Ensinamentos de Krishna - Resumo

A renúncia ao desejo

02 – Sabe ó Arjuna, que o que é chamado sannyâsa (ou renúncia) é idêntico à yoga, porque ninguém pode ser um yogue se não renuncia ao desejo pelo fruto da ação. (Bhagavad Gita – Capítulo VI)

É preciso lembrar sempre destas palavras: ninguém pode ser um iogue, ou seja, um espírito que aproveitou a oportunidade da sua encarnação, se não renunciar à intencionalidade, ao fruto da ação. Hoje vocês acham que yogue é aquele faz ioga. No entanto, isso não é real, porque a compreensão do que têm sobre yoga é errônea.

Yoga para vocês é a prática de determinados exercícios físicos. É assumir determinadas posturas para alcançar o equilíbrio. Mas, para isso não é preciso assumir posição alguma: apenas renunciando ao fruto da ação o ser consegue a paz e a harmonia que tanto busca.

O que lhe tira a paz, a tranqüilidade e o equilíbrio? Os contratempos da vida. O que é um contratempo? É alguma coisa que acontece diferente daquilo que o ser almeja para si naquele momento. Se este ser humanizado não esperasse nada deste momento, ou seja, se houvesse renunciado ao fruto da ação e agisse sem egoísmo, será que ele veria contratempo no que aconteceu naquele momento? Claro que não... Aquele que pratica a renúncia jamais espera nada e por isso não se contraria com o que acontece...

A questão da yoga abordada aqui pode ser levada a outras crenças. De um católico se espera que ele faça o sinal da cruz e se ajoelhe frente ao altar, do espírita se espera que ele tome a posição com as mãos espalmadas na hora do passe, etc. Mas, nenhuma destas posturas serve para a elevação espiritual se não forem acompanhadas com a renúncia dos frutos da ação ou do egoísmo.

Na verdade, a única coisa que pode levar o ser à evolução espiritual é renunciar aos frutos da vida. Esse é o caminho. O caminho que Jesus, Buda e todos que são chamados de santos seguiram. Sem isso não há elevação espiritual.

03 – Para o homem meditativo que busca alcançar a união (yoga), diz-se que a ação não intencional é o meio; mas, para aquele que já se estabeleceu na yoga, diz-se que a inação já é suficiente. (idem)

Para aquele que está caminhando, o livrar-se da intenção é necessário. Somente depois de se livrar dela é que realmente se pode viver a inação.

Inação é a vivencia da ação sem intenção. Quando o ser humanizado conhece o ensinamento que deve renunciar às intenções, gera automaticamente a intenção de não ter intenções. Conseguindo se libertar da intenção de fazer algo material, acha que conseguiu, mas não vê que sua intenção tinha mudado: ela agora consistia em viver sem a intenção. Por isso, apesar de achar que está praticando a inação, este ainda está preso a uma intenção.

Por isso Krishna ensina que viver os acontecimentos sem intenção é apenas um meio para se chegar à inação. Ela só é realmente alcançada quando o ser consegue retirar todas as intenções do momento, inclusive a de não ter intenções.

04 – Quando já não se tem apego pelos objetos sensórios nem pelo ato intencional e seus frutos, desse diz-se que realiza a yoga. (idem)

O ser humanizado realmente realiza a yoga, torna-se um iogue quando chega à ação sem intenção. Enquanto não alcançar isso, ele é um meditativo.

O termo meditativo aqui está sendo usado porque estamos falando da cultura hindu. Se estivéssemos falando de cristãos, poderíamos dizer que ele é um rezador. Falando de espíritas, que prezam a caridade material como fundamento para a elevação espiritual, diríamos que ele é um caridoso.

O ser que executa os ditames de uma religião, mas que ainda não pratica a renúncia do fruto da ação pode ser qualquer coisa, menos um espírito elevado.