Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Perguntas diversas

Participante: tenho sofrido muito na tentativa de apenas observar. Está sendo muito mais difícil que pensei. Com o passar dos dias, a mente vai dominando novamente?

Sim, para isso falei das sanghas. Este é um espaço onde o ser que está buscando pode se recuperar da luta diária e recuperar o fôlego para lutar mais.

Participante: o que faremos? Quando nos acusarem, mesmo com provas inverídicas, sobre nossa forma de ver as coisas e ela não for sociável, devemos nos entregar ao julgamento alheio e sorrir porque estaria dando certo? É para isso que estamos aqui?

O que você vai fazer, eu não sei. Que pensamento terá, eu não sei. Não posso falar nada da sua dúvida porque está abordando atos, de coisas materiais, enquanto eu falo de emoções de sentimentos.

Lhe garanto que na hora que estiverem lhe acusando, você estará sofrendo. Isso é uma emoção e aí eu posso interferir. Interfiro da seguinte forma: dizendo para não sofrer. Agora se responderá a altura, se brigará ou querer provar a sua verdade, isso é outro detalhe. Isso não lhe pertence, mas à vida.

O que estou apenas querendo é se tiver que viver estas situações, viva em paz consigo mesmo e com o mundo. Como essa paz não se traduz numa ação nem num pensamento, não posso falar nada sobre estas coisas.

Participante: acho que se já soubéssemos o significado do que já estivesse escrito nas parábolas ou nos textos sagrados, não estaríamos aqui. A questão é que parece que há significados além do que está sendo colocado. E mesmo que seja a mente quem está perguntando – e só temos a ela para fazer o trabalho de elevação ou qualquer nome que tenha – qual o impedimento de termos uma visão mais ampla, mesmo que para isso tenhamos apenas analogias, que é a base de raciocínio utilizado para as parábolas para podermos entender?

Não importa se você tem o que está escrito, o que eu digo, a decifração que outra pessoa fez: tudo isso é mente. Que importa se esse ou aquele ensinamento foi decodificado ou não. Tanto a decodificação como a não é mente. Sendo assim, o importante é que não se prenda a necessidade de decodificar ou não.

Participante: me parece que o mais engraçado é que estamos tentando nos tornar o que já somos. Comente se for oportuno.

Este é que é o grande problema: vocês estão se tentando se tornar o que já são, mas deixaram de ser porque acreditaram na mente.

Você é uma coisa; está outra. Aquilo que está é o que é. Portanto, precisa deixar de estar o que está para ser o que é.

Participante: o que não é mente na consciência humana se eu conseguir ignorar a mente não acreditando em nada que ela diz? Que realidade existirá?

Espere que você verá.

Não dá para lhe explicar isso agora. Se fizesse, seria apenas a mente que saberia alguma coisa. Quando ela usar isso de uma forma egoísta, você ou sofrerá ou irá ter prazer.

Além disso, deixe-me dizer outra coisa. Para que precisa saber o que vai sobrar quando se libertar da influência da mente? Para saber se será bom ou mal para você? Não dá para ver que essa pergunta é uma armadilha da mente para poder lhe dar a ideia de não fazer nada?

Largue tudo isso. Não se esqueça que a mente está sempre gerando questões apenas para lhe prender a ela.

Participante: eu brigo com uma banda que não quer que eu saia, mas mudam constantemente o combinado original. Querem reduzir o que foi originalmente combinado. E aí?

Sair ou ficar eu não sei nem posso falar nada. Isso é ato. O que posso lhe dizer é que não deve sofrer com qualquer coisa que esteja acontecendo, porque o seu sofrimento tem origem num pensamento que é preso ao egoísmo.

Participante: lógica e sentimento combinam? Lógica é algo mensurável; sentimento não, é abstrato. Temos que seguir a lógica ou o sentimento.

Outra vez você está fazendo confusão. Sentimento é uma coisa, emoção é outra.

A sua emoção é presa à sua lógica. Sofre por a sua mente cria pensamentos sofríveis; tem prazer por que a mente cria pensamentos prazerosos. Tem raiva de alguém porque a mente gera pensamentos que expõe essa raiva. Isso são emoções.

Essas emoções é que você não deve viver, porque o prazer e a dor são emoções, são estados de espíritos com os quais se vive as emoções humanas.

Participante: qual a lógica da lógica que existe na nossa mente. Seria somente descobrir o funcionamento dela?

