Emoções 2

A responsabilidade de ser espiritualista

Com certeza todos aqui acreditam em reencarnação. Por isto pergunto a vocês: qual a responsabilidade que assumem por acreditar em reencarnação? Olha que pergunta difícil de ser respondida... Vocês costumam estudar, buscar o conhecimento, mas nunca pararam para pensar que responsabilidade traz o que aprendem.

Tudo que é estudado traz uma responsabilidade: a de transformar o conhecimento em ação. Isto está implícito no ensinamento da espiritualidade que afirma que a quem muito foi dado, muito será cobrado. Ou seja, para quem recebe uma informação fica implícito que, com ela, recebe uma responsabilidade (pô-la em prática) e que, futuramente, não poderá alegar desconhecimento.

Aqueles que receberam a informação sobre a reencarnação do espírito já pararam para pensar que, quando saírem da carne (desencarnarem) e alguém vier lhes cobrar os objetivos da encarnação, não poderão alegar que não sabiam que aquilo que estavam vivendo era um período de provações? Ou seja, não poderão alegar que imaginavam estar vivendo apenas uma vida carnal.

Este é um aspecto que o ser humanizado precisa se atentar. É preciso compreender que a busca do conhecimento, quer espiritual ou material traz consigo uma responsabilidade. A maioria, no entanto, não presta atenção a isto e busca o conhecimento como tesouro cultural. Depois guarda a sete chaves a sua cultura, o seu saber, para não gastar. O que ele não vê é que enterrando no fundo do mar o tesouro vira pó, ferrugem e não serve para nada. Este é o destino de qualquer tesouro guardado.

Por isso começo a conversa de hoje perguntando: o que a informação da reencarnação trouxe para você como responsabilidade? Mais: o que você pode fazer com esta informação? Como agir com esta informação? O que esta informação pode fazer para a transformação da sua vida? Alguém se arriscaria a me responder? Acho que não, porque ninguém se preocupou com isto até agora. Buscaram sempre o conhecimento, mas nunca entenderam que ele deve ser o motor de uma mudança a partir da ação com base nele.

 Todos acham lindo estudar, por exemplo, O Evangelho Segundo o Espiritismo ou a Bíblia Sagrada; muitos gostam de buscar o conhecimento espiritual em livros que abordam profundamente o desconhecido; alguns querem conhecer os mistérios dos ensinamentos do oriente (Budismo, Hinduísmo, Yoga), mas ninguém nunca pensou que o preço a ser pago por estes conhecimentos é a reforma íntima, pois este é o objetivo de todos estes ensinamentos.

Portanto, pergunto, para começar esta conversa: o que a informação existe reencarnação, eu sou um espírito encarnado lhe trouxe no sentido de reformar o seu íntimo, ou seja, de mudar a sua forma de viver esta vida?

Será por este caminho que iremos executar nossa conversa de hoje: entender, a partir do conhecimento da encarnação, o que fazer para promover a reforma íntima. Ou seja, iremos falar qual deve ser a ação daquele que um dia recebeu o ensinamento das múltiplas vidas.

Então, vamos lá. O que quer dizer um espírito encarnado?

Participante: Viver provas, expiações e missões para que se eleve.

Está certo: este é o objetivo da encarnação, mas eu estou perguntando o que é o espírito encarnado.

Participante: É um espírito vivendo novamente.

Certo novamente. O ser humano de hoje é um espírito que já foi humanizado outras vezes. A partir deste conhecimento posso afirmar que o espírito encarnado é o ser universal que já viveu outras vidas materiais.

Isto é fundamental para o que vamos falar hoje: você já teve outras vidas. Concordam com isso?

Para você, então eu pergunto: cadê as outras pessoas que você foi? Veja, hoje está em um corpo de homem e, por isso, defende a sua masculinidade. No entanto, em outras encarnações com certeza já foi uma mulher. Daí eu pergunto: cadê essa mulher em você hoje? Cadê a feminilidade que, com certeza, um dia já teve?

Participante: Ficou na espiritualidade.

Não, na espiritualidade não existe sexo, pois todos os espíritos são iguais. Sendo assim lá não há feminilidade nem machismo.

Veja a importância de se raciocinar este aspecto, que é inerente àquele que aceita a reencarnação, para a elevação espiritual. Você um dia já foi feminino – e em outras encarnações poderá voltar a ser – mas hoje, nesta vida, está encarnado em forma de homem, ou seja, sem nada de feminino. Onde ficou a sua feminilidade? E, se na próxima encarnação vier em corpo feminino, onde ficará o machismo de hoje?

Participante: Está no inconsciente do espírito.

