Conversando com um espiritualista - volume I

Ser instrumento de Deus

Participante: o que devemos fazer para nos tornarmos verdadeiros instrumentos de Deus na propagação dos ensinamentos? Para quem aceitou a mediunidade agora, quais os cuidados que devemos ter?

Vou falar não só para quem aceitou agora, mas também para todos. Vamos conversar sobre isso.

O que você deve fazer para tornar-se um verdadeiro instrumento na propagação dos ensinamentos? Propagar os ensinamentos. É simples: você só vai se tornar num propagador dos ensinamentos quando os propagar... Agora, ao propagar o ensinamento, há aspectos que nós precisamos conversar.

Primeiro: saber o que é um ensinamento de um mestre.

O ensinamento de um mestre são palavras que se transformam em um princípio, que se seguido, lhe leva a algum lugar. Isso é um ensinamento.

O conjunto de ensinamentos é uma doutrina. Doutrina é um conjunto de princípios, que se seguido, lhe leva a algum lugar.

Estes dois conhecimentos são necessários para aqueles que querem propagar os ensinamentos dos mestres. Só que há detalhes que precisam ser levados em consideração.

A primeira questão é que todo ensinamento tem um fundamento, uma razão para existir. Vou tentar explicar isso.

Cristo disse assim: ‘eu vim trazer a boa nova do reino do céu’. Essa boa nova é o conjunto de ensinamentos que ele trouxe, a boa notícia do reino do céu. Mas, que boa noticia ele trouxe? A de que havia um reino do céu onde os espíritos gozariam da bem aventurança, da felicidade. Quando entendemos isso, devemos ter a consciência de que todos os ensinamentos de Cristo foram trazidos para essa finalidade, para que isso aconteça.

A partir desta rápida análise, você começa a ver a primeira questão sobre como transmitir bem os ensinamentos dos mestres: quando fizer isso, use sempre a finalidade com a qual o ensinamento foi transmitido. Não altere a finalidade dos ensinamentos.

Quando um padre manda você levar uma carteira de trabalho na igreja porque ele vai rezar para que você tenha emprego ou quando o pastor lhe manda orar para sair da sua situação financeira ruim ou quando, ainda, um médium ou palestrante de uma casa espírita diz que você pode ser curado da sua doença, eles estão sendo propagadores verdadeiros do ensinamento de Cristo? Acho que não, pois estão usando os ensinamentos dos mestres com uma finalidade diferente daquela que o mestre Cristo transmitiu.

A finalidade do ensinamento do Cristo é criar um caminho para alcançar o reino do céu e lá viver a felicidade. Os propagadores que transmitem o ensinamento de Cristo da forma como mostrei estão presos à esta finalidade? Não, eles estão usando o ensinamento para alcançar a felicidade na terra.

Esse é o grande problema. É por conta desse aspecto que surge a infidelidade aos ensinamentos ou como Cristo ensina: a hipocrisia dos professores da lei. São hipócritas aqueles que conhecem o texto das escrituras sagradas, mas o transmite dentro de uma finalidade diferente para o qual foram gerados. Não colocar um ensinamento em prática não consiste apenas em não colocá-lo em prática nos acontecimentos de suas existências, mas também transmiti-lo com a finalidade que foram criados.

Se você que quer ser um propagador da mensagem de Deus não leu este trecho da Bíblia, eu aconselho a dar uma olhada. Ele está no Evangelho de Mateus, capítulo 23.

Eis ai o primeiro aspecto para que se torne um verdadeiro propagador dos ensinamentos: ter como objetivo o mesmo que o mestre teve. Além desse, há um segundo aspecto: a interpretação do próprio ensinamento. Vou dar um exemplo para você compreender perfeitamente o que estou dizendo.

Há uma frase onde Cristo diz assim: ‘eu não vim trazer a paz, mas a espada’. Usando esse ensinamento com o objetivo humano com o qual o transmissor professor da lei do ensinamento dos mestres utilizam, você vai dizer ao outro que Cristo tem uma espada para derrotar os inimigos dele. Que Cristo tem força, sangue de Cristo tem poder, para derrotar os inimigos dele nessa vida, os inimigos dessa vida.

