O nobre caminho

Causa Primeira das coisas racionais

Uma inteligência é capaz de agir, mas para que essa ação reflita a elevação máxima das propriedades intrínsecas necessárias para que haja a harmonia universal, é preciso que a Inteligência Suprema seja a causa para a ação das outras inteligências. Somente a Causa Primária cria, as outras reproduzem a criação comandada pela Causa Primeira.

“Julga-se o poder de uma inteligência pelas suas obras; nenhum ser humano não podendo criar o que produz a Natureza, a causa primeira, pois, é uma inteligência superior à humanidade”.

“Quaisquer que sejam os prodígios realizados pela inteligência humana, essa inteligência tem, ela mesma, uma causa, e quanto mais o que ela realiza é grande, mais a causa primeira deve ser grande. Esta inteligência é a causa primeira de todas as coisas, qualquer que seja o nome sob o qual o homem a designa” (O Livro dos Espíritos – comentário de Allan Kardec à pergunta 9)

Ao universalizar as informações que estava recebendo da espiritualidade (Deus Causa Primeira), o próprio Allan Kardec concluiu que Deus é a Causa Primária da inteligência humana. Seus seguidores ao individualizar as informações chegaram ao conhecimento que Deus é a Causa Primária dos não inteligentes e que contra a inteligência dos humanos Ele nada poderia fazer a não ser sentar-se em Seu trono de ouro, julgar e punir os seres.

Apesar dos seguidores do espiritismo não reconhecerem Deus como Causa Primária deles mesmos, O Livro dos Espíritos é um tratado à Causa Primária. Desde a primeira pergunta todo o desenrolar desse livro é uma explicação da Causa Primeira das coisas, racionais ou não racionais.

“Imaginamos injustamente que a ação dos espíritos não deve se manifestar senão por fenômenos extraordinárias. Quiséramos que nos viessem ajudar por meio de milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é assim; eis porque sua intervenção nos parece oculta e o que se faz com o seu concurso nos parece muito natural. Assim, por exemplo, eles provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; eles inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; eles chamarão sua atenção sobre tal ponto, se isso deve causar o resultado que querem obter; de tal sorte que o homem, não crendo seguir senão seu próprio impulso, conserva sempre seu livre arbítrio”. (O Livro dos Espíritos – Comentário de Allan Kardec à resposta da pergunta 525).

Se Deus é a Causa Primária das ações do homem, comandando a sua inteligência, como se processa esse comando?

“459 – Os espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações? A esse respeito sua influência é maior do que credes porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem” (O Livro dos Espíritos)

Falamos anteriormente que as ações surgem de uma decisão que o ser toma no seu processo raciocínio. Essa decisão é alcançada após uma análise da percepção. Afirmamos também que essa decisão é sempre uma matéria universal, nesse caso, um sentimento. Assim, podemos afirmar que o ser humano raciocina escolhendo sentimentos para interpretar as percepções.

Quando demos essa definição um elemento do raciocínio não foi comentado: o pensamento. Quando o ser raciocina sobre uma percepção aparecem diversas histórias que argumentam o raciocínio. Se uma pessoa que é odiada é percebida o pensamento irá dizer que ela não presta, que ela feriu. Se uma pessoa é invejosa, o pensamento irá contar a história dessa inveja, se ela é gananciosa, a história da ganância, se é atrevida, a história dos atrevimentos. Podemos afirmar que o pensamento é uma história que justifica o sentimento escolhido para reagir a uma percepção.

No pensamento o ser humano encontra motivos para sentir determinado sentimento sobre aquela percepção. Se o ser escolhe raiva a história sempre refletirá motivos para que a raiva seja sentida, se o ser escolhe desprezo o pensamento mostrará todos os motivos pelos quais o ser deve desprezar a percepção. Jamais uma história conterá elementos que espelhem sentimentos contrários aos escolhidos. Caso o ser tenha escolhido inveja, a história jamais trará elementos que não justifiquem esse sentimento.

A escolha dos sentimentos pelo ser é feita inconscientemente. Apesar de sentir o sentimento, o ser não consegue ver o seu raciocínio escolhendo um sentimento. Já o pensamento está no nível de consciência consciente, utilizado pelo ser para raciocinar durante a existência carnal. Por esse motivo podemos afirmar que o pensamento é uma materialização dos sentimentos escolhidos inconscientemente.

É sobre essa consciência do pensamento e inconsciência da escolha do sentimento que Kardec se refere no final do comentário à pergunta 525: “não crendo seguir senão seu próprio impulso conserva sempre seu livre arbítrio”. O ser possui o livre arbítrio de escolher um sentimento para perceber alguma coisa e os espíritos lhes intuem o pensamento para que a ação ocorra de acordo com os desígnios de Deus. O pensamento, portanto, é a causa primeira do raciocínio que gerará uma ação.

Deus, através dos seres desencarnados que auxiliam os irmãos na carne, dá os pensamentos para que o ser encarnado aja conscientemente para manter o equilíbrio universal. É dessa forma que se processa a Causa Primeira nos seres (elementos racionais).