O poder da felicidade

Normas e obrigações

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Normas e obrigações

58. O que causa o sofrimento

A pergunta agora é longa. A pessoa que me faz fala em organização, em organizar as coisas. Fala em reações àqueles que se apegam a ter que organizar e a convivência deles com aqueles que não são organizados. Essa pessoa me pergunta como posso ajudar a pessoas que vivem desse jeito, ou seja, como posso ajudar a pessoas que imaginam que é necessário se organizar alguma coisa e que cobram dos outros a organização que acha que as coisas deve ter.

Essa é uma questão que precisamos conversar. Primeiro para que possamos entender o problema e em segundo para poder saber libertar-se das reações que a mente cria. Vamos fazer isso agora.

Primeiro detalhe: a vida humana é um teatro onde não existe certo nem errado, mas só o perfeito. Qual a diferença entre certo e perfeito? Certas são as coisas que estão de acordo com o padrão individual de cada um. Se você tem um padrão de organização, as coisas certas são aquelas que se submetem a este padrão de organização. Erradas são, portanto, as coisas que não estão de acordo com este padrão. Perfeitas são as coisas como estão, independente dos padrões de organização de qualquer um.

Essa distinção é precisa ficar bem clara, pois ao observá-la observamos que o certo e o errado não dependem do que está acontecendo fora de si, externamente. Vou dar um exemplo para entendermos isso. Se dentro do seu padrão de organização das coisas o copo tem um lugar para estar, o certo e o errado não depende de onde o copo esteja, mas sim do aquele que você acha que deveria estar.

Repare que quando falei que certo é aquilo que atende seus padrões e errado é aquilo que não atende estes padrões. Portanto, o certo e errado não tem nada a ver com o lugar que a coisa está ou com o que está acontecendo, mas é ditado pelo padrão individual de cada um. É ele que gera o certo e errado e não o lugar do copo.

Isso é algo fundamental de entender. Porque? Porque muitas vezes as pessoas como acham que o certo e o errado dependem do lugar que o copo esteja, atacará o local onde ele está. Só que o local onde se encontra qualquer objeto não traz problema algum para aquele que quer ser feliz. O que leva a este a sofrer é o padrão individual que possui que determina o certo e o errado.

Sem entender de onde surge o certo e o errado, o ser humano deixa de atacar o padrão que possui internamente, acaba ficando contrariado. Desta contrariedade surge, então, as diversas possibilidades de formações mentais que levam ao sofrimento. Portanto, o trabalho daquele que quer ser feliz deve ser realizado sobre o padrão individual e não sobre o lugar que o copo está, ou sobre o que é para ser feito ou não.

59. A perfeição

Descoberto o local onde se deve trabalhar para não sofrer com as coisas fora do lugar, pergunto: que trabalho devemos fazer? Vamos ver isso.

Muitos acham que este trabalho é deixar de ter padrões. Muitos acham que para se libertar do certo e errado precisa exterminar em si o lugar certo para alguma coisa estar. Só que isso é impossível.

Quem tem padrão não é você, o ser, mas a mente. Como você não é capaz de alterar qualquer coisa que está na mente, não pode mudar os padrões que a personalidade humana possui.

Você não é capaz de mudar aquilo que acha. Sei que muitos me dirão que já mudaram de opinião muitas vezes. Para esses digo: não foi você quem mudou, mas sim a sua mente. Quando fez isso, gerou a ideia de que foi você quem fez, mas foi ela que realizou. Mais, ela ainda disse assim: ‘viu como você é o gostosão? Viu como é um ser capaz de mudar as coisas’? Pois é, ela mudou, disse que foi você e ainda lhe deu a ideia de ter o poder de mudar as coisas deste mundo e você caiu.

O trabalho de ser feliz não depende de mudar ou de ter lugar certo. Ele depende de aceitar a perfeição. Vou explicar isso.

Uma pessoa que tenha na sua mente um padrão que saiba onde se deve colocar um copo ou como se deve arrumar uma casa, não importa, se quer ser feliz de verdade e poder alcançar este estado de espírito deve trabalhar a vivência do perfeito, da perfeição e não o lugar do copo ou a sua regra.

Alcançar a felicidade, neste caso, não se trata de deixar de saber onde se coloca o copo, mas aceitar onde ele está. Não se trata de achar que o lugar onde ele foi colocado é o certo, mas saber que ele estar naquele lugar é perfeito.

Aquele que tem o poder da felicidade não interfere na mente, ou seja, não muda o lugar onde o copo deve estar, mas se liberta da força mental, do poder mental, da coerção mental que afirma que deveria estar em outro lugar. Para atingir esta liberdade é preciso conhecer a perfeição, o perfeito.

