O poder da felicidade

Causar sofrimento ao outro

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Causar sofrimento ao outro

104. A essência do ensinamento de Joaquim

A pergunta que agora me é feita é longa e precisamos estuda-la muito bem porque traz embutida em si um aspecto muito comum de sofrimento para vocês: causar sofrimento a outros. Vocês sofrem quando alguém lhe causa sofrimento e sofrem por causar sofrimento a outros. Por isso entender o sofrimento do outro é muito importante para quem busca o poder da felicidade. Vamos conversar sobre isso, apesar de já termos conversado um pouco sobre o assunto quando falamos sobre as posses que as mães e pais querem ter e quando falamos da vitimização.

A primeira questão que a pessoa de agora me levanta é a seguinte: ‘a essência dos seus ensinamentos, Joaquim, é conseguir alcançar uma vivência em paz e harmonia com as realidades criadas através do pensamento, independente do que estas realidades sejam’? Para esta questão, a minha resposta é sim: essa é a essência do nosso ensinamento.

Mas, porque é essa a essência do nosso ensinamento? Porque cada realidade criada por uma mente não é algo real, mas uma proposição de ação. Trata-se, usando os termos da pergunta 115 de O Livro dos Espíritos, é a missão que Deus dá a ada um.

Sendo esta a missão que Deus dá a cada um, alcançar a perfeição, segundo a mesma pergunta, é viver a felicidade que Deus tem prometido, é aproximar-se do Pai. Ora, se um mestre ensinou isso, quem sou eu para contrariá-lo? Se um mestre disse que um espírito recebe missões e que precisa nelas alcançar o estado de paz, harmonia e felicidade com as coisas deste mundo, quem sou eu para dizer que a elevação espiritual é qualquer outra coisa?

Se fizesse isso, estaria negando este mestre. Me desculpem, mas isso não faço.

Apesar disso ser bem claro, sei que vocês colocam outros objetivos para a vida humana, mas estão humanizados, não têm noção da realidade universal. Por isso, também não digo que são culpados de viverem da forma que vivem. Só que isso não me exime de orientar da forma que oriento. Apesar de reconhecer a atual situação de vocês, eu não posso orientá-los a continuar por este caminho, pois Cristo ensinou que quem vive para servir à humanidade não serve a Deus.

105. A vida humana

A partir desta essência do nosso ensinamento, a pessoa que ora me questiona levanta a seguinte questão: imagine um médico que dirija um hospital e que ao invés de comprar o remédio e os aparelhos que podem trazer a cura às pessoas, use o dinheiro em seu próprio benefício. Gasta a verba que o hospital dispõe comprando coisas para si mesmo.

A partir desta suposta ação – que não é tão fora da realidade, não é mesmo? – esta pessoa me diz: ‘se este ser humanizado conseguir conviver com este fato em paz, harmonia e felicidade, ou seja, sem se importar com o sofrimento que está causando ao outro, segundo os seus ensinamentos, ele terá conseguido a evolução. Pelo que você fala, ele terá conseguido aproximar-se de Deus. É isso mesmo’?

Como disse antes, usando o que está na pergunta 115 e na 132 de O Livro dos Espíritos, chegaremos à conclusão que sim, ele está aproximando-se de Deus. Porque? Porque este ser viveu suas provas, missões e expiações tomando um corpo de acordo com este mundo para que aqui seja instrumento da obra geral sob o comando de Deus. Mais: fez tudo isso mantendo a paz e harmonia com as coisas do mundo e por isso viveu a felicidade que Deus prometeu a seus filhos.

Sim, de acordo com os ensinamentos dos mestres esse ser alcançou a aproximação de Deus. Mas, sei que vocês pensam diferente. Por isso pergunto: porque, na visão de vocês, ele não teria alcançado? É sobre isso que quero conversar agora.

A vida humana não é uma vida de um humano, mas sim o campo de provas de um espírito, não importando que tipo de vida seja. Desde a pessoa mais santa que possam conhecer até o mais desgraçado dos bandidos, o mais monstro, a existência humana não vale pelas coisas que acontecem nela, mas trata-se apenas de elementos, missões que Deus dá a cada um para que possa durante ela alcançar a felicidade e aproximar-se de Deus. Sendo assim, não importa que ato aconteça, que ação ocorra, trata-se de uma prova e não um ato de vida humana.

Portanto, não importa o que aconteça, não se pode julgar o espírito pela ação que é praticada.

106. A repercussão dos fatos

Outro detalhe sobre os fatos que acontecem: eles têm repercussões. É sobre isso que quero falar agora.

