Conhece a ti mesmo

Perguntas diversas 2

Participante: se o espírito não está vivendo o acontecimento, onde afinal ele está?

O espírito está no único espaço que existe: o Universo.

Mas, o Universo não é o que você entende como tal: sóis, planetas, estrelas, etc. Por isso, ao responder desta forma não estou lhe respondendo verdadeiramente. Para ser preciso, tenho que dizer que o espírito está no nada.

Este nada, no entanto, não é um vazio, mas alguma coisa desprovida de qualquer elemento que você possa compreender. Ele é alguma coisa, mas aquilo que ele é, é incompreensível para você.

Participante: estão corretos os indianos que dirigem sem se preocupar com os sinais de trânsito, uma vez que, se tiver que haver um acidente de trânsito, eles não poderão evitar. Esta forma de comportamento seria uma libertação do ego?

Não. Estão corretos os indianos que dirigem sem se preocupar com o sinal, mas também estão corretos os brasileiros ou o povo de qualquer outro país, que dirija se preocupando com o sinal. Isso porque o ato em si está sempre correto.

Observar o ato para julgar o que você quer (ser liberto do ego) é uma incompreensão dos ensinamentos, pois estou falando de libertar-se do mundo interior, das compreensões que o ego dá para cada um e não de atitudes.

Eu não posso julgar pelos atos porque não sei se esse indiano que não presta atenção no sinal ou se o brasileiro que presta estão vivenciando o ato achando que estão dirigindo. Achando que eles estão respeitando ou não o sinal. Volto a dizer, não é o que você faz, mas como se relaciona coma ilusória ação que o ego cria.

Como eu disse, cada região, cada povo tem um programa. No programa do indiano, para vencer determinadas coisas, está escrito que ele não respeitará sinal e no programa do brasileiro está escrito que ele respeitará. Por isso cada um age como age e não porque ele está fazendo ou deixando de fazer.

Então, todos os dois estão corretos nos seus atos, pois seguem os seus programas. Agora, a forma como interagem é outra história. Tem indiano que interage com isso de uma forma liberta, assim como tem brasileiro que também faz isso.

O aproveitamento das oportunidades é individual, é de cada um. Não podemos julgar o resultado da libertação do ego por uma raça, ou seja, querer dizer que uma raça é superior à outra porque pratica determinados atos, porque não existem raças, mas provações coletivas para os espíritos.

Participante: no caso do livro Nosso Lar que você falou, um desencarnado que está numa maca está vivendo uma ilusão, mas André Luiz vendo os espíritos na maca também não está vivendo uma ilusão?

Antes de lhe responder deixe contestar uma coisa que você disse. Na verdade, não é um desencarnado que está na maca, pois encarnado é aquele que está vivendo as ilusões criadas pelo ego como realidades.

O desencarnado estaria consciente de ser espírito: não estaria dormindo em uma maca. Portanto, são espíritos encarnados que estão dormindo na maca.

Respondendo agora sua pergunta, sim, André Luiz está usando um ego para poder ver tudo o que enxergou, inclusive o espírito. Digo isso porque nenhum ego humano é capaz de enxergar este elemento o Universo. Espírito é um brilho, um clarão, que não pode ser percebido por nenhum criador de realidades humanas.

Sendo assim, quando André Luiz vê o espírito, as faces destes e as macas, ainda está traduzindo o intraduzível para uma forma ilusória e isso denota que ele ainda estava ligado a um ego. Aliás, ele próprio se achar André Luiz já nos dizia que, naquele momento, ele ainda estava ligado a um ego: o André Luiz.

Por isso, quando citei o assunto, disse, que era só uma comparação para vocês poderem entender. Nunca afirmei que isso é a realidade. O espírito não está em nenhuma maca e nem em nenhum hospital, pois como disse agora a pouco, o espírito está no Universo e não em um determinado ‘lugar’.

Usei este exemplo só para você compreender o que eu quis dizer quando falei do caso daquela senhora com o rato. O espírito dela está, figuradamente, dormindo numa maca e o do rato em outra. Deus ativou os egos de cada um e criou, no inconsciente destes espíritos, estar na mesma casa, no mesmo ‘espaço físico’.

Se quiserem fazer mais perguntas...

Participante: perguntar o que agora, se tudo é ilusão?

Para você compreender que tudo é ilusão.

Se você coloca, como estão colocando, acontecimentos e realizações materiais nas perguntas, mesmo que consideradas espirituais, dá a você mesmo a oportunidade de ouvir que aquilo é uma ilusão e, assim, vai alcançando o sentido abrangente de ilusão que estou afirmando existir.

Participante: viver a ilusão não é problema, o problemático é se apegar a ela. Estou certo?

