O nobre caminho

Formas

A forma é a representação material de alguma coisa, ou seja, o desenho que cada objeto, pessoa ou acontecimento da vida humana possui. É a figura que percebemos através dos órgãos do sentido do corpo físico, sejam elas materiais ou imateriais. A forma não é só o que é visto, mas a palavra que ouvimos, o cheiro que sentimos, o paladar que temos e as sensações que o corpo vivencia.

Esta é a primeira idéia que vem à mente quando falamos de forma. Mas, existe outra coisa que dá forma para as coisas: a essência que se aplica a elas. Exemplificando: quando falamos em casa, como forma, nós temos o desenho e as matérias que a compõem, mas a perfeita compreensão da casa passa também pelas idéias com as quais se vive a relação com ela.

Toda casa é composta de matérias. Algumas são de tijolo e cimento, outras de madeira ou de outros elementos. Mas, não importa qual seja o elemento que a componha, o tamanho ou o desenho que possua, a casa pode ter diversas finalidades. Para uns é um esconderijo, para outros um lar ou um abrigo. Ela tem ainda valorizações: alguns usam como instrumento da soberba, outros de auto valorização, alguns ainda como um local de descanso, etc. Sendo assim, a finalidade e a valorização que se dá a uma casa, na verdade, é que lhe dá a forma e não do que ela é composta, do seu tamanho ou da sua figura.

É a essência (finalidade e valorização) que se dá a determinado desenho que diz o que o que é percebido é, pois ao dar valores diferentes ao desenho de uma casa a mente cria objetos diferentes. Certamente um esconderijo é diferente de um lar ou de um abrigo, não? Certamente a casa usada apenas para morar é diferente daquele que se vangloria da sua.

Diante de tudo o que falamos, podemos dizer, então, que a forma da casa não é dada especificamente pelo desenho que ela possui, mas pela finalidade e a valorização com o qual cada ser humanizado vivencia um determinado objeto, pessoa ou acontecimento da vida carnal.

A valorização e a finalidade que se dá a cada objeto, pessoa ou acontecimento deste mundo é o elemento forma que se agrega ao espírito com o advento e que é preciso ser compreendido quando falamos em libertar-se do sofrimento...

Mas, o que cria as diferentes essências para a mesma figura? Como é vivido o ser, estar ou fazer as coisas deste mundo?

Todo ser humanizado, ou seja, espírito movido por uma mente humana, está ligado a um anseio de ser, estar ou fazer coisas. É aquilo que a mente humana diz que o ser universal ligada a ela quer ser, estar ou fazer, que determina a forma das coisas. Aquele que quer ser uma pessoa reconhecida pela sociedade jamais morará num barraco, mesmo que sua casa seja paupérrima. Este dará a ela a forma de um palacete. Já aquele que a mente diz que não é importante ser reconhecido, mas sim estar em paz e feliz, vive uma construção idêntica como um lar. Nenhum dos dois está certo, pois casa é casa, não importando o seu tamanho, o seu estado, os elementos que a formam ou como se vive dentro dela.

O apego a essa valorização e finalidade do objeto interfere na elevação espiritual. Se, como diz o Espírito da Verdade, quando o espírito atinge a perfeição vive a felicidade que Deus tem prometido (Pergunta 115 de O Livro dos Espíritos) e esta é a universal, o apego à essência criada pela mente não o deixa alcançar isso, pois só leva ao prazer ou ao desprazer.

Porque a essência que a mente cria para as coisas do mundo só leva ao prazer ou desprazer? Porque a forma é vivida de uma maneira individualizada e não universal. Vamos entender isso...

Para tudo que existe neste mundo há uma essência universal: tudo é instrumento que Deus utiliza para aplicar aos seres as provas que eles mesmos pediram. Esta não é a essência que a mente humana aplica aos desenhos das coisas e por isso acontece o prazer e o desprazer.

A vida humana é apenas um campo de provas para o espírito naquilo que é chamado processo de encarnação. Os espíritos encarnam com o objetivo de vivenciar acontecimentos e reagir de uma forma universalista durante eles. Para a criação destes acontecimentos é que Deus dispõe o mundo humano dos desenhos que são percebidos.

O gosto da laranja não é o sabor de uma laranja, mas sim um desenho criado por Deus para o ser humanizado vivenciar. Durante esta vivência o ser pode apegar-se à forma criada pela mente humana (é bom, é mal) ou vivê-la de uma forma universal: é um elemento criado por Deus e por isso é Perfeito.

A perfeição que tudo contém por ter sido criado por Deus é a essência universal que todas as matérias humanas possuem.

O apego à forma das coisas não deixa o ser humanizado compreender a verdade absoluta dos elementos: tudo é Perfeito. É do apego às formas que nasce a vontade de possuir as coisas e o julgamento que o ser faz sobre elas. Se o ser não estivesse apegado às formas que a mente humana cria, não viveria com a idéia de que existem formas boas ou ruins, certas ou erradas. Com isso não sofreriam.

Todo sofrimento humano se inicia no apego às formas criadas pela mente. É por acreditar que é certo fazer alguma coisa que o ser humanizado tem prazer quando faz e vivencia desprazer quando não faz. Ter prazer ou desprazer é as duas formas que o ser humanizado usa para vivenciar uma forma criada pela mente, mas se as duas são sofrimento, tanto faz uma e outra: o ser humano sofre sempre. Mas, isso só acontece porque ele está apegado à forma que a mente cria.

Uma mão levantar-se, encostar a um rosto com força ou não, é um acontecimento. Ver uma agressão ou um carinho é uma essência que a mente usa para aquele momento. Para cada ato do planeta há uma forma que é escolhida pela mente para vivenciá-lo. Ela está ligada à provação do espírito.

Na pergunta 255 de O Livro dos Espíritos se diz que o espírito antes da encarnação escolhe o gênero de provação que vivenciará durante a vida carnal. Este gênero de provação é expresso na mente humana por suas posses, paixões e desejos.

As posses podem ser de três tipos: morais, sentimentais e materiais. As posses morais são expressas pelas idéias de certo e errado; as sentimentais por gostar ou não; e as materiais pela idéia de se dirigir o destino de um objeto. As paixões são os objetos usados na possessão. É aquilo que está certo ou errado, aquilo que é amado ou não e aquilo que se imagina possuir o comando do destino. Já os desejos são as vontades que se tem de vivência com os elementos do mundo humano: a vontade de ter o que se acha certo e é amado e a vontade de não ter o que se acha errado e do que não se gosta.

O gênero de provação de cada ser, portanto, está expresso por tudo aquilo que ele possui e pelos desejos oriundos desta possessão. Para a vivência deles é que a mente cria a forma das coisas.

Quando a mente afirma que o gosto da laranja é bom está ativando todo o sistema de provação do espírito. A laranja é aquilo (paixão) que é possuído sentimentalmente (eu gosto) e que por isso se deseja ter. Quando isso acontece surge um prazer, quando não, há o desprazer. Já que os dois são sofrimentos como já vimos, o que existe para quem acredita em tudo isso é apenas sofrer.

De onde surgiu tudo isso? No apego à forma criada pela mente humana, ou seja, por um elemento que não faz parte da realidade espiritual, mas que se agrega a ele depois do advento.