O poder da felicidade

Inebriado pela vitória

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Inebriado pela vitória

53. O egoísmo dos outros

Na pergunta que me é feita desta vez, alguém diz que cada vez mais se aproxima do controle da felicidade, do conhecimento das amas que pode utilizar para viver dentro deste estado de espírito, mais se torna difícil vencer os obstáculos. Ao mesmo tempo, para ele parece mais fácil ver a ação do egoísmo da mente nos outros, ver os outros deixarem se levar pelo egoísmo. Por este motivo, essa pessoa me pergunta: porque isso acontece? A resposta é muito simples e vamos conversar agora sobre este tema.

Primeiro detalhe. Todo sofrimento nasce de um egoísmo não vencido, dominado, do qual não foi se libertado. Esse é um detalhe fundamental. É a característica egoísta da mente que leva a justificação do viver um sofrimento. Quando um ser aceita o que ela cria, aceita a ideia que ele cria, a consciência que ela gera e que é fundamentada no egoísmo, o ser sofre, vive o sofrimento que ela criou.

O que quer dizer isso? Vamos tentar entender a questão do egoísmo de uma vez por toda para que possamos dar, então, a resposta à essa pessoa.

Egoísmo é pensar, viver, ter valores para acontecimentos da vida formados a partir de um eu, a partir das verdades individuais de cada um, e com o objetivo que este eu se sobreponha ao próximo. Isso é egoísmo. Viver isso, ou seja, viver o mundo a partir dos seus critérios e verdades esperando que eles sejam aceitos por todos, é viver em egoísmo.

Quando se repara a vivência desta forma em outras pessoas é simples, é fácil. Por que isso? Porque a mente aponta as falhas dos outros, aponta a aplicação de verdades para poder ganhar do outro.

Só que a mente como é egoísta por natureza, não consegue fazer isso, ou seja, aplica, mostrar isso, de uma forma sem intenções. Ela mostra o que os outros fazem, mas faz isso apontando a existência de um erro. Com isso, não está pensando em ajudar ninguém, nem a si mesmo, mas apenas obter uma vitória para si mesma.

Acontece que a questão de querer obter uma vitória individual não é claramente exposta pelo pensamento. A mente camufla, e por isso já disse que ela é hipócrita, esses pensamentos em atitudes que são consideradas louváveis: ‘eu posso ajudar o outro porque sei onde ele está caindo’.

Acreditando nisso, você sai pelo mundo imaginando ter conhecimento sobre os outros e julgando a todos que aparecem na sua frente. Pior: ao viver desta forma, ainda acha que está fazendo algo de muito bom para os outros. Só que na verdade a mente está querendo a sua própria vitória. Por entrar na dela, por acreditar no que diz, você acaba vivendo a mesma intencionalidade. É deste conhecimento que começa a nossa resposta.

54. A sensação da vitória

É muito mais fácil achar os erros dos outros. Concordo, é sim, mas cuidado porque o que não vê é que está sendo egoísta, pensando a partir de si mesmo e não ajudando os outros, como pensa que está fazendo.

Agora, o que o fato de aceitar o julgamento que a mente faz dos outros traz para você que quer viver feliz e não consegue? A sensação da vitória.

Como é colocado na pergunta, o ser imagina que sabe que como os outros agem, imagina que vê eles caírem frente ao egoísmo. Essa sensação de poder, de saber, de conhecer, de poder resolver o problema para o outro é que ele não combate em si mesmo. Faz isso porque acha que é grande coisa conhecer o erro dos outros. Por não combater essas sensações, cada vez mais se vicia na sensação da vitória e cada vez mais sai pelo mundo vendo problemas nos outros e dizendo que está ajudando-os.

Viciado na sensação da vitória, torna-se mais difícil aceitar que está errado sobre o que pensa dos outros. Por isso sofre cada dia mais.

Isso está bem claro na sua pergunta quando diz que não consegue sair do seu próprio sofrimento. Isso acontece porque ao aceitar que a mente aponte egoísmo nos outros, cada vez mais se enraíza no seu. Com isso, torna-se difícil sair de suas próprias situações de contrariedades.