Não. Como disse no espiritual não há divisões a partir de sexos. O inconsciente do espírito está no espiritual, portanto, ele não pode ter noções de sexo.

Participante: Acho que quando acaba uma encarnação restam-nos apenas os ensinamentos.

Certíssimo. Depois que o espírito está liberto da ação material (influência da mente) nada mais de material persiste: apenas o espiritual sobrevive ao desencarne.

Portanto, o seu sentido da vida de ontem, no campo sexual, morreu junto com o fim da encarnação. Tudo que pertenceu às suas encarnações anteriores morreu, acabou.

Quando aqui falo em encarnação, não estou me referindo apenas à última vida, mas a todo processo de encarnações desde o início do planeta. Na sua roda de encarnações, você já pode ter sido, por exemplo, um agricultor. Pergunto: onde ficou o conhecimento de agricultura que já teve? Morreu. Você pode ter sido um guerreiro. Onde ficou o patriotismo do guerreiro? Morreu. Já pode ter sido um machão: onde ficou este sentimento? Morreu.

Esta é a primeira consciência que deveria animar quem acredita em reencarnação: as reencarnações anteriores morreram. Viver com a certeza de que já foi outras pessoas e que tudo que pertenceu a elas morreu, é uma responsabilidade que o espiritualista assume quando crê na reencarnação.

Participante: Acho que quando a gente aprende alguma coisa fica marcado no nosso espírito para sempre, não?

Tudo que um espírito aprende fica marcado no perispírito, mas lá não fica nada que seja material. Deixa eu explicar a minha posição.

Se o conhecimento material ficasse marcado no perispírito, a maioria das crianças não precisaria aprender a ler, não é mesmo? Todos nasceriam sabendo ler porque aprenderam isto em outras vidas. Ou pensamos assim, ou entendemos que todos sempre foram analfabetos, pois não há uma criança que nasça sabendo ler e escrever.

Portanto, tudo que é material some e apenas o que é espiritual fica. Tudo que é conhecimento do mundo material fica restrito ao mundo material e não acompanha o espírito pela eternidade. Acaba quando cessa a encarnação.

Aliás, seria um acúmulo desnecessário arquivar-se todo conhecimento material. Para que um espírito precisa carregar pela eternidade o conhecimento da decodificação da escrita se onde ele vive não há nada para ser lido?

Participante: Isto está certo, mas o senhor falou de posturas sentimentais e não de conhecimento material. O sentimento não é do espírito?

Apesar de nos exemplos que usei não estarem envolvidas coisas materiais, mas apenas sentimentos, estes são humanos, ou seja, só servem para a vida carnal e não para a espiritual. O machismo, a defesa da luta de classe, o patriotismo, são sensações materiais. Para que um espírito carregará pela eternidade a feminilidade se no seu habitat não existem diferenças sexuais?

Esta é a primeira coisa que eu quero que vocês reflitam hoje: morreu tudo. Seja o que for que você tenha sido, sejam quais forem as sensações voltadas para a vida carnal que tenha nutrido, tudo isto morreu. Você pode ter sido romano em uma encarnação, mas no fim dela o seu nacionalismo morre. Na próxima pode nascer judeu e odiar os romanos.

Participante: Mas, nossas expiações continuam existindo, não?

Nós chegaremos a este aspecto. Antes, porém, preciso formar uma primeira consciência para podermos chegar à expiação.

Então, esta é a primeira idéia que deveria se formar a partir do conhecimento da reencarnação: os outros “eus” que fui morreram. De posse dela o ser humanizado poderia, então, entender um aspecto fundamental para a elevação espiritual: este “eu” que sou hoje vai morrer também.

Esta é uma lógica que não pode ser esquecida, sob pena de se desperdiçar a oportunidade de elevação espiritual. No entanto, pouquíssimos vivem com esta realidade.

Anteriormente perguntei se acreditavam em reencarnação e todos disseram que sim. Apesar disso, continuam achando que são a encarnação atual (tudo aquilo que compõem o ser humanizado que vivem hoje) e não o espírito.

Você não é a encarnação (personalidade escolhida para esta vida – “eu” atual), mas o espírito eterno. Viver com esta verdade lhe levaria a vivenciar a vida carnal de uma forma bem diferente da existência que leva agora.

Você é o espírito reencarnado e não a reencarnação que está vivendo. No entanto, não vive com esta consciência. Se tivesse consciência de ser o espírito encarnado acreditaria nas coisas do espírito, mas, como acredita nas coisas da matéria eu afirmo que você é o ser humano.

Diria melhor: você é o espírito, mas está ser humano e aquilo que você está é o que é. Ou seja, a sua consciência (conjuntos de verdades que formam realidades) é que determina o que é hoje no momento.

