Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Relações com subordinados

Vamos continuar conversando sobre relações no trabalho: relação com seu subordinado.

O tema parece simples, não? Qual a relação que você deve manter com seu subordinado? Mandar nele. É assim que a mente se colocar: ‘eu sou seu superior, por isso mando e você tem que me ouvir’.

Caso ele disser ‘mas’, mesmo que você aceite que ele diga, internamente a mente está questionando: quem é ele para dizer alguma coisa? Ela lhe lembra que você é o chefe e por isso manda nele.

Sim, o chefe é quem manda. Manda o que? Manda como? Vou lhes dizer: o que é melhor para a empresa.

Participante: será?

Concordo com você. Na prática não é assim que funciona, mas é assim que deveria ser. O chefe deveria mandar, porque isso é inerente a essa função, preocupando-se com o benefício para a empresa. Só que não é assim que a mente humana funciona.

Cada vez que o ser humano exerce uma posição de superioridade com relação a outras pessoas, e não é só no emprego, a mente lhe diz que está nesse cargo porque é mais capaz, porque possui maiores conhecimentos, porque é melhor. Por isso, a razão afirma, é você quem tem que ditar o que o outro deve fazer.

Nem sempre é assim. Quem disse que você está sempre certo? A mente. É ela quem lhe diz que é o melhor e por isso está naquela posição.

Quando estiver no seu emprego numa relação onde esteja lidando com alguém que seja seu subordinado, nem que seja o cachorro que fica na porta, precisa entender que você é a empresa. O chefe não é uma pessoa: é o representante da empresa. Como tal deve se portar. Mesmo que isso fira a sua falsa superioridade.

É preciso estar atento à mente porque ela vai lhe empurrando para o abismo, lhe dizendo que a culpa do trabalho não estar dando certo é do outro, do seu subordinado. Quem disse? O primeiro responsável é o próprio chefe. Isso porque se o subordinado não fez ou fez de uma forma errada, é porque o chefe não vigiou ou não ensinou o certo de ser feito.

Essa vigilância precisa ser executada sem colocar o que vocês chamam de humildade. O chefe não pode ser humilde porque ele é o chefe. A responsabilidade e a decisão é dele. Quando ele quer ouvir todo mundo, dar voz a todos, acaba simplesmente transferindo responsabilidade.

Participante: mas não é certo ouvir a todos para depois tomar uma decisão?

Não existe certo nem errado. Acontece o que vai acontecer.

Repare na sua pergunta: ouvir a todos para depois tomar a decisão. Lembre-se que você não vai tomar decisões, pois quem faz isso é a mente. Eu diria que a decisão acontece. Acreditando que tomará qualquer decisão, se enrolou com a mente.

Participante: perfeito, mas se eu assim mesmo ouvir os outros? O que você está falando independe de ouvir os outros ou não.

Você está confundindo atos com intenções. A maioria não ouve os outros para mudar ou formar a sua opinião, mas para dizer que é um bom chefe, pois ouve a todos. Portanto, você está falando de alguma coisa que deveria ser, mas que na prática não é desse jeito. Na prática todo chefe deveria ouvir a todos com isenção e depois disso escolher o que é melhor para a empresa. Só que não é assim que a mente funciona.

A mente quer ouvir a todos para provar que ele é bonzinho, que é um chefe participativo ou até para poder sondar os subordinados para ver quem pensa igual a ele. Faz isso porque a sua intenção primária é sempre ganhar. Por isso, não creia quando ela disser que ou você ou seu chefe são bons porque ouvem a todos.

Na verdade o chefe é o responsável e deveria assumir essa responsabilidade.

Participante: não concordo muito com o que o senhor está dizendo.

Eu sei disso. Porque não concorda? Porque você tem um chefe.

Participante: não, é porque não depende de mim.

Já vai você pensar em ação, em mudar a forma de agir. O que estou fazendo é apenas mostrando o que a mente cria e não falando de ação. Também não estou julgando se está certo ou errado o modo de proceder. Estou dizendo que essa é uma característica da razão humana.

Participante: eu estou dizendo que a decisão será tomada, será dada. Não estou dizendo que eu tomarei qualquer decisão. Se eu ouvir o outro ou não, a decisão acontecerá. Então não interessa se eu fui bonito ou feio, se fui humilde ou não. Isso não interessa. A decisão, pouco importa como surja, no final acontecerá.

Não estou falando em fazer. Repare que você está preso à decisão, em tomar uma decisão. Não estou falando disso. Não estou preocupado com uma tomada de decisão, mas sim com o funcionamento da sua mente durante todo o processo decisório.

É isso que você não está entendendo. Você está preso ao ter que ouvir ou não, ao tomar uma decisão coletivamente ou individualmente. Não estou falando disso. Estou abordando o funcionamento da mente humana durante todo esse processo.

A mente que cria a ideia de ouvir primeiramente aos outros diz que está querendo ser justo e participativo, mas isso é irreal. Na verdade ela está buscando transferir responsabilidades para quando existir o não deu certo o trabalho feito a partir da decisão tomada ela poder responsabilizar os subordinados.

É isso que estou querendo dizer. Não estou falando em ouvir ou não, mas do processo mental que existe enquanto está ocorrendo uma tomada de decisões.

