O buscador perfeito - texto

Transformando o sofrer em objetivo primário da vida

Os ensinamentos não mudam o pensamento, a forma de pensar, porque é necessário que o sofrimento seja criado para que o espírito tenha a sua prova. Só que na hora que o sofrimento chega, que a provação se faz presente, aquele que está desperto, aquele que diz que seu objetivo é ser feliz, uma campainha toca. Nesse momento o buscador perfeito diz a si mesmo: ‘para, o sofrimento está aqui. Tenho que sair dele’. Aí esse consegue não sofrer...

Participante: não se pode estar disposto ao não sofrer por obrigação, não é mesmo?

Não. Se você transformar o que estou dizendo agora em uma norma, vai sofrer, quando não conseguir agir contra o que está sendo criado pela mente. .

O compromisso é bem pessoal, bem individual: ‘eu não quero sofrer. Eu vou fazer de tudo para não sofrer. Eu não me interesso por outra coisa nessa vida. Somente o não sofrer é o que quero’.

Na hora que há esse comprometimento consigo mesmo, você entra num processo e aí, automaticamente, na hora do sofrimento, a campainha toca. Esse é o momento que o buscador perfeito diz a si: ‘para. A razão sofredora já chegou, a emoção sofredora chegou. Preciso agir’.

Esse é o que comumente é chamado de desperto. Não se trata daquele que consegue não sofrer, mas sim daquele que age quando o sofrimento chega.

Participante: um exemplo, alguém que morre, como seria na prática não sofrer?

Este à um exemplo muito drástico, e para vocês muito difícil de libertar-se do sofrimento, pois ele é definitivo. Morreu, morreu não tem mais jeito. Mas, vou dar outro exemplo para compreendermos o que estou falando.

Na hora que sua namorada faz uma coisa que você não gosta, se não estiver atento, vai brigar com ela. Age dessa forma porque participa daquele momento esperando convencê-la a não fazer mais o que você não gosta. Se participar daquele momento com o objetivo de não sofrer, quando o que ela fizer (razão) lhe causar sofrimento (emoção), deve dizer a si mesmo: ‘para, preciso trabalhar nesse momento’.

Agindo assim, a razão vai continuar gerando ideias que busquem que ela não aja mais daquela forma, mas, você não vai sofrer pelo que ela fez. Consegue se libertar do sofrimento e não sofrer, apesar de ter a mesma razão. Não irá mudar o que será dito por você, não irá mudar o que fará, não vai mudar nada, nem irá estancar o sofrimento que virá. Só que esse sofrimento não lhe fará sofrer.

Uma coisa é o sofrimento criado pela mente, outra coisa é sofrer pelo sofrimento criado pela mente. Na verdade, você se deixa levar pelo sofrimento que a mente cria. Compreenderam?

Participante: compreendi. Tomara que fiquemos com isto gravado nessa mente.

Não vai ficar.

O que você precisa fazer em qualquer momento da sua existência onde haja sofrimento é dizer a si mesmo: ‘para, eu sou espiritualista ou eu sou materialista’? Na hora que tiver a definição sobre si mesmo todo o processo acontece.

Volto a repetir o que já disse antes. Não é ser materialista no sentido de coisas materiais, de atos, mas sim no sentido de ainda querer ser materialmente, racionalmente, alguma coisa diferente do que é.

Sempre que entrar em uma discussão sendo materialista – numa discussão até com você mesmo, não só com os outros – vai extrair prazer ou dor como resultado. Não tem jeito. As regras humanas de como se sentir vão sempre se sobrepor às espirituais. Por isso, se você está naquele momento de uma forma materialista, vai acreditar na necessidade de senti-las. Por isso, quando o sofrimento vem a campainha não toca e você não consegue se libertar dele.