Estamos falando de um ensinamento de Buda: da interdependência das coisas. A ação de uma pessoa, seja ela feita em qualquer nível, público ou privado, sempre causará repercussões, ou seja sempre atingirá outra pessoa. Essa interdependência, ou seja, o fato da ação de uma pessoa sempre se relacionar com outras pessoas, é o instrumento de Deus para as provações mútuas.

Seria muito estranho se o Pai lhe desse uma prova independente da de outro. Se ele desse a cada um a prova separada da do outro. Se isso acontecesse, nunca haveria condições de vocês fazerem suas provas.

Portanto, Deus une diversas provas de diversos seres numa só ação. Um ou mais espíritos tornam-se protagonista de um tipo de ação e ela influencia sobre outros e essa influência faz com que todos os envolvidos esteja cada um vivendo a sua prova.

Sendo isso realidade, o fato do médico roubar dinheiro é prova dele, mas o fato deste ato causar não ter remédio para a cura de terceiros é prova destes. Pronto, acabou.

É isso que precisamos compreender. Nos acontecimentos deste mundo, não há uma pessoa que faça mal a outra, mas sim espíritos em provas: um protagonizando a ação e o outro recebendo a repercussão dela. Amanhã os que viveram a repercussão se transformarão em protagonistas e aqueles que protagonizaram anteriormente receberão a repercussão da ação. Com isso, a vida vai acontecendo, ou seja, as provas dos espíritos vão acontecendo.

Este é o mundo humano. É isso que vocês chamam de vida. É isso que precisamos entender, se levamos em conta o espiritualismo, ou seja, a ideia de existir em si algo além da própria carne e se quisermos viver para este algo mais.

Mas, à respeito da repercussão tem mais um detalhe que quero abordar. Falamos do médico que roubou e dos doentes que ficaram sem seus remédios como elementos para os quais o ato repercutiu. Só que muitas vezes a repercussão de um ato extrapola os envolvidos diretamente e chega a pessoas que não participaram pessoalmente do acontecimento. Mesmo de forma indireta, este ato influenciou a existência de outros seres.

O que estou dizendo é, por exemplo, o caso da notícia sobre a ação deste médico ser veiculada pelos jornais, pela televisão, ser noticiada no rádio. Quando isso acontece, a repercussão deste fato envolveu mais espíritos do que aqueles que estavam diretamente aligados.

Sabe quem ela envolve? Você que leu o jornal, viu a televisão ou ouviu o rádio. Se isso aconteceu, ou seja, se você foi alcançado pela informação da ação de alguém, passou a ser uma realidade da sua vida. Se, como já disse, não há realidades na vida humana, mas provações, quando isso acontece aquela ação passou a ser sua prova também. Ela serve para ver se você vai se manter em paz e harmonia ou se viverá o sofrimento neste momento. Sendo assim, posso dizer que a repercussão dos fatos, a interdependência das coisas, não pode ser medida apenas por aqueles envolvidos diretamente na ação, mas deve abranger todos aqueles que de uma forma ou de outra têm ciência do que aconteceu.

Portanto, acho que a resposta à sua questão ficou bem clara: a ação do médico é a prova do espírito que está vivendo este personagem; o fato de não haver remédio para a cura é a prova dos seres que estão vivendo o papel de doentes; e o fato de ter tido ciência desta notícia, por qualquer meio, é a sua prova.

A partir do momento em que identificamos cada situação de vida, independente do que aconteça, como uma prova, o que você, aquele que quer viver para a sua essência espiritual, precisa fazer? Viver em paz, harmonia e felicidade incondicional, que chamamos até de apatia, com aquilo que está acontecendo. Não importa se você é o protagonista, aquele que sofreu diretamente a ação ou se apenas teve notícias do acontecido: para aquele que quer aproximar-se de Deus só há uma forma de reagir. Esta forma única de reação é amar, a tudo e a todos.

107. A base do que é sentido

Eis aí, na visão espiritualista o que está acontecendo neste momento. Eis aí, também como cada um deve vivenciar momentos como este, se quer se aproximar de Deus. Mas, não é assim que vocês que dizem que querem buscar a Deus vivenciam situações deste tipo. Por que isso?

Porque se doem pelo fato do médico levar dinheiro e dos doentes não terem remédios? Será que é amor, altruísmo, compaixão? Me desculpem, mas essas coisas a mente humana não conhece. Ela trabalha a partir de um eu e a favor dele. Por isso, jamais terá amor pelo próximo, será altruísta ou terá a verdadeira compaixão.

