Conversando com um espiritualista - volume II

Punição

Participante: há muitas questões em O Livro dos Espíritos que eu ainda considero conflitantes com as ideias da doutrina que nos ensinastes. Embora já tenha aceitado pelo coração as novas ideias, ainda é incômodo conciliar totalmente o ecumenismo com a Doutrina Espírita. Aí vai uma: creio que na pergunta 224b deve haver um pro9blema de palavras. Segundo a questão, Deus pode impor uma encarnação para punir um espírito, em certos casos. Existe punição ou não?

“224. Que é a alma no intervalo das encarnações? Espírito errante, que aspira a novo destino, que espera”.

“224a. Quanto podem durar esses intervalos? Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Propriamente falando, não há extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada a purifica-lo das máculas de suas existências precedentes”.

“224b. Essa depuração depende da vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação? É uma consequência do livre arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem. Mas, também, para alguns, constitui uma punição que Deus lhes inflige. Outros pedem que ela se prolongue, a fim de continuarem estudos que só na condição de Espírito livre podem efetuar-se com proveito”.

Não existe punição. Esta informação está bem clara na questão 258a, quando se fala da escolha das provas.

“258a. Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar porque decretou ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem”...

Deus não impõe nada a ninguém. Deixa a cada um a responsabilidade sobre si mesmo...

Com isso, acho que lhe respondi, mas, apesar disso, querendo falar de mais um detalhe. No livro Memória Póstumas, Kardec conta que quando escrevia O Livro dos Espíritos, por muitas vezes ouviu batidas nas paredes. Um dia ele perguntou aos espíritos porque isso ocorria e eles responderam: ‘estamos chamando sua atenção porque estão sendo escritas algumas coisas que não estão como transmitimos. Por isso, quando batermos preste atenção no que você está escrevendo...’

Falo isso não para denegrir Kardec, mas para nos lembrarmos que ele não era nenhum santo, não era nada demais, mas apenas a máquina de escrever dos espíritos. Ele foi o codificador, só isso. Ele apenas codificou. Sendo assim, seria, dentro da visão humana, passível de erro.

‘Ah, Joaquim, você sempre disse que não há erro e agora vem dizendo que Kardec pode ter errado’, você me diria. Continuo afirmando: não existem erros...

Todas as questões devem estar dentro de uma ideia central. A ideia central, no caso que você levantou, é que Deus não dá punição a ninguém. Isso está espalhado por todo O Livro dos Espíritos. Apesar disso, de repente numa questão aparece a palavra punição. Porque isso acontece? Para ver se você cai na pegadinha e se sente punido por Deus ao invés de ser sentir-se amado...

Por isso disse que humanamente parece que há um erro. Aparentemente colocar a palavra punição nesta resposta está errado, mas se você entender a intenção de usá-la neste momento, o erro acaba.

Portanto, o que foi escrito não se tratou de um erro, mas um aparente erro colocado de forma proposital para gerar mais uma prova para vocês que estão encarnados. É assim que de prova em prova vocês vão fazendo a sua provação total.