o que acho certo’, ‘eu fiz o que eu acho bonito’, ‘eu estou me sentindo bem porque fiz aquilo’. A paixão negativa é a culpa: ‘eu não devia ter feito aquilo’, ‘eu não gostei do que fiz’, ‘eu acho que aquilo não deveria ter sido feito’.

Todas as duas não levam a Deus, não são caminhos para a universalidade. Isso porque as duas levam o ser humano à dependência do seu querer, do seu achar, da sua paixão.

O sendeiro que leva a Deus, a Yoga perfeita acontece quando o ser humano vivencia a ação sem intencionalidade, sem paixão: ‘estou fazendo porque estou fazendo’, ‘não estou fazendo porque gosto, porque quero’ ou ‘não estou fazendo porque não gosto, porque não quero’. Esta forma de vivenciar a ação leva ao universalismo porque este ser está perfeitamente sintonizado com aquele momento, com o Universo.

Não importa o que você está fazendo. O que importa é que você está fazendo aquilo. Isso é uma verdade fria. Agora se desta ação universal você tirar um lucro próprio, seja ele positivo ou negativo, seja um prazer ou a culpa, não participou daquela ação dentro do sendeiro da elevação espiritual.

Participante: Eu não entendo. Se os atos são dados de acordo com os nossos sentimentos, de repente, por causa de um determinado sentimento, pode acontecer um que não é o melhor pra gente apenas como conseqüência de um sentimento?

Todo ato que lhe acontece, mesmo que você não goste, é o melhor sempre.

Quando você fala ‘não é o melhor pra mim’ está dizendo que Deus está lhe punindo. Isso só poderia acontecer se Ele não fosse o amor sublime.

Participante: Eu não diria punindo, diria que estaria dando de acordo com meu merecimento por causa do sentimento?

Dar o que não é melhor para você só poderia acontecer se Deus não fosse o amor sublime. Suponhamos que tenha tido raiva e o Pai tenha redirecionado a sua raiva para aquela outra pessoa. Vamos estudar este exemplo.

Você teve raiva porque escolheu raiva. Deus direcionou seu pensamento para que esta raiva fosse aplicada para aquela pessoa. A partir daí você pratica um ato raivoso contra ela. Está certo o meu raciocínio dentro do que tenho dito?

Participante: Sim...

Acontece que se Deus direcionou a raiva que você escolheu ter para aquela determinada pessoa é porque ela precisava e merecia recebê-la. Ele não agiu desta forma porque aquela pessoa era a que estava mais perto ou por qualquer outro motivo. Portanto, apesar de você ter escolhido raiva, este acontecimento não ocorreu isoladamente dentro do Universo. Deus usou o que você escolheu para dar a outra pessoa o que ela precisava e merecia. Assim, a sua escolha sentimental, apesar de aparentemente errada ajudou Deus na obra geral: o campo de provas para evolução dos espíritos.

Para que prejudicasse os outros com sua escolha sentimental seria necessário que eles não merecessem receber aquilo. Neste caso, eles estariam sendo injustiçados e Deus, neste caso, não poderia mais ser a Justiça Perfeita...

Participante: E a questão da culpa?

Não existe culpa. O que existe é uma situação que você não gosta e por isso se culpa. A culpa pela prática do ato não existe: ela só acontece dentro de você porque não gostou do que fez...

Participante: Por causa desse sentimento de culpa eu deixo de fazer atos para outras pessoas?

Não necessariamente. O que você deixa é de ser protagonista de outros atos, fundamentados em outros sentimentos. Passa a ser protagonista apenas daqueles que precisam e merecem receber a sua culpa...

 

05 - Em realidade, ninguém fica inativo um instante sequer, porque os gunas ou as qualidades nascidas da "Prakriti" (mente-ma¬téria ou natureza psicofísica) obrigam o homem a agir sem cessar. (idem)

Isso porque nós só pensamos que ação é ato. Mas, o pensamento também é um ato.

Portanto, ninguém fica inativo. Você está agindo a cada segundo, pois está tendo um pensamento. Este pensamento é uma ação e a ação de pensar é o seu momento de trabalho na busca da elevação espiritual. A cada pensamento tem que lutar contra as idéias que lhe surgem para tirar delas todas as intencionalidades: tudo o que acha, todo o que quer, tudo o que gosta.

Neste trecho, portanto, Krishna está dizendo claramente: ação não é só ato, mas também o pensar é ação. Diz mais: os seres humanos precisam agir no pensamento e não na atitude. Esta é a Karma-Yoga, este é o caminho da ação...