O que é a perfeição? É o mundo como está. Já expliquei isso em outras ocasiões. Mesmo a ciência de vocês fala que o universo é perfeito, que o equilíbrio entre todas as coisas universais é perfeito. Mais: diz que este equilíbrio não pode ser alterado.

Isso é algo que precisam ter em mente. Se o copo está num determinado lugar, aquilo é a perfeição, aquele é o ponto de equilíbrio do universo. Se neste momento o copo foi para outro lugar, aquele novo lugar, neste momento, é o local onde o copo alcança o seu ponto de equilíbrio com o universo.

O que estou querendo dizer é que não importa o que está acontecendo, como as coisas estão, o que está sendo feito, o que está acontecendo é o equilíbrio do universo. É isso que aquele que detém o poder da felicidade sabe, compreende. Mais: sabe que se todas as coisas no universo estão equilibradas, a sua regra íntima, o seu padrão de certo, como faz parte do universo, também faz parte do equilíbrio universal.

60. É preciso agir a cada momento

O que seria do verde se todos gostassem do amarelo? Cada um tem que gostar de uma cor para que exista um equilíbrio universal. Se todos deixassem de gostar das cores que gostam, o universo todo tenderia para um só lugar. Com isso, estaria desequilibrado.

Por isso, aquele que quer ser feliz, sabe que não tem que se mudar, que não tem que deixar de achar certo, mas precisa viver a perfeição: ‘eu gostaria que o copo estivesse em outro lugar, mas ele está aqui agora’. Essa é a única linha de raciocínio que pode levar o ser a ser feliz: aceitar o lugar onde as coisas estão, entender que tudo tem que ser do jeito que é.

Se este ser ainda achar que existe um lugar certo para o copo estar e que por não estar lá agora ele é errado, sofrerá. Quando isso acontecer, todo o resto das ideias que me é colocado pela pessoa na pergunta, surgirão naturalmente como decorrência do não ter aceitado a perfeição como perfeita.

Esse é o caminho para a felicidade neste caso. De nada adianta querer se libertar do que vem posteriormente o momento onde se aceitou a imperfeição, porque a prisão à mente já existiu. O caminho para ser feliz é estar atento e viver o momento presente como perfeito. É isso que temos batido muito nestas conversas com o nome de choque da realidade.

O mundo é perfeito do jeito que está. Isso é algo que aquele que detém o poder da felicidade precisa saber. Esse mundo perfeito inclui o que está contrário ao que o ser quer, mas também inclui o querer dele.

Portanto, aquele que é feliz não deixa de querer o que quer, mas aceita a perfeição com que o mundo se apresenta. Este é o caminho. Digo isso porque quando o ser aceita a perfeição, qualquer argumento sobre o que está acontecendo acaba, morre, perde o sentido.

É isso que precisam entender. Esta é uma das coisas que temos buscado neste trabalho: atacar a raiz ao invés de ficar podando a árvore. De nada adianta querer eliminar as reações, as regras, querer mudar-se interiormente no sentido de mente, processo mental. A ação que leva à felicidade deve acontecer além da mente.

O que leva à felicidade é a ação da convivência com o mundo que é gerado pela própria mente, sem querer se afastar de nada que existe, nem mesmo do que a mente cria e pode levar ao sofrimento. Na verdade o sonho utópico de vocês é conseguir que nunca mais a mente gere sofrimento. Só que isso é impossível.

A vida é formada de presentes, de aqui e agora. São presentes que se sucedem a outros agoras que não veem nem do futuro e nem vão para o passado: eles simplesmente acabam. Por isso, não há como você provocar um mudança neste momento que criará algo para o momento seguinte. É em cada momento, em cada presente que você precisa trabalhar para aprender a viver a vida que lhe é apresentada, seja no mundo exterior assim como nos valores internos de cada um.

61. Sendo feliz

Portanto, a sua pergunta é longa, traz uma série de suposições, ou seja, contém uma complexidade que não faz parte da vida nem do processo de ser feliz. Este processo é simples: ‘eu estou chorando, estou, e daí’? ‘Não gostei daquele pessoa, não gostei. E daí’? ‘Acho que aquela pessoa não devia fazer o que fez. Acho, e daí’? Este é o processo que leva o ser a viver a felicidade, pouco importando o que está acontecendo e o que está sendo gerado pela mente.

A felicidade não depende apenas de se libertar do que lhe é apresentado pelas percepções, mas também pela liberdade da coerção, da força que está embutida nas formações mentais. Não se trata de se libertar das próprias formações, mas sim da coerção, da força de real que ela traz em si. Com isso, a sua mente dirá tudo o que criar e você não viverá a sua criação.

Acho que esta resposta que dei fica um pouco difícil de ser compreendida para aqueles que ainda sonham que são eles que pensam, que agem, que mudam, enquanto que na verdade, a felicidade é tomada em gotas enquanto a mente age, vive e sente.

Que você esteja em paz