Caridade espiritual

Respeito à comunidade

Sempre que existe uma equipe trabalhando com um objetivo comum, temos uma comunidade. A convivência de um grupo de pessoas às vezes muito diferentes entre si sempre é difícil e não raras às vezes acabam existindo rixas, discussões, mal entendidos. Por isso, os trabalhadores de uma casa precisam ter respeito para com a comunidade que vive.

Não há como se viver em sociedade sem respeito pelo outro. O encontro de duas pessoas onde não haja respeito acaba sempre em briga, nem que seja uma guerra ideológica. Não existe como se relacionar com uma pessoa, quanto mais com um grupo delas, sem respeitar o direito do próximo ser, estar ou fazer diferente do seu desejo. Quando alguém não respeita o direito do próximo ser, estar ou fazer está exigindo este direito para si mesmo.

Qualquer comunidade possui uma identidade própria. As individualidades que a compõe precisam aderir a ela para que a comunidade consiga sobreviver. Se as individualidades não aderem a ela e, ao invés disso, ficam tentando ser a própria comunidade (decidir o que a comunidade tem que fazer ou pensar), este grupo de seres humanizados não tem futuro juntos. Quando um 'eu' tenta se sobrepujar aos outros 'eus' que pertencem à comunidade, ela deixa de ser um grupo, para ser um bando que é guiado... É por isso que o desrespeito ao outro é problemático.

Quando um ser humanizado quer dizer à comunidade o que ela deve fazer, demonstra o desejo de ser dono dela. Neste caso ela não é uma comunidade, mas um bando de seres humanizados que se transformam em serviçais de um senhor.

Quem tem que decidir o que vai acontecer e como a casa vai proceder é a comunidade e não um só.

Participante: Você está falando da maioria?

A comunidade é a comunidade toda. Não é maioria ou a minoria, mas o total de um grupo de seres humanizados que pertencem a ela. Aliás, só existe minoria quando há uma maioria, pois aquela é criada por esta. Num lugar onde todos comungam tudo não há maioria ou minoria. Agora, num lugar onde não existe respeito pelo próximo, existem divergências e daí surge a maioria e a minoria.

Participante: Como tomar uma decisão para a casa dentro desta sua visão?

Pela própria decisão da comunidade. O que ela decidir será a decisão da comunidade, ou seja, de todos.

Estou entendendo a sua preocupação. Você quer saber como se chega a uma diretriz: todos da comunidade votam e decidem o que será a verdade da dela. A partir daí todos seriam obrigados a cumpri-la. Não, não é disso que estou falando...

Como já falei anteriormente, a obrigação acaba com a neutralidade necessária para a execução dos trabalhos. Não estou falando em submeter-se à decisão da maioria já que quer participar daquela comunidade, mas em integrar-se perfeitamente a ela.

Não estou falando que não deve haver votação: pode até haver... O que estou dizendo é que depois de uma votação, não existe mais maioria ou minoria: existe uma decisão da comunidade. Por respeito a esta decisão aquele que foi voto vencido na votação muda a sua forma de pensar.

Digamos que a uma comunidade se juntou para decidir em que dia ia trabalhar com apometria. Depois de todos falarem, e votarem, se quiserem, fica decidido que isso acontecerá na terça-feira. Os trabalhadores que achavam que existia outro dia da semana melhor ou mais propício para isso devem esquecer a sua posição individual e aderir ao que a comunidade entendeu como certo. O problema é que quando não há o respeito pela comunidade, as pessoas que foram contrárias a decisão que saiu vencedora não mudam seu ponto de vista e com isso gera-se instabilidade no grupo. Isso acontece porque não há respeito à comunidade.

Quando o trabalhador respeita a sua comunidade ele não quer que sua vontade se imponha aos outros. Quando ela é acatada ele não se regozija e quando ela é descartada, ele, por respeito à comunidade, abre mão de sua opinião. Quando alguém se sente integrante de uma comunidade e a respeita, quando ela toma uma decisão esta passa a ser dele também. Quando não há esta postura, a comunidade está malfadada.

Se alguém participa de uma comunidade sem respeito a ela, quando se toma uma decisão em nome dela, esta pessoa não muda a sua opinião. A partir daí, começa a fazer fofocas com a intenção de minar aquela decisão e acabar sobrepujando a sua vontade. Um cenário desse leva a comunidade à desagregação e a se transformar em apenas um bando de pessoas.

O trabalhador que não respeita a própria comunidade torna-se um câncer para ela. Se o trabalhador não tiver respeito pela comunidade e adotar a decisão comum como sua, podem ter certeza que o câncer vai comer toda a comunidade.

Por isso, oriento a todas as comunidades de trabalhadores que compõem uma casa: conversem, estabeleçam suas diretrizes de comum e respeitem a decisão do grupo. Não porque alguém foi voto vencido, não porque não conseguiu impor seu desejo, mas porque você pertence à comunidade e tem respeito por ela.