2ª Conversa - Relações familiares e relações amorosas

Relações com os filhos

Participante: por mais que tenhamos este conhecimento, quando se trata de filho é muito mais difícil. Não deixamos de cobrar deles como de nós mesmos. Temos que estar sempre atentos. Assim acabamos por não deixa fluir a vida naturalmente com espontaneidade.

Não, o problema não quando você tem filhos. O problema é quando você se torna mãe.

Esse é que é o problema. Quando isso acontecer, não conseguirá se sentir diferente de todas as mães. Irá querer ter toda atenção e dedicação que todas elas têm, porque se considera uma.

É este trabalho que precisa começar a fazer: o de não ser mãe. Precisa compreender que você foi apenas uma parideira, apenas colocou aquela massa no mundo. Apesar disso, aquilo não é seu filho e você não é mãe.

Como disse antes, não dá para servir dois senhores ao mesmo tempo; não dá para querer ser espiritualista, querer a elevação espiritual, a felicidade e a paz e ao mesmo tempo querer ser mãe. Sempre uma coisa entrará em combate com a outra.

Portanto, o trabalho para se ter a paz nesse caso específico é trabalhar a sua postura frente a vida. Você ainda está deixando a sua natureza humana, ou seja, o fato de achar que é mãe, que gerou, que deu a vida e por isso é obrigada a cuidar e criar, lhe dominar. Aí haverá conflito sempre, porque desde que o mundo é mundo, o filho é sempre um rebelde com relação aos pais.

Por isso, digo que o trabalho quando você está desempenhando o papel de mãe ou de pai ou de guardador, protetor, é se libertar dessa posição. É o que já disse: libertar-se da ideia da obrigação.

Para você, mãe é obrigada a fazer isso, aquilo e aquilo outro. Não, mãe não é obrigada a fazer nada. A vida fará.

Só mais um detalhe que você me lembrou. Um dia uma moça me disse: como faço para criar minha filha que é adolescente? Eu disse a ela: lembra tudo o que queria ter no tempo em que era adolescente e sua mãe não lhe deixava fazer? Pois então, deixe sua filha fazer hoje. Ela me respondeu: não posso, agora sou mãe.

Eu disse, então: esse é que é o problema. Quando era jovem brigava com sua mãe querendo algo que era o melhor para si. Hoje você é mãe e briga coma a sua filha castrando o que é melhor para ela. Faz isso buscando o que hoje é melhor para você.

Melhor para você sempre: não acha que isso é individualismo?

Participante: fale um pouco como viver em paz na relação com os filhos.

Aceitando que eles são seus filhos e não você. Aceitando que são personalidades diferentes da sua e que possuem desejos e vontades diferentes. E aceitando que você mesmo tendo dado luz, não é dona deles.

Aceitando que mesmo estando na posição de mãe eles não são seus, não são suas propriedades que faz o que quer. Respeitar o direito deles, respeitar o livre arbítrio deles.

Essa é a única forma que uma mãe pode ter paz com seus filhos. Todo momento que você cobrar alguma coisa deles, quem perderá a paz é você.

Participante: um filho menor que não quer ir mais para a escola. Como conviver em paz com isso?

Sabendo que esse é o futuro dele. Deixe ele não ir. Mas, mais do que isso: retire dele tudo que não terá porque não vai a escola?

Está disposta a fazer esse sacrifício ou irá tirá-lo da escola e lhe dará tudo de bom e bonito?

Participante: vou falar de uma experiência ocorrida comigo. Minha filha quis fazer uma tatuagem e de início fui contra. Depois raciocinei que era o corpo dela e seria de responsabilidade dela fazer isso. Só poderia apontar as consequências de tal atitude e que seria de inteira responsabilidade dela as consequências. Estou certo?

Sim. Você contra argumentou contra um argumento da sua mente. Este é o caminho.

Apesar de ter dito sim, não posso dizer que você está certo. O que fez não é certo nem errado, mas apenas um caminho que lhe trouxe a paz.

Tudo o que se faz não é certo nem errado, mas caminho para algum lugar. Se o que foi feito trouxe a paz, foi caminho para ela. Agora, pode ser que depois a mente venha a cobrar de outro jeito.

Pode ser que no futuro, por exemplo, sua filha tenha problemas em arranjar emprego por causa das tatuagens que fez. Pode ser que ela, então, lhe dê a culpa pelo que ela está passando. Este é outro momento onde deve agir.

Não aceite a culpa pelo que aconteceu. Como você mesmo disse, exerceu a sua função de pai alertando-a sobre as possíveis consequências daquele ato, mas mesmo assim ela quis fazer. Que culpa tem você?

Saiba que não existem soluções prontas. A cada momento da sua existência você tem que travar uma batalha para poder manter a paz. Em cada uma delas é preciso que tenha suas armas para lutar especificamente contra o acontecimento.

Eu conheço uma pessoa que foi contra o filho fazer tatuagens. Hoje ele tem três.