Portanto, você o espírito vive uma encarnação imaginando que é o personagem que compôs para ela (ser humano), ao invés de vivenciá-la dentro da consciência espiritual. Esta é a primeira responsabilidade que surge do conhecimento da reencarnação: viver a vida carnal sabendo que é uma reencarnação de um espírito e que tudo que pertence a esta vida acabará. Mas, no que interfere na elevação espiritual a vivência fora desta Realidade?

Quando agir a partir do ensinamento da reencarnação, você entenderá que está defendendo algo que vai morrer de qualquer jeito e que, por isso, a luta é infecunda. Hoje você defende seu nome, sua raça, sua cor de pele, suas verdades, seu visual, mas para que? Tudo isso acabará.

“Não posso deixar o outro tirar vantagem de mim: aquele cargo tem que ser meu”. “É preciso defender a minha pátria”. “Preciso provar que estou certo...” Por que precisa agir assim? Tudo isso que você tanto se apega hoje acabará com certeza não importando os seus esforços.

Colocando em prática o ensinamento da reencarnação (tudo que vivo hoje pertence a uma existência que acabará), nada disso terá mais valor significativo e, então, poderá se ocupar do que é importante realmente nesta vida: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: Então, o conhecimento da reencarnação deve nos levar a buscar a morte da mente?

Não, a buscar a sua morte.

Participante: Pois é, a morte do “eu material”.

Insisto na colocação: na sua morte. Isto porque você é a encarnação, apesar de não sê-la, pois não vive com a consciência espiritual.

Por isso Cristo ensinou: eu não vim trazer a paz, mas a espada. O ensinamento do mestre não é para que você mude os outros e com isso consiga a sua paz, mas para que se mate e alcance a paz universal (incondicional) que só o espírito pode sentir.

Esta é a grande responsabilidade de todos aqueles que acreditam em reencarnação, pois, ao desencarnarem, serão questionados sob sua crença. Com a reposta de se dizerem espiritualistas virá então a confrontação: “como, então, você viveu esta última encarnação como se fosse uma vida humana”?

Veja bem. De que adianta gabar-se de ser melhor do que os outros (mais culto) porque conhece o mistério da encarnação se você ainda continua vivendo a vida como o ser humano que se imagina ser? Se o conhecimento não faz nascer uma ação diferenciada, ele é apenas como um tesouro enterrado no fundo do mar: não serve para nada.

A partir de tudo o que disse pergunto: por que vocês não vivem esta vida dentro do sentido espiritual, já que crêem na existência do mundo espiritual e na reencarnação ao invés de vivenciá-la pelos valores humanos?

Participante: Qual a diferença?

O sentido humano da vida você conhece: nascer, crescer, estudar, progredir socialmente, formar família, educar filhos, etc.: todas as realizações que compõem a vida humana. Já o sentido espiritual foi dado pelo Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos é o seguinte: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação; para outros, missão” (pergunta 132).

Vivendo a vida carnal com o sentido espiritual, em tudo que o ser humano vivencia aquele que sabe que é espírito coloca a compreensão de que a Realidade é que está existindo uma prova, que pode ter sido gerada por uma expiação ou por uma missão. Vive deste jeito por quê? Porque sabe que é um espírito encarnado e ser isto significa que está tendo uma oportunidade de realização de provas para expiações ou missões.

Veja quanta responsabilidade gera um conhecimento...

Você aprende que é um espírito e que existe reencarnação. Conhece que reencarnar é humanizar-se (vir ao mundo carnal). Mas, apesar de tudo isso, continua vivendo a mesma vida (dando os mesmos valores às coisas) que aqueles que não conhecem a reencarnação dão. Qual a vantagem imagina que terá sobre os demais na hora do juízo apenas por saber?

Você hoje, mesmo sabendo que tudo que está vivenciando são provas, vive as suas paixões humanas e escraviza-se aos desejos que a sua mente lhe dá. Sendo assim, por que acha que é melhor que os outros, que avançou mais no sentido da busca de Deus?

Esta é a consciência que todos aqueles que acreditam em reencarnação tem que tomar: não adianta nada, no sentido da elevação espiritual, acreditar em reencarnação sem agir diferente daqueles que não crêem. Você não receberá um milímetro a mais na avaliação da sua existência carnal apenas porque conheceu a informação da reencarnação do que aquele que não acreditou. Isto porque apenas acreditar, mas não viver esta existência com as referências espirituais não leva a lugar algum.

