Conversando com um espiritualista - volume III

Índole

Participante: O senhor falou de índole como algo fixo, que é único desde o nascimento. Acontece que existem algumas pessoas que alteram o seu padrão comportamental ao longo do tempo. Como fica isso?

Deus mudou o trabalho daquele ser para a obra geral. Ou seja, Ele alterou a índole para que este ser se adaptasse a novos desafios. Mas, isso não acontece ao acaso...

Lembre-se que Deus é Onisciente, ou seja, sabe de tudo. Sendo assim, ele já sabia que sua índole, em determinado momento seria alterada. Sendo assim não houve, na verdade, uma alteração, mas o mesmo planejamento continuou sendo executado.

Participante: Nós podemos nos libertar de nossa índole?

É impossível se livrar dela, ou seja, deixar de ser quem é. O que pode ser realizado é a libertação da alimentação dos frutos dela. Deixe-me explicar.

Vamos dizer que você veio como crítica. Esta é a sua índole e Deus a usará. Seria impossível você se alterar, pois a sua encarnação interage com as demais e, se você mudasse sem que isso estivesse previamente traçado, alteraria também a encarnação de outros.

Portanto, por uma questão de interdependência entre as encarnações (obra geral e não particular) seu modo de agir motivado pela sua índole não pode mudar. Só que, quando você voltar-se para Deus e abandonar as intencionalidades individualistas que dão valor aos acontecimentos, não sentirá mais prazer ou dor por ser do jeito que é.

Pode, ainda, como já disse, se estiver pré-programado, mudar a sua personalidade, mas cada ser humanizado terá sempre uma natureza, uma índole, com a qual vivenciará inconscientemente durante os acontecimentos da vida. Jamais o ser humanizado se transformará deixando de ser o que é e passando a ser um santo (praticando atos considerados bons) como fruto de sua reforma íntima.

Além do mais, se libertar da índole ou não (mudar sua forma de agir), deixa de ser o primordial para quem entende o ensinamento. A libertação da índole só é importante para aquele que julga atos, que quer ser outra pessoa.

Quem entende bem os ensinamentos sabe que o problema não é a índole, mas o fruto dela: o prazer e a dor surgidos na convivência com ela. O problema é querer gozar o fruto positivo (‘briguei mesmo, ele merecia, pois não presta’) ou negativo (‘eu não presto, porque fui fazer aquilo’) da sua índole.

A índole, por exemplo, é fundamentada na cobiça. Se, motivada por ela, Deus fizer a obra geral lhe dar posses materiais e você querer gozar isto, nada terá realizado. Do mesmo jeito, se sofrer por que não tem o que cobiça, nada terá realizado.

Agora, se mesmo querendo, possuindo ou não, você mantiver uma postura sentimental equânime, terá alcançado a liberdade do ego e terá saído do pecado que Paulo fala.