Reforma íntima - Textos - Volume 09

Montando o livro da vida

Antes do nascimento o espírito está no Universo com a consciência espiritual.

Não pretendemos ainda aqui definir essa consciência, pois existem diversos graus de evolução ou de consciência espiritual. O ser pode estar no Universo e ter a consciência dentro das visões católicas, protestantes ou espíritas ou qualquer outra de “céu”, ou seja, com as verdades que são atribuídas por estas religiões para aquele “lugar”.

É preciso a compreensão que não existe uma única consciência espiritual, nem uma que seja mais elevada ou absoluta. O espírito fora da carne ainda não é puro e é por isto que ele precisa encarnar. Sua consciência, ou entendimento sobre as coisas, ainda possui valores individualistas. No entanto, esse ser conhece a necessidade de reformar-se e o processo reencarnatório.

A consciência espiritual que leva o ser a escrever a futura encarnação é conseguida sem a alteração da sua crença individual. Não há necessidade de se transformar em “espírita” para poder reencarnar, mas todos os seres, independentes de suas crenças alcançarão este momento. Os católicos, mesmo adormecidos aguardando o juízo final, escreverão seu livro da vida, bem como o evangélico, ao lado do Senhor, também o fará. Cada um, à sua forma, escreve o livro da vida.

Então, o ser está fora da matéria carnal e já tem a consciência de que precisa encarnar-se para poder reformar-se. Este é o momento que ele inicia a construção do seu livro da vida ou identidade que vivenciará para reformar-se. Ele recebe a missão, a chance, a prova de vir para a carne para alcançar a elevação espiritual.

A primeira compreensão que devemos ter ao falar de livro da vida é que ele não se trata de um “papel escrito”. Ele não possui nada de material, nem muito menos “escrita”. O livro da vida é energia.

O destino do espírito encarnado é escrito com energias (ondas eletromagnéticas) que são lançadas ao Universo pelo ser. Todos os acontecimentos, o corpo, a personalidade e o nome são codificados energeticamente e lançados pelo espírito no Universo.

Apenas para fazermos uma figura compreensível aos seres humanos com relação a escrever com energias, podemos dizer que o livro da vida é um raciocínio que o ser tem sobre sua vida futura que se expande pelo Universo. Estas ondas ficam gravadas no Universo, ou seja, compõem tudo o que existe.

Este conhecimento é importante para desmistificarmos esta questão. No “céu” não existe uma filmadora gravando a vida do ser humano para que, depois do desencarne, o ser universal possa rever suas atitudes. Tudo que acontece é codificado em ondas eletromagnéticas que passam a pertencer ao Universo e estão à disposição de Deus e daqueles que, consciente do universalismo, possam ter acesso.

Tudo que acontece impregna no Universo e o livro da vida não poderia ser diferente. Não é preciso aparato material para viver no universal, mas apenas a capacidade de se conectar às coisas sem forma.

Assim, todos os seres fazem o livro da vida, acreditando ou não na reencarnação ou mesmo na existência dele ou não. Escrever o livro da vida é uma atitude inconsciente que o espírito executa por ordem de Deus independente de suas crenças. Esse ato nada mais é do que compor raciocínios que formem a identidade material daquela encarnação.

O espírito de qualquer crença executa esse raciocínio e impregna o universo com esse “pensamento” deixando gravado no todo o caminho escolhido por ele mesmo para a evolução espiritual. Tudo isto sem materialidade alguma (livro, escrita), mas apenas uma realização espiritual que se estampa no Universo.

Por isso muitas crenças afirmam que todos os atos do ser humano estão impregnados na aura. Esse elemento (aura) faz parte do Universo e, portanto, ali também estão registradas todas as emissões feitas pelo ser universal.

Outro aspecto importante quando falamos de construir o livro da vida é de que ele não “gasta tempo”. Quando definimos o Universo como algo que é criado e se extingue para novamente ser recriado, temos que definitivamente abandonar o conceito tempo.

Não existe lapso temporal nas coisas porque quando o presente vai para o passado ele acaba e o futuro que ainda não chegou também não existe. Desta forma, o Universo não dispõe de tempo, mas se consiste em criações diversas.

Essa compreensão ainda está longe do conhecimento humano que está preso aos conceitos tempo e espaço, mas é realidade para o mundo espiritual. Nosso objetivo aqui não é estudá-lo, mas apenas acabar com a imagem que o espírito necessita de determinados espaços de tempo para fazer o livro da vida.

Dessa forma, pela contagem de tempo do planeta Terra, o livro da vida pode ser feito em segundos ou pode se prolongar por “muito tempo”. Essa medição temporal, na verdade, existe apenas na ilusão do ser que está programando a sua existência. Ele pode imaginar que está programando a sua encarnação há cinqüenta anos, mas para os que estão encarnados, pode não ter passado um segundo.

Como tudo o que acontece no Universo a escrita do livro da vida é comandada por Deus e ocorrerá no momento que o Pai souber que o ser está preparado para a nova encarnação. A ilusão quer de tempo ou espaço, são apenas criações individuais do ser.

Isso é fundamental para não ficarmos presos a regras. Não há um “tempo” definido para que o ser reencarne após o último desencarne. Todo o Universo existe a partir do “merecimento” individual e o processo reencarnatório também é guiado pelo carma.

Para o ser universalista não existe tempo e por isso ele não “perde tempo”. Vivenciando cada presente no seu momento se universaliza e não se preocupa com o passado nem com o futuro. Entretanto, para aqueles que ainda estão presos ao individualismo a ilusão do tempo auxilia na preparação da encarnação.

