O poder da felicidade

Arauto do sofrimento

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Arauto do sofrimento

48. Causar sofrimento a outros

O caso que vamos analisar agora é o de uma pessoa que afirma que ela se contraria quando o que faz acaba levando sofrimento a outras pessoas. Mesmo que não tenha a intenção de fazer o outro sofrer, acaba causando sofrimento ao próximo. Esse fato de ser o arauto de um sofrimento lhe causa contrariedade. Vamos analisar esta questão para podermos saber como vencer esta contrariedade e viver a felicidade.

O primeiro aspecto que precisamos levantar na questão da análise na busca de ser feliz é o fato de causar sofrimento a outro. Vamos começar por aqui.

O que é sofrer? O que é viver em sofrimento, ter um sofrimento? É algo íntimo, dentro de cada um. Não existem sofrimentos externos, pois trata-se de uma emoção, de um estado de espírito.

Ora, se não há acontecimentos externos que possam causar sofrimento e se como diz o Espírito da Verdade, o ser encarnado é livre para optar entre o bem e o mal, todo estado de espírito sofredor é decorrência do livre arbítrio de cada um. É aquele que recebe, que participa do acontecimento como receptor de uma ação, que opta, escolhe sofrer naquele momento.

Sendo assim, não pode ser quem age que causa o sofrimento para o outro. Sei que é difícil entender isso, mas vamos com calma, por partes, que compreenderemos o que quero dizer.

Quantas vezes com certeza já aconteceu com você de ter que dar uma notícia a alguém e se preparou durante muito tempo para isso, pois achou que o que ia falar seria muito ruim para quem receberia. Só que chega na hora que dá a notícia e a pessoa ou não sofre ou pelo menos não a recebe com o impacto que imaginava. Ao contrário, quantas vezes saiu correndo para dar uma boa notícia para alguém e ela sofreu com o que disse?

Essas são observações que precisa fazer para internamente saber que não é você que é o arauto da infelicidade. Sim, com certeza levou a alguém uma notícia que pode causar prejuízo, carência ou até justificar o sofrimento do próximo, mas na verdade quem decidiu sofrer foi o próximo. Essa decisão não tem nada a ver com a notícia que deu, mas com o estado de espírito do outro.

É quem recebe que determina se a notícia é boa ou ruim. Essa determinação é fruto de uma ação de foro íntimo, depende de quem a receberá

Quantas vezes já acordou bem de manhã e por aparentemente nada perde este estado de espírito? Por causa disso começa a sofrer com qualquer coisa. Se alguém diz que você é bonito, isso já é motivo para querer discutir. Acha que está brincando, que está tirando uma com a sua cara.

Da mesma forma, ao contrário, quantas vezes acordou não tão bem, mas resolve mudar o seu estado de espírito. Nestes dias, mesmo que alguém lhe conte uma história triste, nada lhe abala.

Isso está dentro de cada um. É a partir deste estado de espírito geral que cada um decide como reagir emocionalmente à informação que é recebida. Este é o primeiro argumento que precisa ter em mãos para não sofrer: o sofrimento é escolha de cada um ao que acontece na vida.

Portanto, você não é responsável pelo sofrimento do outro.

49. Dar boas notícias

Só que há um problema a mais nesta história que lhe faz sofrer ao ver o outro escolher sofrimento, mesmo que sabia que não é você que é o arauto. Estou falando assim com você porque sei que já me ouviu muito e por isso tem a consciência do que falei anteriormente. Só que mesmo conhecendo o ensinamento continua sofrendo quando se torna o porta voz do sofrimento dos outros. Por isso vou continuar na minha análise.

O que lhe faz sofrer, o que lhe faz se contrariar com a sua ação neste mundo não é o sofrimento dos outros. Se fosse, por saber do ensinamento, não mais estaria sofrendo. Como continua, tenho a certeza de que há outro motivo, outra razão para sofrer. Por causa dele é que não consegue colocar a felicidade no momento que está agindo e o vivencia em contrariedade.

O motivo é que não está atacando no lugar certo. Não está agindo em um lugar realmente pode libertar-se da sua contrariedade.

Como disse não é o fato do outro sofrer como consequência da sua ação, de ser o arauto do sofrimento dos outros, que lhe faz sofrer. Sabe o que é? É só querer dar boas notícias.

O que lhe faz sofrer é achar que deve ser o instrumento de apenas boas notícias aos outros. É daqui que surge a sua contrariedade. Ela não tem nada a ver com o sofrimento dos outros, mas sim com aquilo que não quer para si.

Este é o trabalho da busca da sua felicidade. Aquele que tem nas suas mãos o poder para ser feliz sabe que nunca a origem do seu sofrimento está no outro, mas em si mesmo. Sab, também, que a origem está na contrariedade, ou seja, em não fazer o que quer. Por isso, ao invés de buscar coisas no outro ou no que faz, busca no seu mundo interno o que queria estar fazendo.

