Emoções 2

Ninguém domina o mundo

Para começarmos o tema de hoje gostaria de fazer as seguintes perguntas: para que você vive? Qual a sua motivação para fazer as coisas? Por que você trabalha, namora, compra coisas, casa, tem filhos? Qual a motivação do ser humano ao praticar atos?

A resposta é buscar a felicidade. O ser humano trabalha para ganhar dinheiro, mas no fundo o motivo não é esse. Busca o dinheiro para poder passear, se divertir, comprar objetos de consumo, mas pratica todos esses atos buscando alcançar a felicidade. O ser humano namora para casar, mas realmente busca a felicidade através do casamento.

Dessa forma podemos afirmar que a vida do ser humano, o motivo básico de viver, o que ele coloca como base para tudo que faz é a felicidade. Ele está sempre buscando a felicidade desde o momento que nasce até o desencarne.

A partir dessa constatação podemos perguntar: se isso é a motivação da vida de toda humanidade, porque ninguém consegue alcança-la? Deixemos bem claro que a felicidade que estamos falando é um estado de espírito feliz pleno.

Os seres humanos confundem o prazer (momentos de satisfação) com a felicidade. Muitos afirmam que possuem a felicidade, mas esses não escapam dos momentos de sofrimento. Quando estes chegam, acabou a felicidade e se isso ocorreu, ela nunca existiu.

A felicidade que estamos falando não cessa: ela é permanente. Quando em algum momento um ser humano atinge um êxtase positivo que vem a cessar posteriormente, não pode se afirmar que houve uma felicidade, mas uma satisfação, um prazer.

Apesar de se contentar com os “momentos de felicidade”, não é isso que o ser humano busca durante a existência. O que procura realmente é a felicidade plena, é ser feliz vinte e quatro horas por dia. É essa a motivação da vida de qualquer ser encarnado.

Compreendido que ninguém alcança a felicidade que estamos falando e constatada a veracidade de que todos objetivam isso sem jamais alcançar, repito a pergunta: se o ser humano vive para alcançar a felicidade plena, porque não consegue?

Creio que esse deveria ser um assunto para debate intenso e constante entre os seres humanos por se tratar do objetivo da vida de todos. É um tema importante, pois desde o momento que nasce até a morte, todas as ações do ser humano são objetivando alcançar esse estado onde a infelicidade não penetre e mesmo assim não consegue ser feliz o tempo inteiro.

É isso que eu quero perguntar hoje, é isso que eu quero conversar hoje.

O ser humano não encontra a felicidade plena porque a procura no “lugar” onde ela não está. Ele busca a felicidade externamente a si, fora de si. Ele busca a felicidade no universo, no planeta, nas coisas, nos momentos. Precisa que o momento, o acontecimento, as pessoas, dêem felicidade a ele para ser feliz.

É por isso que não consegue acha-la. A felicidade não é uma coisa que venha de fora para dentro. Ela não é externa ao ser humano, mas é alguma coisa intrínseca, de dentro dele. Não consegue essa felicidade porque a busca fora dele.

Buscar fora de si é precisar mudar o universo, alterar as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) para que elas concordem com as suas verdades para que ele possa ser feliz. O ser humano passa pela vida buscando mudar o mundo para ser feliz. Lamento dizer, mas jamais será conseguida uma felicidade dessa forma.

Por que? Primeiro porque ninguém pode mudar o universo.

Para que você seja feliz de verdade é necessário que descubra, primeiramente, que está buscando a felicidade externamente, ou seja, precisando que as coisas se alterem para que seja feliz. A partir dessa constatação existe a necessidade da declaração de incompetência para mudar as coisas do universo.

Enquanto você não declarar a sua incompetência de mudar as coisas, continuará agindo externamente a você para buscar a felicidade. Como todo ser humano passará pela vida objetivando ser feliz, mas apenas conseguindo momentos de satisfação.

Acho que essa incompetência já deveria ter sido constatada pelos seres humanos há muito tempo, mas eles insistem em querer se sentir auto-suficiente. Há milhares de anos os seres humanos estão tentando mudar o mundo para ser feliz e não conseguem. Vivem no sofrimento, lamentando, sofrendo, com medo do sofrimento, mas não abrem mão da suposta competência de alterar os acontecimentos da vida.

Dessa forma, para ser feliz, a primeira providência é “cair na realidade”: “eu não posso alterar o que está acontecendo”; “jamais conseguirei alterar o que está acontecendo”. Esta declaração é o início do caminho para a conquista da felicidade plena.

