O nobre caminho

Interdependência

A questão da interdependência é fácil de compreender. Apesar de imaginar-se isolado do mundo que vive, o ser encarnado é dependente de todas as outras coisas para existir. Quando não vive com esta consciência o ser humanizado acaba colocando em perigo sua própria existência.

Como haver uma existência material sem o oxigênio que move o corpo físico? Impossível. Uma das maiores fontes desse elemento são os vegetais, que aprisionam o gás carbônico e liberam o oxigênio dentro do processo fotossíntese. Portanto, o espírito encarnado precisa do mundo vegetal para existir. Só que existem seres, aqueles que não estão atentos a interdependência das coisas, que promovem o desmatamento indiscriminado. Agem dessa forma porque, além de estarem desatentos à interdependência entre ele e os vegetais, não estão atentos também a impermanência do oxigênio.

Como disse a questão da impermanência é fácil de ser compreendida, mas há algo mais que devemos abordar neste momento: as qualidades da vida espiritual regem a vida universal como um todo e por isso não podem ser observadas individualmente. Por isso afirmo: a não observação da interdependência das coisas é gerada por uma visão permanente das coisas. Aquele que sabe que tudo se transforma constantemente compreende a interdependência que existe entre ele e os elementos do universo para a transformação global, já aquele que vive como se as coisas fossem permanentes, não consegue vivenciar a interdependência entre as coisas deste mundo.

Os pais que não acompanham a evolução do filho porque não imaginam que dependem deles para serem felizes. Acreditam que o que os fará feliz será garantir o futuro do filho e não viver cada uma das suas etapas. Uma criança dentro de casa pode trazer harmonia se o ser observar a sua paz, felicidade e simplicidade. Essa observação será um lenitivo para o estresse da vida diária. Não é só o filho que precisa dos pais, mas eles também dependem da criança.

O pai que se relaciona austeramente com o seu filho receberá austeridade desse: isso nos ensina a quinta lembrança do Buda. Os pais ausentes receberão ausências, pois não compreenderam a interdependência, ou seja, que todos dependem de todos. Colocam-se, por suas verdades individuais (‘sou o pai, tenho o poder’) que geram a independência na existência, como seres superiores e, por isso, não aproveitam o que os filhos têm para lhes dar.

Toda reação dos outros e dos objetos do universo são reflexos de ações anteriores do ser. Aquele que vive independentemente do universo não consegue compreender essa verdade universal da existência do ser.

O inimigo quando age não é causa independente, mas efeito de um ato anterior do ser. Aquele que aponta os individualismos (eu sei) através de ações contrárias vive um efeito da existência da verdade relativa dentro dele. No entanto, não age dessa forma por quer, mas auxiliando Deus na construção da Sua obra, serve de intermediário Dele para mostrar os conceitos individualizados que existem no outro.

Na verdade o inimigo é um amigo, pois através da sua ação mostra os conceitos que o ser utiliza no sentido individual para que possam ser universalizados. Por isso Jesus afirma:

“Vocês sabem o que foi dito: Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelo que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu” (Mateus – 5,43-44)

O ser é dependente do seu inimigo, mas o inimigo também é dependente dele. Para o espírito encarnado o inimigo é um enviado de Deus que mostra o que deverá universalizar. Para o inimigo, este momento é uma oportunidade de realizar uma das tarefas da sua encarnação: auxiliar a Deus. Assim, de ações em ações os dois seres contribuem mutuamente para a elevação espiritual que, no final das contas, é a obra de Deus.

No entanto, o ser não consegue ver essa interdependência entre ele e o seu inimigo porque vive individualmente, dentro de suas verdades relativas. Para alterar essas verdades é necessário compreender que tudo no universo é impermanente. Enquanto o outro ser for permanentemente um inimigo, não conseguirá auferir os lucros que a interdependência pode lhe trazer para a sua existência espiritual.