O nobre caminho

Fala correta

Todo o processo até aqui analisado é intrínseco do ser. A concentração correta, a atenção correta, o pensamento correto e a compreensão correta são processo que o ser não exterioriza. No entanto, são esses processos que comandaram a exteriorização que o ser fará para viver. Esta exteriorização pode se dar de duas formas: através da fala ou da prática de atos físicos. Portanto, a fala e o ato físico dependem de todo o processo anteriormente analisado.

Ninguém fala o que quer, mas verbaliza o “recado” que Deus quer enviar para a outra pessoa. Tudo o que um ser ouve lhe é direcionado por Deus como auxílio para a sua evolução.

Quando alguém verbaliza conceitos que firam o do ser, é Deus avisando que esse possui aqueles conceitos e que precisa eliminá-los para alcançar a felicidade. Toda fala é “escrita” por Deus e não pelo outro ser, portanto não existe erro no que ele está falando.

Quando uma pessoa aponta, por exemplo, um defeito no ser (“você é gordo”) não se trata de uma crítica que aquela pessoa faz de livre arbítrio, mas Deus conversando com o Seu filho. Deus está dizendo: “você se sente gordo e enquanto se sentir dessa forma não será feliz”. Tudo o que o ser ouve deve servir para reflexão interna sobre as compreensões que ele tem.

Mesmo que não admita publicamente, dentro de si o ser tem o conceito de que é gordo. Mas, como vimos, não existe gordo ou magro, mas um corpo projetado pelo próprio ser como o melhor instrumento de sua evolução. Quando o ser cria o conceito de que seu volume corporal não é bom, Deus coloca alguém para lhe dizer isso, com a intenção de que o outro acabe com esse sentimento.

O ser que ouve, se estiver com a atenção plena correta e com a concentração correta, ouvirá essas palavras e conseguirá desenvolver o raciocínio correto (“é Deus falando comigo”). Essa forma de proceder lhe levará a compreensão correta e, com isso, buscará acabar com aquele conceito. Se o ser não estiver trilhando o Nobre Caminho Óctuplo, sentir-se-á acusado e reagirá negativamente contra o outro.

Dentro da compreensão que já alcançamos da existência do ser nesse estudo do Nobre Caminho Óctuplo, podemos afirmar que toda fala é “escrita” por Deus. Se Deus é a Inteligência Suprema, podemos afirmar que não existe “fala incorreta”, pois tudo é minuciosamente planejado pelo Pai. O que seria, então, dentro do Nobre Caminho Óctuplo a “fala correta”?

A fala correta não se traduz em palavras corretas, mas em sentimentos corretos. Tudo o que tiver que ser dito Deus comandará para que seja dito, mas o sentimento com que as palavras serão proferidas depende exclusivamente do ser. As palavras que sejam proferidas com sentimentos positivos constituirão uma fala correta, mas todas que surgirem de sentimentos negativos serão falas incorretas.

“O que entra pela boca vai para o estômago e depois sai do corpo. Mas o que sai da boca vem do coração. É isso que faz alguém ficar impuro. Porque é do coração que vêm os maus pensamentos que levam ao crime, ao adultério e às outras coisas imorais. São os maus pensamentos que levam também a pessoa a roubar, mentir e caluniar. São essas coisas que fazem alguém ficar impuro, mas comer sem lavar as mãos não torna ninguém impuro” (Mateus – 15,17-20)

Um ser pode falar para outro que ele está gordo com jocosidade, soberba, raiva, poder ou outros sentimentos negativos, mas pode também falar naturalmente, sem acusações. Essa última forma de exprimir-se é dada por Deus para aqueles que têm compaixão como sentimento básico de vida. As palavras, em todos os casos poderão ser as mesmas, mas o sentido da comunicação será diferente.

A fala correta sempre exprime uma compaixão. Esse sentimento é mal compreendido pelos seres humanos. Ter compaixão de uma pessoa não se traduz em sofrer junto com o próximo, mas ter a consciência do sofrimento que está sentindo sem sofrer com ele. O ser que utiliza compaixão não sofre porque os outros estão nutrindo sofrimentos, mas mantém a sua felicidade para poder transmiti-la ao próximo.

Assim, quando Deus comanda um ser que possua a compaixão para falar com o próximo, não está atacando-o, ferindo-o, mas tendo a consciência do sofrimento que ele passa por causa dos conceitos individualistas que possui. É o Amor Sublime em ação.

Comentamos nessa obra que os seres escolhem os sentimentos para reagir aos acontecimentos da vida. Esse processo existe no chamado inconsciente do ser encarnado. O ser humano não tem consciência da escolha dos sentimentos que faz antes que o pensamento seja dado por Deus. Acredita que esse sentimento surja depois que o raciocínio foi executado, mas isso não é verdade. A escolha sentimental é que baseia o pensamento e não ao contrário.

Dessa forma, fica muito difícil para o ser encarnado descobrir que sentimentos estão sendo utilizados. Uma pessoa diz que “briga” com o outro para emagrecer porque gosta dele, quer o seu bem. Pensa que toma essa atitude por sentimentos positivos, mas isso não é realidade.

Quem quer impor ao próximo determinadas posturas nunca quer o bem da pessoa, mas sim impor o seu conceito a ela. Ele está utilizando o sentimento do poder, da crítica, de querer ser a causa primária das coisas daquele ser. Na verdade, quem age dessa forma o faz para se contentar, ficar feliz, alcançar a fama e receber elogios: é um prisioneiro das Quatro Âncoras. Amar uma pessoa é dar a ela a liberdade de ser quem quiser, amá-la da forma que ela é e não impor realidades para que o amor exista.

Portanto, a fala correta (verbalização com sentimentos positivos) não é uma conquista fácil para o ser humano, mas virá da constante utilização da atenção e concentração correta, alcançando um pensamento correto que leve a uma compreensão correta da existência espiritual. Enquanto o ser não atingir a plenitude das outras etapas ainda pronunciará palavras incorretas.

Esse é um mundo de proas e não um local onde a perfeição deve ser alcançada. Todo o processo de evolução do ser é dado em “perfeições” que se tornarão mais perfeitas a cada dia. Assim, a própria fala do ser tem que passar pelo processo de atenção, concentração, pensamento e compreensão corretos para que não gere desânimos na caminhada do ser.

Se um ser ainda não consegue conscientizar o sentimento antes da fala, pode conscientizá-lo posteriormente. Deus dará a fala e o ser poderá transformá-la em correta não se culpando com o que fala, mesmo que utilize nessa ação sentimentos negativos.

Ninguém fala o que o quer, mas as palavras são formadas por Deus de acordo com o merecimento e necessidade do próximo. Assim, não importa o que o ser diga nem o sentimento que utilizou, tudo o que sair de sua boca será justo e amoroso para quem está ouvindo, mesmo que ele não compreenda dessa forma.

Aquele que se culpa por palavras ou sentimentos que teve, permanecerá no círculo incorreto de existência. Ao culpar-se (sentimento negativo) afundará ainda mais em sofrimentos que influenciarão no próximo comando de Deus. Se, ao invés de culpar-se, o ser atingir a compreensão correta (“fui instrumento de Deus”) estará positivando o negativo que utilizou e, no próximo instante, merecerá uma atitude diferente.

 Portanto, a fala correta é proferir palavras sem culpas, atingindo a compreensão correta de que foi um instrumento de Deus para o próximo.