Declarar-se incompetente é compreender que se está passando por um momento que não gosta (faz sofrer) e declarar para si mesmo: “eu não posso alterar o que está acontecendo”; “eu não posso deixar de passar pelo que eu estou passando”. A situação que provocou o sofrimento do ser humano é real, está acontecendo. Afirmar que poderia estar passando por outra situação é negar a realidade, o que está realmente se passando.

Não se pode alterar o objeto ou pessoa que está participando desse acontecimento. O ser humano não tem capacidade de alterar os outros. Muitos passam a vida inteira tentando transformar os outros sem nenhum resultado. Sofrem por toda a vida com os instrumentos dos acontecimentos que trazem sofrimento para depois ter que declarar que “pau que nasce torto, morre torto”.

A primeira declaração que pode levar o ser a permanecer feliz quando o sofrimento surgir é: o que está acontecendo é real e não posso altera-lo, muito menos quem está servindo de agente para ação. Essa declaração leva o ser humano a descobrir que ele não tem o pretenso poder de alterar as coisas para ser feliz.

Sei que, apesar dessas palavras virem de um ser desencarnado e de toda lógica que elas contêm face à constatação de que todos os seres humanos só possuem momentos de felicidade, muitos ainda dirão que são capazes de alterar as coisas do mundo. A esses eu pergunto: por que não conseguem a felicidade plena?

Se você leva sua vida integralmente buscando ser feliz alterando as coisas e imagina-se capaz de alterar os acontecimentos para que tudo esteja de acordo com o seu querer, por que não é feliz constantemente? Basta você exercer o seu poder alterando todas as coisas e permanecerá eternamente feliz, sem receber a visita da infelicidade.

Os seres humanos não gostam da idéia de que são impotentes frente ao universo. Imaginam que quem crê é comodista, preguiçoso, mas precisam chegar a essa constatação para ser feliz. Vejamos um exemplo. Um ser humano vai viajar e, cuidadoso, revê todos os itens de segurança do seu carro: isso lhe garantirá não acontecer acidentes na viagem?

Tomar todas as precauções para viajar é a ação que o ser humano pode executar; declarar que por isso estará livre de acidentes é querer dominar a viagem. Abrir mão do falso poder não é comodismo ou omissão, mas fazer a sua parte.

O ser humano deve fazer o que lhe compete (a manutenção do carro), mas daí esperar que não ocorram acidentes já não é mais competência dele. Nesse texto veremos qual a verdadeira ação do ser humano para ser feliz, pois ele precisa agir para ser feliz. A omissão não leva à felicidade; fazer apenas a ação que lhe compete pode.

Fazer a sua parte (a manutenção do carro), mas por isso imaginar que a viagem será feita sem problemas, traz sofrimento. Fazer a sua parte e não programar como deve ser a viagem, lhe trará felicidade, não importando se acontecer ou não acidente.

Esse é o primeiro detalhe para ser feliz: declarar sua incompetência para alterar as coisas. Primeiro porque as coisas estão perfeitas, aconteça o que acontecer. Segundo, porque você não pode ser o único beneficiário constante dos acontecimentos.

Quem lhe dá esse direito? Quem disse que todas as coisas do universo têm que mudar para o que você acha certo? Para você ser feliz mudando o mundo, alguém vai ser infeliz, pois não gosta das coisas da forma que você gosta, não quer da mesma forma que você.

Quem lhe dá o direito de sempre ser o beneficiário? Quem lhe afirmou que o seu padrão de “certo” tem que prevalecer sobre os outros? Por que as coisas têm sempre que acontecer de tal forma que lhe traga felicidade, pouco importando se trará infelicidade para o próximo?

É isso que o ser humano deveria estar debatendo, pois o resultado desse debate seria a realização de toda a busca de uma vida: a felicidade plena. É preciso concluir que o imaginário poder de alterar as coisas não existe, pois senão a felicidade plena já teria surgido. Se ela ainda não surgiu, é prova concreta que você não domina nada no mundo.

Raciocinando sobre a realidade, o ser humano constataria que o mundo lhe domina, ou seja, quando os acontecimentos ocorrem de acordo com os desejos dele a satisfação chega, mas quando não, sofre. A felicidade do homem prepotente depende do mundo, que faz as coisas acontecerem de tal forma, e não dele mesmo.