Sabe porque algumas personalidades humanas não aceitam que essas coisas aconteçam? Primeiro porque não ganharam nada com aquilo. Garanto que todos os seres humanos que de uma forma ou outra se beneficiaram com a ação do médico não acharam errado o que foi feito. Segundo: por medo de perder ... ‘Tenho que achar isso errado porque amanhã ou depois outros médicos podem roubar e posso eu a ficar sem o remédio que preciso’.

Esses são os aspectos que levam o ser humano a renegar ou aceitar as situações da vida: a vontade de ganhar e o medo de perder. Se ele ganha algo, aquela ação é julgada certa, mas se corre o risco de perder alguma coisa, é julgada como errada.

 A mente humana não consegue ver a vida a partir dos valores espirituais porque quer ganhar. Por isso, corre para assegurar que não perca. É a partir destes aspectos que ela forma os seus valores.

Portanto, não há compaixão, amor, altruísmo nem mesmo pensamento no sofrimento dos outros. Aquele que repudia o causar dor aos outros é movido pela sua vontade de ganhar e o seu medo de perder. É isso que, na verdade, impulsiona a mente. É isso que faz a dar determinado valor às coisas. É isso que faz a mente dizer que é preciso fazer pelo outro, ajuda-lo, e não o verdadeiro amor, a verdadeira compaixão.

Me desculpem, mas Cristo foi bem claro: Deus julga a intenção e não a ação de cada um. A intenção da mente humana ao defender os pobres coitados não tem nada a ver com a questão do sofrimento e sim com o medo de amanhã ser você o pobre coitado.

Isso é o que vocês precisam compreender para entender que não é obrigado a sofrer com a dor dos outros. Isso é o que vocês precisam entender a aprender a constatar os acontecimentos sem deixar que eles acabem com a sua paz e harmonia.

108. Sofrer com o sofrimento dos outros

Lembro que me fizeram perguntas quando houve um terremoto. Me perguntaram: como é possível não sofrer vendo tanta gente morta no chão? Eu respondi: sabendo que não é você que está lá.

‘Graças a Deus não fui eu que morri lá. Sei que as pessoas sofreram, morreram, mas por estar vivo, vou ajudar as vítimas no que puder, ao invés de sofrer por elas. Não vou fazer isso porque sei que este tipo de sentimento não ajuda nada a quem morreu ou a quem ficou ferido’.

Adianta sofrer por quem morreu ou se feriu? Acho que não. O que pode realmente auxiliar os outros é fazer alguma coisa por eles.

Lembro também que quando houve o terremoto e os corpos estavam todos espalhados na praia e as pessoas me diziam que sofriam por causa disso. Eu respondi: o problema é que vocês estão vendo os corpos mortos e não os espíritos que libertaram-se do mundo material e retornaram à sua verdadeira pátria, o mundo espiritual. Se vissem o espírito, a glória que eles tiveram, fariam festa ao invés de sofrer.

Além do mais, por não verem o espírito, não conseguem compreender que o sofrimento que sentem por estarem presos aos corpos são danosos a ele. O que você não é que a sua pena daqueles que não tem remédio não ajuda aqueles seres a passarem pelas suas provas.

Repare que quando olha a partir do ponto de vista espiritual, quando coloca de lado as questões referentes ao sistema de vida humano, as coisas mudam. Sim, se esse médico conseguir desviar verbas sem se acusar ou se vangloriar, ele estaria bem. Agora, se aqueles que passarem pela ausência do remédio não amando a tudo e a todos, não conseguiriam a elevação espiritual.

É por isso que digo: nós vemos a vida de cima para baixo enquanto que as mentes humanas veem na horizontal, no mesmo nível. Vocês não veem nem vivem com provas ou carmas, mas com vidas humanas. Vivem a vida ligado aos aspectos humanos dela. Por isso nossa visão das coisas é completamente diferente da de vocês.

Só tem um último detalhe que quero deixar bem claro para aquele que quer ter o poder da felicidade. Ele está baseado na continuação da sua pergunta: se esse médico posteriormente a sua ação tivesse remorso pelo que fez, ele não teria passado na sua prova? Sim, isso teria acontecido.

Digo isso porque o remorso é gerado pela mente a partir de valores humanos. Por isso, quando tivesse o remorso teria se afastado de Deus.

Eis aí, então, o que poderia lhe falar sobre o tema. Como disse a questão era longa, mas importante, porque pode nos dar a oportunidade de abordar diversas questões.

Graças a Deus.