Para muitos acreditar que está programando a vida por um longo período é importante. Esta crença poderá levá-lo à, inconscientemente, valorizar mais a oportunidade que está recebendo. Todos os “artifícios” (ilusões) são sempre utilizados por Deus para auxiliar o espírito durante a sua encarnação.

Obter a chance de uma nova reencarnação é merecimento do espírito. Ele precisa estar apto para enfrentar a vida carnal novamente, pois o Pai não colocaria conscientemente seu filho em uma situação onde pudesse se prejudicar. Ele dá a cada um o justo e necessário sempre baseado no amor.

Portanto, o livro da vida só começará a ser escrito (“raciocinado” inconscientemente pelo ser universal desencarnado) quando isso lhe trouxer benefícios espirituais e ele só será colocado em prática (ocorrerá o nascimento) quando disso resultar uma oportunidade segura de evolução.

Já falamos dos dois atributos da ilusão humana com relação ao livro da vida: forma e tempo. Vimos que o ser quando no Universo fora da matéria carnal, consciente ou inconscientemente, cria a sua própria encarnação através de “raciocínios” (emissão de energias) que se impregnam no Universo. Vimos também que esse processo dura pela contagem terrestre o tempo imaginário que o espírito precisar para melhor se preparar para a encarnação. Agora vamos falar da definição dos acontecimentos ou da escrita em si.

Inicialmente o livro da vida é escrito pela sua essência e não pelos acontecimentos.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?” “Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”. (Livro dos Espíritos).

Quando o Espírito da Verdade fala em gênero de provas está se referindo à essência que existe em cada acontecimento. Um furto, por exemplo, é um acontecimento motivado por uma essência: ganância, desejo, etc. Portanto, são por estes individualismos que o espírito inicia o planejamento da existência carnal futura, para só depois escolher os acontecimentos.

O ser, livre da consciência material, tem conhecimento dos seus individualismos e os reconhece como contrários aos elementos básicos do Universo: espiritualismo, ecumenismo e universalismo. Sabe que precisa reformar este aspecto de sua consciência e pede acontecimentos onde eles estejam presentes para que possa superar essa tendência.

O livro da vida, portanto, começa a ser escrito a partir das tendências individualistas presentes na consciência do ser universal e não a partir de acontecimentos. Esses serão escolhidos posteriormente sempre vinculados aos individualismos que serão combatidos.

“260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?” “Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contacto com gente dada à prática de roubar”. (Livro dos Espíritos).

O fato de ter nascido em um meio que leve o espírito a praticar roubos não pode servir de desculpas para tais atos. Ele já pediu para nascer em tal meio porque precisava vencer a sua tendência individualista de querer a posse das coisas. É a essência dos acontecimentos que já falamos no item “Livre arbítrio”.

O espírito pediu este “caminho” (nascer no meio de “gente de má vida”) exatamente para provar que era capaz de não ceder às tentações. A definição do seu “meio” de vida não se deu ao mero acaso, por motivos fortuitos ou por escolha do espírito visando gozar a vida carnal, mas sim porque esse “cenário” da vida dispunha de todos os elementos necessários para a sua elevação espiritual.

Ele pede para nascer nesse meio não porque gosta da vida de bandido, mas para vencer o individualismo. Portanto, esse é o caminho que ele próprio escolheu para a vitória sobre o mundo. Mas, como vencer o individualismo, como resistir às tentações?

Para que o espírito possa vencer suas provas é preciso que ele viva com fé (confiança e entrega absoluta à Deus), e que cumpra o mandamento da Sua lei: amá-Lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. A vida vivenciada com esses parâmetros é uma “felicidade eterna”, uma felicidade incondicional.

Quem se entrega e confia plenamente em um Pai Justo e Amoroso não precisa sofrer. Quem está sempre conectado no Amor divino não encontra motivos para sofrimento. Quem ama ao próximo como a si mesmo jamais sofrerá nas aparentes “perdas”. Esse é o objetivo da “vida”.

Desta forma, podemos afirmar que tudo o que o ser pede antes da encarnação é para provar a Deus de que é capaz de manter a sua felicidade em qualquer circunstância, em qualquer acontecimento da vida.

Escrevendo acontecimentos onde exista a essência do individualismo invejoso, o espírito está afirmando que irá tentar provar a Deus que é capaz de amá-Lo acima do seu desejo individualista (cobiça, desejo, vontade). Pedindo situações com essência raivosa na verdade está afirmando que provará ao Pai que é capaz de amá-Lo acima do aparente ferimento e da injustiça criados por sua tendência individualista.

Os acontecimentos da vida carnal sempre refletirão a luta de um individualismo buscando universalizar-se (harmonizar-se com o todo) através do amor. Essa é a temática da peça “Divina comédia humana” ou como preferem chamar os seres humanos: “minha vida”.

Portanto, escrever o livro da vida nada mais é do que escolher o tema da prova e redigir as perguntas para que o Sublime Professor possa fazê-las dentro da “sala de aula”. Deus é tão justo e amoroso que permite o aluno escolher o tema das provas e mais ainda, escrever as perguntas que serão feitas.

Dessa forma podemos afirmar que escrever o livro da vida é escolher as “batalhas” que o espírito enfrentará, ou seja, que individualismo ele combaterá durante essa determinada encarnação. Ele não baseia o seu livro da vida em atos (acontecimentos), mas preocupa-se em propor essências individualistas que precisa alterar.

Isso ocorre quando o ser universal, em pleno gozo da sua consciência espiritual, encontra-se apto para “guerrear” contra o seu individualismo. Nesse momento ele é induzido a “raciocinar” formatando o livro da vida, ou destino, da próxima encarnação.