Conversando com um espiritualista - volume III

Rompendo com a razão

Participante: como se faz para se romper com a razão?

Você me fez uma pergunta difícil com uma resposta tão fácil... Como se rompe com a razão? Sendo fiel a você mesmo.

Você acredita que é um espírito? Seja fiel aos valores do ser universal. Acredita que está encarnado? Seja fiel aos objetivos da encarnação elencados pelo Espírito da Verdade na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos. Acredita que nasceu para realizar o trabalho da reforma íntima? Priorize a vivência dos caminhos que os mestres ensinaram para que realize este trabalho. O problema é que você acredita nestas coisas, mas só usa estas crenças para obter vitórias.

Mais uma vez relembro: não estou lhe acusando de nada. Estou apenas mostrando uma forma de relacionamento que os seres humanizados comumente fazem com as informações que recebem dos mestres: usá-los como um tesouro que lhes enriquece.

O que os mestres ensinaram serve apenas como uma placa que mostra um caminho que deve ser caminhado. No entanto, a maioria dos seres humanizados ao invés de caminharem, ou seja, colocarem em prática o ensinamento, o trata como um tesouro que deve ser protegido. Por isso os enterra no fundo do mar. Mas, de que vale um tesouro no fundo do mar? Se ele não pode fazer nada por você, de nada vale.

Os seres humanizados não rompem com razão porque não colocam em prática os ensinamentos que recebem Na verdade, eles só servem como elementos para gerarem um discurso que os levem a provar que possuem maior cultura, ou seja, são utilizados como armas para obter uma vitória.

Em O Livro dos Espíritos (Introdução I) Kardec define o espiritualista como sendo aquele que acredita haver algo além da matéria. Acontece que tanto ele quanto os mestres também afirmaram que o apego à letra fria, ou seja, a crença sem prática, de nada vale. Por isso, para que alguém possa se dizer espiritualista é preciso mais do que acreditar haver algo além da matéria: é preciso viver para este algo mais.

É a partir desta consciência da necessidade de se viver para o algo mais que se acredita existir que começa o rompimento com a razão. Ele começa quando você diz para si mesmo que acredita que é um espírito, que crê que está encarnado para promover a reforma íntima e assim comungar com Deus e que para isso precisa libertar-se da ação da razão. Ou seja, ele começa quando você consegue superar sua própria razão motivada pelas crenças que afirma ter.

Quando você se torna fiel a sua ideia de que é um espírito e começa a viver para este ser que imagina que é e para o mundo dele, pode aceitar que a razão humana é má educada e soberba e romper com ela. Mas, enquanto a ideia de que você é um espírito só existir como um recurso para que você se sinta mais culta do que quem não acredita nisso, só servirá como instrumento para a razão lhe colocar em batalhas por novas vitórias e assim lhe dar o prazer.

Quem não coloca o ensinamento que recebe em prática acaba apenas buscando vitórias. Foi o caso de um católico que acreditando no repouso dos mortos até a volta de Cristo, ironizou um japonês que estava colocando um prato de arroz em outra sepultura: ‘você é mesmo burro. Se fosse cristão saberia que os mortos estão dormindo e que por isso não podem voltar a Terra. Quem já morreu não pode comer este arroz’. O japonês respondeu: ‘pode sim’. O cristão vaidoso de sua cultura e certo da oportunidade de passá-la para o outro perguntou apressadamente: ‘quando’? ‘Quando vier cheirar as flores que você está colocando neste túmulo’.

O cristão tinha a informação, mas ele não a colocou em prática. Por isso estava no túmulo de um ente querido colocando uma flor para um corpo que não poderia cheirá-las. Como não via que a sua cultura de nada valia a não ser como arma para obter uma vitória, acabou sofrendo.

O ser humanizado que não coloca em prática os ensinamentos que recebe não consegue romper com a razão humana. Por isso suas ações são sempre fundamentadas na soberba, ou seja, as informações servem para converter os outros às verdades que estão na sua razão.