Lembro um ensinamento de Cristo a este respeito: se você só ama quem lhe ama (vive como os outros) que vantagem leva sobre os pagãos? Até eles vivem assim... Portanto, sejam perfeitos nos seus conhecimentos, como é Perfeito o Pai de vocês que está no céu (Mateus, 5, 43 a 48).

Para ser perfeito, como disse anteriormente, é preciso compreender que você está ser humano, mas não é. Viver com esta compreensão agindo no sentido do que é na Realidade é a diferença entre aquele que apenas sabe e os que geram uma ação a partir de seu conhecimento.

Participante: Fale um pouco mais sobre esta humanização do espírito, por favor.

Quer um exemplo? Qual o seu nome?

Participante: José.

Você não é o José: está José. Você acredita na reencarnação, trabalha com espíritos, no entanto não titubeou em me responder a esta pergunta.

Quem é o José? Um conjunto de sentimentos (personalidade), que vivencia uma determinada história criada a partir de um conjunto de verdades individualizadas. Tudo isto é ilusório e irreal porque é temporário, mas apesar de saber disso, você se apega ao José a tal ponto de anular a sua própria consciência.

A partir do momento que você se conscientizar disso, a sua vida mudará. Ao invés de valorizar as paixões e os desejos do José dirá: ele que se dane, eu não vou me prender a ele. Não vou me sujeitar ao que ele quer, não vou sofrer quando ele quiser ficar triste, não vou acreditar no que ele acredita, porque tudo do José é fantasia fantasmagórica, como Krishna chamou o maya.

Agora, para que isso se torne realidade na sua existência será preciso agir a partir do conhecimento da reencarnação e afirmar para si mesmo: eu sou eu; não quero ser o José. Isto porque se você se prender a ele jamais será você mesmo.

Esta é a ação de conhecer a reencarnação. É você compreender que, não importa o nome que tenha, naquilo que acredite, do que goste, tudo isso não é seu, mas da encarnação.

Veja bem. Para elevar-se espiritualmente você precisa declarar a si mesmo que as coisas que pertencem ao José são dele e não suas. Se não separar as coisas do personagem das suas, não sobrará tempo para fazer o que veio realizar, espiritualmente falando.

Responda-me, por favor, quem está aqui agora: você ou o José? É o José e não você o espírito. Isto porque todo o conjunto de verdades e sentimentos que estão presentes agora é do personagem e não seu (espírito).

Participante: Mas o espírito não está ligado ao José?

Sim, mas ele não está nesta sala neste momento: está no universo. O espírito pode estar ligado ao José, mas não vai daí que ele precise freqüentar os mesmos lugares que o José vai. Deixe-me explicar melhor isso.

Não importa que divisão você faça das coisas do Universo, tudo que o compõe é ele mesmo. Constelações, planetas, países, cidades, bairros, casas, cômodos, tudo é Universo porque está dentro dele. O espírito tem esta consciência do macro enquanto que o ser humanizado vive no micro. Por isso digo que o José está nesta sala (micro) enquanto que o espírito está no Universo (macro), apesar dos dois estarem no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Quando falo de lugar onde se está, não estou falando de lugar físico, mas de consciência de estar. O José é aquele que está nesta sala porque vive com a consciência de estar neste lugar. Já o espírito entende que tudo que ocorre aqui neste momento tem repercussão universal e por isso está vivendo no Universo.

Esta questão de onde estar é um exemplo que pode lhe mostrar a diferença entre ser o espírito ou o José. E é a partir da consciência de que se é uma coisa, mas está outra, que se executa o trabalho da reforma íntima. Como? Usando a inteligência.

Reforma íntima é reformar a forma de pensar. Ao invés de se vivenciar as coisas do mundo a partir das idéias do José, usar para isto aquilo que os mestres e seres espirituais ensinaram sobre as coisas do outro mundo. Para isso, nas palavras de Buda, devemos usar o raciocínio para despoluir a mente e não nos atolarmos cada vez mais na ilusão materialista.

Sidarta Gautama tem um ensinamento que fala da poluição adventícia, ou seja, da poluição que vem com o advento, com o nascimento. A poluição que cita o mestre são os valores com o qual o ser humanizado interpreta as coisas do mundo. Esta visão polui o espírito. Por quê? Porque ele é completamente diferente da Realidade que o espírito vive quando no seu habitat: o mundo espiritual. Como disse o apóstolo Paulo, o que a natureza humana quer é contrária ao que a natureza espiritual quer.

