Choque de realidade

Fatalidade

Aprendemos com Joaquim, sob diversas formas, que tudo está escrito, ou seja, que a vida é fatalista. Mas, para observar a vida alcançando o choque de realidade, isso é de somenos importância. Aliás, pode atrapalhar...

Quando mentalmente dizemos a nós mesmos que aquilo que está ocorrendo é porque tinha que acontecer, estamos criando elementos estranhos à realidade que nos fazem fugir dela. Por que tinha que acontecer exatamente isso? Quem decidiu que isso era o que tinha que acontecer? Será que não podia estar acontecendo outra coisa se tivesse agido antes? Estas são perguntas que sempre ficam no ar e que buscamos responder sem sucesso. Enquanto estamos buscando essas respostas, escapamos da realidade e nos deixamos levar por todos os devaneios da mente.

A fatalidade do choque de realidade é diferente de uma previsão de futuro: é a constatação do que está acontecendo agora. Ao invés de querer determinar valores para o momento de agora, apenas constato que isto está acontecendo.

Neste momento, estou escrevendo no computador. Isso é real. Não sei se estava determinado escrever, não sei se poderia estar fazendo outra coisa, não sei quem decidiu que tinha que escrever: a única coisa que sei é que estou escrevendo. Quando simplesmente constato que estou escrevendo sem querer determinar valores para este acontecimento, posso realmente entrar no presente. Isso porque este é o meu presente. Querer atribuir valores ao presente, mesmo que sejam aqueles ensinados por Joaquim, ainda é interpretar o momento atual. Esta forma de agir acaba com o assistir e nos faz divagar sobre os motivos porque estou escrevendo agora.

Outra diferença no trabalho do choque de realidade com relação ao fatalismo é que o futuro não está escrito: ele acontecerá, quando acontecer, da forma que ocorrer. Vou dar um exemplo...

Estou escrevendo agora e pensando que ao terminar vou tomar um café. Este é o meu presente que devo constatar para assistir a vida. Se disser que isso não é real, estarei querendo interferir em mim mesmo e o trabalho do choque de realidade não aceita isso.

Pensar que tomarei o café daqui a pouco é o meu momento atual. Negá-lo é fugir da realidade. Tenho que conviver com a idéia que vou tomar este café. O que não posso é ter certeza que vou...

Realidade é o momento presente e ela acontece quando ocorre. Quando acontece ela é composta por tudo que está envolvida nela, inclusive o que estou pensando naquele momento. Por isso não busco afastar uma verdade que está presente naquele momento. Mas, também não vivo esta verdade futura como se já fosse realidade, como se fosse concretizar-se realmente. Só quando o futuro chegar, eu posso saber o que ele reserva como realidade.

Sendo assim, enquanto estou aqui escrevendo pensando em tomar o café, estou aqui escrevendo completamente, inclusive pensando que vou tomar o café. Quando acabar de escrever e sair daqui verei o que acontece.