Me desculpe, mas tenho que lhe dizer que ninguém neste mundo é bonzinho, maravilhoso, perfeito, santo. Como acabei de dizer, a vida é vivida em vicissitudes. Por isso haverá momentos onde viverá o papel de bonzinho do filme, mas há outros em que precisa viver o de bandido, de malvado.

É isso que precisa entender. Você não pode ser apenas o arauto de boas notícias. Como se diz em O Livro dos Espíritos, tem mais uma função a encarnação: o espírito toma um corpo de acordo com o mundo onde viverá para ali contribuir para a ordem geral, ou seja, realizar os acontecimentos das encarnações dos outros, sob as ordens de Deus.

Isso quer dizer que você não pode fazer só o quer, mas sim o que Deus sabe que o próximo precisa. Se ele precisa levar um tapa na cara e você for o instrumento escolhido pelo Pai para isso, nada poderá impedir que aja desta forma. Por mais que queira beijá-lo, desferirá o tapa com certeza.

É isso que precisa se atentar. Deve saber que não importa o que está fazendo, será sempre um instrumento de Deus para a obra geral, para encarnação dos outros espíritos. Mais: saber que não existe um instrumento que sempre será arauto das boas notícias, mas sempre o perfeito para suprir perfeitamente a necessidade do outro.

Quando entender isso, qual o problema de falar alguma coisa e o outro escolher sofrimento? Quando entender isso, qual o problema de levar más notícias para alguém? Está fazendo o que precisa ser feito. Aliás, não está fazendo, mas sendo instrumento para que Deus faça.

Com este conhecimento acabam-se as contrariedades, acaba o sofrimento.

50. A felicidade depende do senhor que se serve

Agora, para fazer isso, é preciso escolher a que senhor irá servir. Escolhendo como prioridade básica na sua vida ser o bonzinho para os outros, sofrerá. Escolhendo servir a Deus, ou seja, amar a tudo, não se contrariará como arauto de situações onde os outros escolhem sofrer.

É isso que precisa fazer. É isso que precisa buscar se conscientizar e pôr em prática quando puser.

Aquele que tem o poder da felicidade sabe que é senhor apenas da felicidade e não da vida. Sabe que é senhor do seu mundo emocional, mas sabe que é – não vou dizer escravo – mas um serviçal que opera nas hostes divinas. Quando tem essa consciência, luta para servir a Deus e não à matéria.

Parece incongruente dizer que é um serviçal, mas que precisa escolher servir a Deus ou à matéria, mas isso não é real. Tem muito serviçal que fisicamente serve a um senhor, mas não se entrega interiormente a ele. Este cumpre com o seu trabalho, mas não cumpre o seu trabalho com dedicação ao senhor.

Servir externamente e internamente parece a mesma coisa, mas não é. Em um tipo de serviço serve apenas fisicamente, no outro serve de corpo e alma. O primeiro serve à matéria; o segundo a Deus.

Só que para viver assim é preciso antes compreender que nunca será portador de sofrimento ao próximo, mas que cada um escolhe sofrer ou não com a ação que é praticada. Precisa entender também que não pode levar só o que quer, só o que humanamente falando é bonito, mas que precisa levar o que Deus acha que aquele precisa.

Para poder viver feliz, você precisa ser um porta voz de Deus à serviço Dele e não à serviço da sua materialidade.

Participante: como é ser um porta voz de Deus e não da sua materialidade na prática?

Você falou alguma coisa, a pessoa que ouviu não gostou. Neste momento deve dizer a si mesmo: ‘Deus me mandou falar isso, se o outro não gostou, não é problema meu’.

Participante: não se contrariar com o que fala?

Não se contrariar porque aparentemente está causando sofrimento.

Isso tem a ver com a intencionalidade. Tendo a intencionalidade humana, está a serviço da humanidade, irá querer fazer o que humanamente é melhor para o próximo. Estando à serviço de Deus, não se importa com o que faz para os outros, mas mantém-se em paz e harmonia interna, porque foi isso que Deus lhe mandou fazer.

Isso só vale para usar depois que aconteceu, depois que já deu a notícia. Na hora que está se imaginando o que será feito, isso vira argumento da mente para justificar o que acontecerá.

Participante: neste último caso o senhor está se referindo ao momento em que ainda não aconteceu a ação e nós estamos preocupados no que irá dar da nossa ação?

Não.

Estou me referindo ao momento onde a mente lhe diz: ‘vou chegar lá, irei falar o que quero, porque aquela pessoa merece que eu diga o que tenho para dizer, pois ela não presta mesmo’. Isso são argumentos que a mente está usando para justificar o que irá acontecer.

Quando você já fez e a mente lhe acusa ou vangloria-se por ter feito, este é o momento de cortar.

Participante: e quando a mente está em dúvida se faz ou não, mas acaba fazendo e depois avalia o que foi feito?

A mente nunca está em dúvida. Na verdade, ela está lhe dando a ideia de haver uma dúvida. Por isso é preciso responder a ela: ‘o que acontecer, acontecerá’.

Agora, se conseguiu fazer, não aceite nem a culpa nem a glória pelo que aconteceu.