Allan Kardec, um ser humanizado que acreditava na encarnação, compreendeu isso e afirmou:

“O viajante que atravessa vale assombrado por espesso nevoeiro não logra apanha com a vista a extensão da estrada por onde vai, nem os seus pontos extremos. Chegando, porém, ao cume da montanha, abrange com o olhar o quanto percorreu do caminho e quanto lhe resta dele a percorrer. Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda terá que transpor e combina então os meios mais seguros de atingi-lo. O espírito encarnado é qual viajante no sopé da montanha. Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo domina, como aquele que subiu à crista da serrania. Para o viajor, no termo de sua jornada está o repouso após a fadiga; para o espírito está a felicidade suprema, após as tribulações e as provas”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 266).

O objetivo do espírito encarnado é um (ser feliz agora) e é nesse sentido que ele vivencia todos os acontecimentos da vida carnal. Já o do espírito liberto da ação da materialização é outro (viver a felicidade pura e eterna) e para isso não mede esforços, mesmo durante a vida carnal.

A poluição que Buda falou é essa: exigir a felicidade neste mundo. E ela nasce quando você entra na encarnação (advento) e aí acha que é ao invés de compreender que está vivendo um personagem.

José é um personagem para esta encarnação, não é você. É um personagem que você criou para esta vida para fazer provas que se originam de expiações ou missões. Por isso ele quer a felicidade agora e você ao ser bombardeado por esta vontade, não deve ceder a ela. Deve manter-se firme na busca da felicidade pura e eterna.

José é um personagem que criará na ilusão da materialidade as provas, expiações e missões. Criará uma lógica perceptiva para você espírito viver provas. É a partir desta verdade que aquele que acredita em encarnação deve compreender os acontecimentos do mundo.

Se alguém bater no seu carro, foi realmente isso que ou aconteceu uma prova, expiação ou missão que você precisa responder com a busca da felicidade pura e eterna? Se acredita no espírito e na encarnação teria que optar pela segunda, mas, apesar disso, continua reclamando se alguém bate no seu carro. Por que reclama? Pelo prejuízo que o personagem terá? Ele que pague. Quem terá que pagar é o personagem e não você. Deixe ele se virar.

Isso se chama elevação espiritual: a volta à consciência espiritual. Ela acontece quando você sabe que não é o personagem que está vivendo hoje, mas que tudo o que ele vivencia são as suas provas, expiações e missões.

Por exemplo: Você é casado?

Participante: Não.

Mas pretende?

Participante: Sim.

Mas, você é um espírito e como Cristo ensinou no mundo espiritual não há casamentos. Quem irá se casar então? O personagem. O espírito se une em relações espirituais com Deus e toda universalidade, mas ele não mantém relações individualistas de posse.

Sendo assim, mesmo que o seu personagem vivencie uma cerimônia casamento você não deve sentir-se casado.

Participante: Mas, eu amo minha namorada...

Não, isto é irreal. Quem está criando toda esta ilusão de amor e carinho é o personagem para ver se você se aprisiona a isso como realidade. Se isto acontecer, a mente, então, coloca em prática as verdades que geram a posse: é minha esposa, precisa me dar atenção, precisa cuidar de mim, não pode olhar para outro homem. Se isso acontecer, você estará cada vez mais se poluindo com estas verdades.

Como disse tudo foi criado como prova para você o espírito. O que realmente Deus quer sabe é se você colocará em prática nesta relação o amor universal, que é baseado na liberdade de cada ser o que quiser, ou se apaixona pelas verdades que estão na personalidade humana.

A posse surge das verdades que estão embutidas no personagem. O marido tem direitos e deveres para com a esposa e cobra o mesmo dela. Já o espírito é livre de fato e por isso não se cobra nem a ela.

Se dois espíritos se juntam, acontece apenas a união. No entanto, se dois personagens se juntam, todo o código de padrão da vida do personagem entra em ação. E aí acontecem as cobranças a partir deste padrão. O marido não quer limpar a casa porque diz que isso é obrigação da mulher, não a deixa trabalhar fora porque o sustento é obrigação do marido. Não podem ir ao futebol porque ela não quer ficar sozinha.

Eu estou pegando exemplos padrões de uma vida humanizada apenas para compreendermos o que ser o personagem leva o espírito a fazer: discriminação. Não há mais amor universal neste casal.

É preciso lutar contra o personagem em todos os momentos. Se não lutar contra ele nas verdades embutidas em um casamento, em outro momento ele o fará viver o medo porque à sua frente está um garoto negro de calças e blusas largas, que certamente é um ladrão. Ou seja, ele cria o preconceito que fere a lei universal do amor e você, que não consegue se distinguir dele, torna-se preconceituoso.

Para dar razão aos preconceitos o personagem cria o medo e todas as demais emoções humanas que acabam com a vivência da felicidade pura e eterna. É por isso que você que acredita em espírito e encarnação precisa separar o personagem do espírito.