Viver é um trabalho mental, não um trabalho físico. Os seres humanos para considerarem-se vivos precisam agir sobre os pensamentos, lutando para retirar deles a intencionalidade.

06 - Aquele que pensa ter controlado externamente os órgãos da ação, mas que mentalmente continua preso aos objetos (pensados) dos sentidos, esse é um hipócrita. (idem)

O que o bendito Senhor diz neste texto é o seguinte: eu não deixo de dar um tapa em outra pessoa porque me acho mais fraco e tenho medo da reação dele ou porque eu acho que não devo bater na cara dos outros; deixo de bater apenas porque deixei de bater. Todo discurso que dá razões aos atos são apenas intencionalidades de cada um e não realidades...

Mas, Krishna chama os que acreditam nos motivos porque praticaram ou não as ações (pensam ter controlado externamente os órgãos da ação) de hipócritas. Por que isso? Porque se alguém tiver a intenção de dar um tapa em alguém, já o fez, mesmo que não pratique o ato. Na verdade, esse ensinamento de Krishna é igual ao de Cristo: só o desejar já é pecado...

Além disso, é preciso observar neste texto mais uma coisa: novamente o Bendito Senhor volta a dizer que os seres humanos não devem se preocupar com os atos externos, pois eles não são passíveis de controle. Ao contrário, orienta os seus seguidores para que se preocupem todo tempo em estar observar seus atos mentais para ver se eles contêm intencionalidades.

Viver para aquele que busca a elevação espiritual é isso: estar constantemente vigilante ao pensamento para libertar-se das intencionalidades que ele contém.

07 - Mas, ó Arjuna!, aquele que, graças a um reto discernimento mental, controla seus sentidos e sem ligar-se nem identificar-se se¬gue a Karma-Yoga (caminho da ação impessoal que conduz à Libertação), esse é estimado. (idem)

Tanto faz você colocar a mão no cocô quanto colocar no mel; tanto faz olhar uma coisa que gosta como uma que não gosta. É assim que vive aquele que vivencia a Karma-Yoga. Por isso o Bendito Senhor ensina: controle os seus sentidos para olhar tudo sem gostar ou desgostar de alguma coisa; controle seu sentido para usar o que gosta e o que não gosta sem alteração de ânimo. Quem vive assim é o apreciado por Krishna, é aquele que está no caminho da elevação, pois está tirando toda intencionalidade do seu pensamento, está tirando todo individualismo fabricado pelas verdades desse mundo.

Outro dia alguns vegetarianos me disseram assim: coitada da vaca, ela morre e tem sofrimento só pra nos alimentar... Eu respondi você quer matar quem, a planta? O processo é o mesmo: a morte de um para a subsistência do outro...

Ah! Matando a planta você também mata o oxigênio que lhe mantém a cada segundo.

08 - Cumpre, pois, as ações justas e obrigatórias, pois a ação é superior à inação. Se não agisses, nem sequer a existência corpo¬ral seria possível. (idem)

Então, é preciso que você aja e cumpra as ações justas e obrigatórias. Qual a ação justa e obrigatória que precisa cumprir? Xingar quem estiver xingando, bater em quem estiver batendo ou matar quem estiver matando, como no caso de Arjuna...

Participante: Aí é que está... Como vou cumprir se não sou eu que faço?

Vivenciando a ação sem se culpar ou gozá-la. Cumpre sua ação de uma forma justa, ou seja, faça o que está fazendo, que é o que tem que ser feito, mas não acrescente a essa ação uma satisfação individual ou uma culpabilidade - uma paixão.

Toda ação do ser humano é justa porque cada um serve de instrumento para dar ao próximo o que ele precisa e merece (Deus dá a cada um de acordo com suas obras). Portanto, faça o que você fizer contra quem fizer, a ação foi justa. Sua ação é obrigatória porque você foi o instrumento apto a praticar aquilo. Se uma pessoa precisa receber uma ação raivosa, quem pode praticar essa ação? Aquele que tem raiva. Sendo assim, você que está com raiva é a pessoa que é obrigada a praticar aquela ação. Na verdade, são carmas entrelaçados: um está no padrão vibracional necessário para praticar a ação que o outro, por carma, precisa receber.

Então, toda ação é justa e obrigatória: justa porque é o merecimento de cada um e obrigatória porque quem pratica está no padrão vibracional que o leva a ser instrumento do carma do outro.

Saiba de uma coisa: se os carmas não estiverem relacionados, jamais alguém praticará nem receberá a ação...