Ela cria a ideia de que é bom ouvir os outros como um processo de transferência de responsabilidades ou de auto vangloriar-se. Já aquela do chefe que não ouve os outros trabalha com a ideia de que ele é suficiente para resolver qualquer questão.

É isso que estou querendo mostrar: como ela funciona. A mente lhe diz que deve ouvir os outros para que seja considerado um chefe camarada, para que seja tida como uma pessoa boa para os outros, compreensível, para que as pessoas gostem de trabalhar com você. Só que tudo isso é irreal. No íntimo, naquilo que vocês chamam de inconsciente, por causa da sua natureza íntima, o egoísmo, o que ela quer é prevenir-se para não perder a fama caso o trabalho não leve ao fim esperado.

É isso que estou mostrando. Por isso não aceite quando a mente lhe disser que é obrigatório ou melhor ser um chefe desse ou daquele jeito. Não estou falando de atos, de ação. Quando falo que o chefe deveria chamar para si sempre a responsabilidade, estou dizendo o que seria um padrão lógico. Ao mesmo tempo estou querendo mostrar que a mente não segue o que seria um padrão lógico de vida.

Portanto, não aceite as histórias que a mente conta: o que tem ou não que ser feito, que tem que ser humilde e ouvir os outros e nem os motivos que ela coloca para as ações que acontecem. Isso é história. Não há humildade alguma em ouvir os outros. Isso não é um gesto altruísta, porque o ser humano é incapaz de ouvir alguém com imparcialidade.

A mente é incapaz de ser imparcial. Ela sempre ouve os outros com a intenção de provar ao próximo que está certa.

Participante: isso seria uma forma de ganhar alguma coisa?

Sim, mas cuidado com esta questão. A mente quer ganhar sim, mas não é com essa intenção que ela age. A vitória surge de outra coisa: da dominação do próximo. Ela está sempre criando ideias para poder exercer um domínio sobre os outros e com isso sentir-se vitoriosa.

A intenção primária da mente não é só ganhar do próximo, mas dominá-lo. Quando você diz que o outro está errado e tenta impor a ele a sua verdade está querendo dominá-lo. É deste domínio que surge a sensação de vitória.

Portanto, é isso que estou querendo mostrar. Quando você é chefe não deve cair nas histórias que a mente cria dizendo que deve ser humilde, que precisa ser amigo de todos, ser o bonzinho, o bonitinho, porque isso não existe. Ela só está afirmando isso para criar a consciência de que você é um bom chefe.

Quando existe um chefe desse jeito, que se isenta de chamar a responsabilidade para si, a equipe normalmente não produz o esperado pela empresa. Neste momento o chefe acaba demitido, mas como ele imagina que a responsabilidade cabe à equipe que não deu boas ideias, ao invés de ver sua própria incapacidade, acusa a equipe como responsável pela sua demissão.

Esse é o seu relacionamento enquanto chefe. Precisamos parar com a história de que o chefe precisa ser amigo de seus subordinados. Não, ele tem que ser o responsável e tem que fazer aqueles que querem tomar cafezinho, contar piadas e paquerar produzirem o que a empresa espera deles.

O problema é que esse chefe transferi a responsabilidade para os seus subordinados. Por isso quando superior do chefe o aperta com respeito à produção, ele normalmente culpa alguém pelo fracasso da sua seção e sugere demissões de subordinados. Neste momento, cadê a amizade do chefe bonzinho pelos seus subordinados? Some, porque ninguém quer ser prejudicado.

Portanto, não aceite a ideia de ser um chefe amigo. Você é o chefe, o responsável pelo trabalho da sua equipe. Para isso precisa estar a par de tudo o que acontece e precisa ter isenção para poder avaliar a produção dos subordinados. Se ele for amigo, como poderá ter essa isenção? Acabará culpando um que produza para não prejudicar o amigo.

Tem uma coisa que vocês falam muito: transferir responsabilidade. Vocês acham muito bonito quando existe um chefe que transfere responsabilidades. No entanto, já viram alguém transferi-la e ao mesmo tempo transferir o salário? Acho que não. Que beleza existe, então, nesta transferência? Que sublimidade há neste ato? A transferência de responsabilidades existe apenas para poder no futuro, se alguma coisa der errado, se ter um culpado.

É isso que estou querendo mostrar. Como disse, dentro da realidade, a verdade é que você vai para a sua empresa para trabalhar e não para ser amado como um chefe bonzinho. Vai ao seu trabalho para gerar lucros para a sua empresa.

Acho que vocês estão pensando que eu sou capitalista, não? Isso é ilusão. Quem disse isso tenha a certeza que não sou. Mas, mesmo que fosse, qual o problema? Lembro aos socialistas que se não fosse o capital, todos não teriam dinheiro.

Alguém tem que ser capitalista para que todos possam ter alguma coisa. Por isso, se você não é, tem que reconhecer que depende dele para poder ter.

Portanto, esse é o funcionamento da mente quando se exerce uma função de chefia. Ela fica criando histórias onde você deve ser um bom chefe para os seus empregados, mas na realidade deveria ser para a empresa, pois é ela que lhe paga. Quem aceita esta imposição da mente não vê que está sendo empurrado para o abismo.

Agora, se você vai ser ou não, se vai fazer, ouvir ou não, isso me interessa. Isso é ato, acontece. A minha preocupação neste momento não é discutir ação, mas sim as ideias que a mente cria, e o que está por trás delas, nas quais você compactua. É só isso.