A única lógica que existe na mente é tudo para mim, nada para os outros. Toda lógica da sua mente é formada para você estar certo, amar quem ama e para ter coisas. Essa é a lógica da mente.

Segunda parte da sua pergunta. Não, não é só descobrir o funcionamento da mente. É a partir do momento que descobre não se deixar levar pela lógica da mente.

Não é só descobrir a lógica da mente, porque ela continuará nela. Mas, a partir do que descobrir, não aceitar os estados de espírito de prazer e dor e viver a equanimidade.

Participante: vou insistir. Ao ignorar tudo o que a mente diz não vou ficar com cara de retardado?

Tem um ensinamento no Bhagavad Gita que diz o seguinte: o verdadeiro sábio transite entre as coisas do mundo sem se se apegar a elas, por isso anda pelo mundo com cara de bobo. A partir disso lhe digo que quando tiver interiormente a cara de bobo sabe o que fez? Venceu a vida, venceu o mundo, alcançou a verdadeira elevação espiritual;

Todos aqueles que têm cara de esperto se prenderam a este mundo. Aliás, ser esperto é estar preso ao egoísmo da mente. Quando você é esperto, ou seja, sabe das coisas, vive qualquer coisa como rela, está preso ao mundo.

Participante: eu não sei lidar bem com o dinheiro. Do jeito que entra, vai e não é pouco. Estou sendo condenado por causa de ações passadas ou o passado só existe na minha mente e eu não tenho competência para ficar rico?

Que passado? O passado acabou. O que existe é o presente.

Viva o que tem para viver em paz. Se é assim que vive, viva a vida.

Participante: E no caso de achar que poderia fazer melhor, mas não faço por preguiça e deixo para depois. Além disso, me sinto bom o suficiente, sem me sentir orgulhoso, mas sem perder a auto estima.

Cada um faz o que tem que fazer, ponto final. Se a mente lhe diz que não faz por este ou aquele motivo, isso não importa. Se ela lhe cobra fazer mais, não caia na dela. Se ela diz que está bom o que foi feito, também não acredite.

Não acredite em nada que a mente lhe diga.

Participante: o ideal será cultivar um espírito inabalável?

Cultivar um espírito inabalável: são palavras bonitas, mas não é isso. O ideal é não ter prazer nem dor. Só isso.

Participante: você está dizendo que o carma é mais forte do que as relações de trabalho, emprego e salário? Nada consegue alterar o carma e as consequências que vem dele?

Eu nunca falei isso. Você pode ter ouvido, mas eu não falei.

Nunca disse que o carma é mais forte do que a relação de trabalho, porque esta relação é o próprio carma. Como o carma pode ser mais forte do que ele mesmo?

Tudo o que vive é o seu carma. Tudo!!!!

Participante: este seu discurso de aceitação das coisas é criticado por muitos. Eles dizem que se não fosse a indignação com a realidade e um consequente movimento de transformação para a melhoria da situação estaríamos ainda compactuando com a escravidão, barbárie, genocídio, cárceres, etc.

Se acreditar nisso, sofrerá quando me ouvir. Se não acreditar não sofrerá quando isso acontecer. Se acreditar em mim, terá prazer em me ouvir. Não importa o que eu falo ou o que os outros falam você tem que ficar equânime o tempo inteiro.

Já respondi, mas me permita avançar um pouco no tema. Isso é discurso daqueles que acham que alguém faz alguma coisa. A esses eu pergunto: porque não acabaram com todas estas coisas que eles dizem que estaríamos vivendo? Sim, apesar de dizerem que podem fazer e que por poderem não estão mais nessas épocas, nada disso mudou. Até os dias de hoje existe escravidão, barbárie, genocídio e cárceres.

Novamente vou falar da hipocrisia humana. É muito bonito dizer que se acabou com a escravidão, mas o que existe de escravo por este mundo afora. É muito simples dizer que se acabou com a barbárie, mas coisas bárbaras acontecem diariamente. O pais que mais prega a liberdade é o primeiro a invadir outro, por qualquer motivo inventado, para tirar a liberdade das pessoas daquele lugar.

É hipocrisia. Em nome de algo que diz que seria bom, faz aquilo que condena nos outros.

Compreenda isso. O discurso é um, mas a ação é outra. Isso se chama hipocrisia. Vou dar só um exemplo.