O que não vê é que sua mente está muito mais ligada na busca da vitória individual. Por isso, quando chega a sua hora de viver contrariedades, por estar preso à personalidade humana, não consegue se libertar do seu próprio egoísmo e com isso sofre.

Veja como o trabalho de observar o egoísmo dos outros, que aparentemente lhe ajudaria, acaba atrapalhando. Iludido, enrolado, enganado pela mente, ao acreditar no egoísmo dos outros que ela aponta, acha que está aprendendo, que está se preparando para enfrentar os seus próprios. Imagina que sabe, que conhece, que tem o poder de ajudar os outros, mas não repara que a cada vez se prende mais à sensação da vitória. O que não vê é que quanto mais se bebe desta sensação, mais se quer beber.

O ser humanizado que se deixa inebriar por esta sensação cada vez mais quer tê-la. Por isso, a cada dia fica mais difícil conter o seu próprio egoísmo que não aceita perder, que não aceita que os outros discordem.

55. Aja em si mesmo

A busca da felicidade, deter o poder de ser feliz, passa por aceitar não ganhar. Como pode fazer isso se vive o tempo inteiro inebriado pelo ganhar, pelo poder de ter acertado e saber o que os outros estão fazendo?

É esse o detalhe que está por trás da sua pergunta. A sua dificuldade em não conseguir agir em si mesmo, apesar de ter conhecimentos sobre o funcionamento da mente e apesar de ver o caminho para os outros, nasce justamente da sua sensação de poder, de vencer.

Liberte-se um pouco de ficar observando os outros. Quando a mente disser que o outro está errando no caminho que ele tomou, diga a ela: ‘não sei’. O problema é que ao invés disso, você acaba aceitando o que a mente diz saber e ver. Com isso, passa também a saber e a ver.

Quando ela disser que alguém está fazendo o que o ensinamento disse para não fazer, responda: ‘não sei’. Se não agir assim, estará aceitando implicitamente a busca da vitória individual e quando chegar a hora da mente usar deste mesma intenção nos seus próprios egoísmos se tornará mais difícil vencê-la.

Não se deixe contaminar com as verdades que a mente cria sobre o que os outros estão fazendo. Não se contamine com as certezas que a personalidade humana gera e com isso lhe dá o papel de psicólogo do mundo. Lhe dou esta orientação porque deixando-se levar pela ação do seu ego as suas próprias provações se tornarão mais difíceis. No momento de agir em si mesmo não aceitará não ganhar porque está inebriado pela sensação de vitória.

Ninguém sabe, ninguém conhece o caminho da felicidade, a não ser no próprio momento em que surge a caminhada. Não existem mapas, roteiros. A cada momento é preciso caminhar para frente e só pode fazer a sua própria caminhada.

Você não pode antever a caminhada do outro. Não pode saber qual a caminhada melhor para o próximo. Na verdade, pode sim: dentro da missão de cada um, dentro do objetivo da encarnação de auxiliar a Deus na obra geral. Só que quando isso acontecer, ou seja, quando falar alguma coisa ao outro, não deixe a mente lhe dizer que você acertou, que agiu corretamente, que aquele estava realmente errado.

Você não sabe nada da vida: tudo é declarado pela mente. No entanto, imagina ter a certeza do que o outro está vivendo. Por isso lhe digo que quando a sua mente lhe disser alguma coisa a este respeito, pode ter a certeza de que ela está lhe enganado, está lhe prendendo à sensação da vitória para futuramente lhe levar ao sofrimento.

É essa certeza que está atrapalhando a sua própria caminhada. Por isso, estou lhe dando esta orientação que imagino que vai auxiliar também outras pessoas.

Por mais que ache que compreendeu o que precisa ser feito à partir dos ensinamentos, aja apenas junto a si mesmo. Se a vida leva-lo a falar para alguém, se ela acontecer aplicando o ensinamento em outro, jamais tenha a certeza de que acertou, jamais tenha a convicção que o problema é aquele que está apontando. Deixando-se levar por estas convicções se inebria com a sensação da vitória e com isso torna-se mais difícil o seu próprio caminhar.