Reforma íntima - Textos - Volume 09

Inimigo

Todo aquele que não coaduna das mesmas idéias de um ser humano, é tratado por este como um inimigo. São inimigos políticos, ideológicos, religiosos, que vivem “enfrentando” o ser humano no sentido de alterar seus conceitos (“achar”).

O inimigo se interpõe às verdades estabelecidas pelo ser humano. Ele debate, argumenta, às vezes até ofende e impõem pontos de vista que o espírito não acredita como “verdade”. Se a esposa quer a casa arrumada e o marido não faz, ele se torna um “inimigo”. Se um ser humano quer fazer alguma coisa e o outro não aceita aquilo como verdade, passa a ser tratado como um “inimigo”. Para que o outro possa ser um “amigo” é necessário que ele tenha o mesmo pensamento, ou seja, as mesmas verdades que o ser humano acredita.

Quando surge a figura do inimigo, o ser humano perde logo a sua felicidade. Encontra mágoa, ressentimentos, raiva e até ódio por aquele outro que não quer compartilhar das mesmas idéias dele. Por isto é preciso “atacar” antes de ser “atacado”. Este ataque não precisa ser necessariamente em atos, mas pode ser também em pensamento.

Caso aquele ser humano já esteja rotulado como inimigo nada do que ele disser será “ouvido”. Todas as suas idéias e mensagens não sofrerão análise para se conhecer o conteúdo, mas, como diz o ditado popular, entrarão por um ouvido e sairão pelo outro. As idéias políticas, ideológicas ou religiosas não serão absorvidas pelo ser humano, pois ele já é “conhecido” daquela pessoa.

Entretanto, Jesus disse que devíamos a amar a todos e não apenas àqueles que satisfazem nossos conceitos. Afirmou ainda: “Abraçar um amigo é fácil, quero ver cumprimentar um inimigo”. Todos os seres humanos são espíritos irmãos em evolução e por isso Deus ama a cada um individualmente com a mesma intensidade. É por isto que o Mestre afirmou que devemos amar a todos e não apenas aqueles que nos satisfazem.

O amigo é considerado especial porque ele coaduna com a idéia do outro ser humano. O inimigo surge do poder que o espírito imagina que têm de julgar o que é “bom” ou “mal”, “certo” ou “errado”. O ser humano recebe este “rótulo” simplesmente porque tem valores diferentes do outro. Porém, quem disse que o contestador é que está “certo” e não o que pensa diferente?

A finalidade da encarnação é alcançar a elevação espiritual. Isto só ocorrerá quando o espírito abrir mão do poder de conhecer as “verdades” do Universo que imagina que adquiriu. Como saber que estas “verdades” são exclusivamente dele sem ser contestada por outras?

A reforma íntima necessita desta exposição. Aquele que a busca através do isolamento de outros seres humanos não consegue saber que eliminou suas “verdades”, pois não as expõe a outras. Como imaginar que se aceita todas as cores se a única que se conhece é o branco? Somente quando o espírito conhecer e admirar todas as cores poderá dizer que não tem conceitos com relação às cores.

O inimigo, aquele que possui “verdades” diferentes em qualquer assunto, é, portanto, um emissário de Deus não para combater as suas “verdades”, mas para mostrar que você ainda possui “verdades”.

Quando o marido deixa a casa desarrumada, Deus está mostrando a esposa que ela ainda possui conceitos do que é arrumado ou desarrumado. Quando alguém quer fazer uma coisa diferente, é Deus dirigindo-o para mostrar que você ainda tem querer. Ele não é seu inimigo, mas sim o seu verdadeiro amigo.

É amigo porque mostra ao ser humano o que ele precisa mudar, o que precisa reformar para abrir mão do poder de “saber o bem e o mal”. Ao expor os seus conceitos, o inimigo não está visando impor-se, mas é dirigido por Deus para mostrar ao ser humano o que ele precisa mudar. Aquele que é considerado amigo, ou seja, não expõe seus conceitos, não auxilia na reforma íntima. Pelo contrário: atrasa esta conquista, pois consolida o poder que o ser humano imagina que tem.

Como objetivo da vida carnal é promover a reforma íntima, podemos afirmar que o espírito veio à matéria carnal não para viver com os amigos, mas sim buscar conviver com os seus inimigos, aprendendo aquilo que deve eliminar. Apenas para ser saudado como o “sábio”, o “perfeito”, Deus não precisaria ter todo o “trabalho” de criar esta densidade de matéria.

O espírito veio à matéria carnal porque queria ter o poder para se tornar um Deus e vive dentro deste preceito. Procura juntar-se àqueles que lhe saúdam como o perfeito e consegue, assim, suprir seus conceitos.

Visto sob este aspecto, o inimigo passa a ser o professor, o amigo do outro ser humano. Ele não vem para ensinar uma nova forma de proceder, mas sim para mostrar que o ser humano ainda tem leis que determinam formas padrões de procedimentos. A esposa não precisa se tornar desleixada, mas não pode acusar o marido de ser. Você não precisa ir pelo caminho que o outro siga, mas não pode julga-lo por ir.

Para amar o inimigo é preciso alcançar a liberdade absoluta, aquela que não imponha a ninguém normas de proceder.