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Impermanência dos códigos e normas

Quarto ponto de nossa conversa. A razão quer alguma coisa, acredita em alguma coisa, tem paixões positivas ou negativas por determinadas coisas. Como ela expressa essas opiniões? Como ela expressa suas posses, suas paixões e seus desejos? Através de normas e regras.

O bom é isso, aquilo é mau; o certo é isso, aquilo é mau. A mente possui uma séria de regrinhas que afirmam o que o ser tem que ter para ser e o que tem que ser para ter. Regras que dizem o que precisa ser feito e o que precisa se possuir.

Todas essas regras são moldadas pela razão de acordo com as posses, paixões e os desejos. Como cada personalidade é única, isso quer dizer que cada conjunto de posses, paixões e desejos também são. Isso leva a compreensão de que os códigos e normas de um ser são únicos. Não existem duas pessoas que possuam os mesmos.

Apenas um detalhe: o que acontece durante a vida com as regras e as normas que uma razão possui?

Participante elas mudam.

Claro. Se o ser humano é impermanente, vai sempre mudar-se, e se as normas e regras são criadas para sustentar suas posses, paixões e desejos, elas inexoravelmente precisam se alterar com o tempo.

Ter essa consciência também é fundamental para quem busca a felicidade plena, pois a mente constantemente julga a vida, a ação dos outros. Para fazer isso, sempre estará utilizando do seu código de normas e regras. Como ele não é fixo, pergunto: para que defender hoje uma regra que amanhã você não irá querer seguir também?

Quando o ser não compreende o que é material e o separa do espiritual – no caso, a consciência da impermanência das coisas – acaba tornando absoluto o que é relativo. Ou seja, imaginará que uma regra, que mudará amanhã, seja eterna. Imagina que sempre pensará daquela forma. Por não fazer essa separação, acaba defendendo regras que hoje dá uma importância muito grande, mas que no futuro não terão importância.

Certamente isso já aconteceu com vocês: viam as coisas de um jeito num dia e em outro já não pensavam igual. Aliás, isso é tão comum que nem leva dias para mudar. Quantas vezes vocês deixam de fazer coisas que imaginam ser obrigatórias porque não estão com vontade? Naquele momento, sua regra mudou: de tenho que fazer, para posso não fazer.

Na conversa que houve em Pirenópolis – Festa de Nossa Senhora 2010 - no final do primeiro dia de conversas, deixei propositalmente uma pergunta: quem autorizou a tomar cerveja aqui enquanto estou falando? A minha resposta foi: quem queria beber.

Por mais que uma mente tenha a consciência que em uma palestra espiritual não se deve beber, se nela existe a paixão gostar de bebida e o desejo de beber, criará racionalmente uma regra que dirá que pode, que autorizará a ingestão do álcool. A partir disso, se o ser acredita nessa nova regra estabelecida e alguém diz que não se deveria beber naquele local ou critica o fato de se estar bebendo, ele vai se defender, vai tentar provar que está certo. Para isso usará uma regra que criou naquele momento e que é contrária a que possuía antes.

Este é o quarto aspecto importante para aquele que quer ser feliz incondicionalmente: saber que cada um é cada um, que cada um se transforma sempre, e que as suas verdades também se alteram ao longo da vida. Quando se chega neste patamar, quando se tem estas consciências, vai entrar em briga consigo mesmo ou com o outro para que?

Esta é a diferença entre o espiritualista materialista e o espiritualista: um defende a luta contra si mesmo para causar mudanças, o outro não. O primeiro não respeita a impermanência das coisas e tenta forçar para que se cumpra determinadas regras que para ele são certas. O outro compreende toda a dinâmica da vida – o que estamos conversando hoje – e por isso vive o que a vida lhe apresenta naquele momento, sem julgar se está certo ou errado.