O nobre caminho

Atenção plena correta

“ATENÇÃO – Aplicação cuidadosa da mente a alguma coisa” (Mini Dicionário Aurélio – 3a Edição)

Toda compreensão começa com uma percepção que é recebida quando o ser está atento (consciente) do objeto da percepção. Quando o ser está desatento ao acontecimento presente, não conseguirá alcançar a compreensão correta do acontecimento.

Alcançar a “atenção plena correta” é estar vivendo o agora, prestando atenção ao que está se passando aqui e não em outro lugar ou em outra época. A “atenção plena não correta” é estar vivendo o aqui com o pensamento em acontecimentos passados ou futuros, ou ainda em outros assuntos.

Dificilmente o ser humano vive o aqui e agora. Sempre seu pensamento foge para os conceitos gerados em acontecimentos anteriores ou projeta resultados futuros dos acontecimentos atuais, criando novos conceitos individualistas. Essa forma de proceder facilita a compreensão não correta do acontecimento, ou seja, a ação dos seus conceitos individualistas.

Quando o pensamento do ser está preso em acontecimentos anteriores a compreensão do agora está sendo influenciada pelos conceitos individualizados formados àquela época. Quando ele se prende em conjecturas dos reflexos futuros do acontecimento, sempre utiliza o seu “achar” para projetar esses reflexos e por isso foge à compreensão correta. Além disso, ao se projetar para o futuro, o ser estará criando agora um conceito individualista que será utilizado naquele momento. Se o conceito não for satisfeito quando o momento chegar, o ser não conseguirá alcançar a felicidade.

“Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem e que não é exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez mais justo dizer que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera. Se me é permitido falar assim, direi que vejo e admito três tempos e três tempos existem. Diga-se mesmo que há três tempos: passado, presente e futuro, conforme a expressão abusiva em uso. Admito que se diga assim. Não me importo, não me oponho nem critico tal uso, contanto que se entenda: o futuro não existe agora, nem o passado. Raramente se fala com exatidão. O mais das vezes falamos impropriamente, mas entende-se o que queremos dizer” (Confissões – Livro XI – Cap, 21 – Santo Agostinho).

Nota: No texto de Santo Agostinho o termo “mente” deve ser compreendido como o ser que habita a matéria carnal.

Se Deus é a Causa Primária de todas as coisas, Ele só pode estar presente no agora, pois já agiu no passado e ainda não causou o futuro. Quem vive do passado ou no futuro não encontra Deus e não alcança a compreensão correta dos acontecimentos. Para que a compreensão correta aconteça o ser deve estar presente no aqui e agora compreendendo que tudo é ação de Deus para a sua felicidade.

“Imaginamos injustamente que a ação dos espíritos não deve se manifestar senão por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem ajudar por meio de milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é assim; eis porque sua intervenção nos parece oculta e o que se faz com seu concurso nos parece muito natural. Assim, por exemplo, eles provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; eles inspirarão o pensamento de passar por tal lugar; eles chamarão sua atenção sobre tal ponto, se isso deve causar o resultado que querem obter; de tal sorte que o homem, não crendo seguir senão seu próprio impulso, conserva o seu livre arbítrio” (Comentários de Kardec à pergunta 525 – O Livro dos Espíritos)

Um dos ensinamentos mais fortes que compõem a consciência crística e que estamos falando a todo instante nesse livro é que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Todos os atos do ser possuem como causa primária os desígnios do Pai para que possam acontecer. Assim sendo, toda atenção do ser será dirigida para determinado objeto, assunto ou pessoa, somente quando Deus comande e essa atenção nunca será alcançada por livre vontade do ser. O ser só percebe o que Deus quer que seja percebido.

Quando falamos em atenção plena correta não se fala em prestar atenção a um determinado objeto, pois o que cativará a atenção será determinado por Deus, mesmo que o ser não consiga “ver” este direcionamento. A atenção que estamos debatendo não é às coisas externas, mas a compreensão que está sendo alcançada pelo pensamento enquanto se recebe a percepção.

A atenção deve ser à compreensão que o ser alcança quando Deus o coloca frente ao outro. “Ver” roupa amassada ou passada, limpa ou suja, se o ser é bonito ou feio, gordo ou magro, se está ali para atacar ou elogiar é ter “atenção plena incorreta”. Todos esses adjetivos são frutos de uma compreensão não correta que utiliza seus conceitos individualistas.

Com a “atenção plena correta” na sua compreensão o ser é capaz de alterá-la, atingindo a verdade absoluta: Deus e Sua ação. Não importa qual seja a forma do corpo ou das vestimentas nem do ato que esteja sendo praticando, a compreensão correta será sempre um filho de Deus praticando atos sob o comando do Pai para auxiliar o ser a alcançar a felicidade universal. Essa é a compreensão correta de qualquer relacionamento entre dois seres, que só será alcançada através da “atenção plena correta”.

A atenção plena correta ao resultado do raciocínio permite ao ser altera-lo, levando-o a alcançar a compreensão correta que possibilita alcançar a felicidade universal. A atenção plena incorreta deixa a inteligência do ser livre para agir com os seus conceitos individualistas durante o processo raciocínio. A atenção plena correta leva à aplicação cuidadosa do processo raciocínio no sentido de aproveitar todas as situações projetadas por Deus para a felicidade do ser. Enquanto o ser permanecer atento não corretamente não aproveitará essas situações e, através de seus conceitos individualistas, gerará situações onde alcançará o sofrimento.