Acontece que essa interpretação leva a não seguir outros ensinamentos, pois este mesmo mestre estabeleceu que um dos mandamentos que devem ser seguidos é amar o inimigo. Como, então, agora ele terá uma espada para matar o inimigo do ser humano e assim lhe dar a vitória? Se você não muda o objetivo do ensinamento, do humano para o espiritual, do viver a felicidade agora, para alcançar o reino do céu e lá viver a felicidade, você acaba ferindo o próprio ensinamento como um todo. Usando uma interpretação que não esteja dentro daquela que o mestre tinha quando transmitiu o ensinamento, você não se torna um propagador verdadeiro.

Apenas para lhe mostrar a interpretação de Cristo, o que nós sempre falamos é que essa espada realmente Cristo a tem. Ele lhe traz esta espada sempre, pois ela são os próprios ensinamentos. No entanto, ela não serve para matar seu inimigo, mas para matar a humanidade que está dentro de você. Isso porque é esta humanidade que, segundo Cristo, não lhe deixa chegar ao reino do céu.

Esse é o grande problema do nosso ensinamento: os seres espirituais encarnados e subordinados ao que a mente humana cria, que é egoísta, pensa a partir do eu e quer para o eu, vivencia os ensinamentos dos mestres com uma finalidade diferente daquelas para a qual elas foram criadas. Por isso alcança interpretações diferentes daquelas que possuíam os mestres quando transmitiram os ensinamentos.

Eis aí, portanto, a sua resposta: se você quer ser um instrumento fiel para a transmissão dos ensinamentos dos mestres, não se preocupe em trazer a felicidade material através dos ensinamentos a ninguém e não use os ensinamentos dos mestres com sentido diferente daqueles que atendam a todos os requisitos transmitidos por eles.

Por causa disso, recentemente transmiti uma mensagem aos médiuns: a hora do juízo final está chegando. Por isso, reflitam nos ensinamentos dos mestres e no que eles mostraram como objetivo a ser alcançado e parem de querer prometer uma felicidade que na maioria das vezes não vem. Mesmo quando ela vem, transforma-se a causa de mais sofrimento, porque leva o ser humanizado apenas ao prazer e não à felicidade. Disse mais: o trabalho mediúnico não é distinção, não é característica de avanço espiritual de nenhum ser, mas sim uma prova, mas sim um trabalho para você fazer para Deus e não para você.

Por isso deixei essa orientação aos médiuns e vamos falar muito dela ainda. Precisamos refletir sobre a mediunidade e compreender que ela precisa ser vivida como realmente é: ser instrumento Deus. Quando o ser humanizado vivencia a mediunidade como instrumento de Deus, cumpre a sua missão e passa na sua prova. Quando coloca a mediunidade à disposição da humanidade, está servindo ao diabo. Está servindo ao tentador gerado por Deus, está indo contra Deus.

Estas são as orientações que eu teria para você que está iniciando no trabalho mediúnico, mas também para todos aqueles que já estejam a muito tempo nessa roda: reflitam sobre o que estão fazendo. Como Cristo ensinou, vocês são o sal da terra, são o tempero da vida dos outros. Mas, se o sal perde o sabor, ou seja, se o tempero não está mais de acordo com os objetivos dos ensinamentos dos mestres, ele é jogado fora e é pisado pelos outros.

Saiba que no que vocês chamam de umbral, existem muitos médiuns, muitos professores da lei, muitos doutores da lei, que se consideraram muito grandes, porque realizaram proezas, milagres, mas quando saíram da carne viram que apenas contribuíram para as provas dos outros. Viram que o aparente milagre não era graça, mas sim prova. Com isso se culparam pelo que fizeram.

Ninguém os culpou: eles se culparam. Ao se culparem, acharam que mereciam estar no umbral, e como já falei antes, como o universo é feito por afinidades, se juntaram aqueles que se culpam.