Os Estados Unidos invadiu um país e motivou essa invasão no fato do governo exigir que as mulheres de lá usassem roupas longas e andassem de rostos cobertos. Disseram que um dos motivos para a invasão era libertar as mulheres disso. Pois bem, invadiram, libertaram e por motivos religiosos as mulheres de lá continuam andando com a mesma roupa.

Aquelas mulheres gostam daquela roupa. Por tradição querem usá-las. Mas, como o povo ocidental não gosta, diz que lá estão errados e que é preciso ajuda-los a se tornarem como esse povo gosta.

Tem mais: meu discurso não é de aceitação. O que falo não é isso, mas digo que você não deve ter opinião alguma sobre qualquer coisa. Nem que sim, nem que não.

Participante: eu sinto muita necessidade de sexo e sei que é necessidade da mente, amas eu gosto. O pior é que nunca consigo, o que causa mais intensidade no querer. Se tivesse talvez não me importasse tanto. Porque, então, a vida não me oferece em quantidade suficiente?

Para lhe levar para a dor. É a mente que lhe dá a vontade e não lhe dá a parceira. Para que? Para que você acreditando que quer e que gosta, sofra.

Participante: meu filho tem dez anos e está me perguntando o que é infinito.

Aquilo que não começa nem acaba.

Participante: quando não aparecer nenhuma apresentação, eu agradeço a falta dela, mas é inevitável que se experimente como algo desagradável. Gostaria que comentasse como lidar com essas sensações desagradáveis que são inevitáveis?

Sabendo que não é inevitável.

Na verdade, você não é obrigado a sofrer. Sofre porque quer, porque gosta, porque faz bem para você.

Esse é que é o grande problema que falei no início de nossas conversas: vocês acham natural sofrer, mas isso não faz parte da natureza universal. Só sofre quem deseja, quem tem paixão, quem tem posse. Mia ninguém sofre no universo.

Portanto, não é que seja inevitável, mas é que está caindo no abismo que a mente está lhe empurrando porque ela diz que isso é inevitável. Para isso cria razões: tem que se preocupar com o futuro, afinal de contas, se não trabalhar não tem dinheiro. Tem que estar preocupado com o sustento de sua família, tem que provê-la. Não tem. Se fizer fez, se não fizer, não fez.

São essas criações mentais que você acha certas, sublimes, bonitas e que humanamente falando correspondem a uma pessoa boa, preocupada com a vida, que lhe faz aceitar como algo inevitável o sofrimento que a mente lhe dá. Preocupar-se por não ter o que comer não leva inevitavelmente ao sofrimento. Pode levar à preocupação, mas ao sofrimento não.

Além do mais, apesar desta preocupação ser considerada algo como certo de ser feito, ela não está no caminho da felicidade. Cristo ensinou: se Deus dá comida aos animais e passarinhos, porque não daria para você?

Portanto, nem se preocupar você deve, quanto mais sofrer. Só que a mente diz que isso é bonito, que isso é humanamente correto e você se deixa levar pelo que ela cria. Neste caso vai como um barquinho sendo empurrado por ela ladeira abaixo em busca da dor.

Participante: falando em escravo, o empregado acaba sendo escravo de si mesmo, do seu ego?

Todo observador é escravo da mente. Porque? Porque acredita no que a razão diz. Por causa dessa crença vive o que ela cria.

Foi o caso que me foi perguntado sobre ser inevitável sofrer em determinados momentos, ou como me falaram outro dia: é natural o ser humano ter prazer e dor. Não, isso não é natural.

Participante: pode comentar a diferença entre felicidade e prazer?

Prazer é aquilo que sente quando o que queria acontece, quando o que sabe está certo, quando a pessoa que você ama também lhe ama. Isso é prazer. Ele acontece quando os seus desejos são atendidos e realizados.

O que é felicidade? É o que não é isso. Não dá para explicar, pois vocês só conhecem o prazer.

Participante: o senhor disse para eu não me preocupar, mas quando ignoro, essa ignorância está sendo efetivamente realizada ou não?

Não é ignorar a ignorância, mas sim não se prender à necessidade de saber. São coisa bem diferentes.

Participante: no dia a dia quando lembro o que o senhor diz, começo a observar a mente, mas logo estou do lado de fora observando os atos meus e dos outros. Como manter essa atenção?

Sabendo que está fora. Quando tomar a consciência de que está ligada ao mundo externo, que está observando atos, volte correndo para o seu interior.