Não. Vivenciar a ilusão do ato não é problemático quanto à libertação do ego, mas, acreditar que está vivendo o ato é problema.

Vou dar um exemplo. Você come, ou seja, vivencia o ato de trazer o garfo com alimento até a boca. Isto não é problema. O problemático é acreditar que está se alimentando. Por quê? Porque o alimento não alimenta ninguém. Isto porque você não é o corpo e o alimento é para o corpo.

Aí está o problema: você achar que está vivendo aquele ato a partir das compreensões que o ego cria no seu mundo interno. O problema é você achar que, já que o ego lhe criou a realidade ilusória de um alimento entrar no seu corpo, acreditar que está se alimentando.

Acho que este exemplo deixa bem claro tudo o que disse. O problema não é segurar o volante de um carro e mexer para lá ou para cá, o problema é achar que está dirigindo.

Você acredita que está dirigindo porque o ego lhe afirma isso e, para confirmar, lhe mostra a sua mão mexendo o volante de um lado para o outro. Mas, quem está fazendo isso é Deus, ou seja, quem está dirigindo é o Pai e, tudo que você vê, lhe é criado pelo ego a partir da sua programação.

Aí está à diferença entre o que é ou não problemático. A diferença está em viver os atos, mas não vivenciá-los, não achar que é você que está fazendo. Aquele que alcança realmente a liberdade, ao estar vivendo a ilusão do ato, não vivencia aquilo que o ato diz que está vivendo.

Participante: é complicado...

É sim, é muito complicado. Por quê? Porque ainda acha que você é você. Ainda acha que você é o ser humano, que é o fabricador de egos.

Por isso eu falei da raiz, do individualismo, o que se fundamenta no eu. Na hora que entender que não há um eu para dirigir, deixará de viver o dirigir. Mas, enquanto achar que há um eu motorista quererá ser aquele que dirige.

Só quando você anular o eu poderá ver agindo.

Participante: a frase célebre ‘penso logo existo’, está equivocada? Deve estar incompleta, no mínimo.

Não, ela não está equivocada. Ela é humana. Para o ser humano, pensar é existir, mas para o espírito, pensar no sentido material não é viver. Aquilo que você chama de pensamento (formação de compreensões) sempre existirá, mas para o espírito eles possuem outros valores do que para os humanos.

Portanto, o problema não é pensar, mas como pensar: pense como espírito e viverá como espírito, pense como humano e viverá como tal.

Esta frase, como disse é humana. Mas, se a espiritualizarmos, ou seja, se usarmos a compreensão que estamos tendo a partir deste ensinamento, ela passaria a ter o seguinte texto: ‘eu existo como penso que sou’ ou ‘eu existo como penso que penso’.

Ou seja, se penso que sou humano existo como tal e o mundo existe como material; se penso como espírito, eu existo como tal e o mundo passa a ser espiritual.

Participante: o pensamento é dispensável?

Não. O pensamento não é dispensável. Ele é necessário, pois é o conhecimento racional que o ego lhe dá. Ele faz parte da criação da realidade.

Olhe para as paredes da sua casa. O seu pensamento lhe dirá que o que está percebendo é uma parede e que está pintada de tal cor. Isto é necessário para a evolução espiritual: a criação de uma realidade. Para que? Para que você possa exercer a sua espiritualidade e dizer que aquilo é uma ilusão na qual não acredita.

Portanto, o pensamento é necessário para que você se liberte, já que sem ele não existiria a criação da ilusão. Agora, ele não é necessário para o espírito apegar-se, mas sim para vencê-lo.

Participante: o que quero dizer é se o pensamento é dispensável ao espírito.

Não, porque sem ele não há prova. Ele é fundamental nessa fase de sua elevação espiritual.;

E não é dispensável, é necessário. Mas, não pode ser objeto de sua paixão, ou seja, você não pode se apaixonar por ele, acreditar nele.

Então, ele não é dispensável, mas, também, é não confiável.

Participante: quando desencarnar, como é? Deixo de pensar quando desligar do meu corpo?

Quando desligar do corpo não: só quando desligar do ego. Enquanto houver ego existirá pensamento.

Participante: e este processo vai até quando?

Até que você vença esta etapa e volte à consciência espiritual.

Participante: isso ainda demorará muitas vidas...

Não, isso pode acontecer no final dessa encarnação.

Mesmo que você não consiga a liberdade total ao final desta encarnação, poderá voltar à espiritualidade de posse da sua consciência espiritual e não deste ego que usa hoje. Isto porque a sua consciência espiritual vai, ao passar por determinadas provas, se depurando.

Sendo assim, mesmo que você não se liberte- totalmente deste ego enquanto ligado à carne, mas tenha alguma consciência de que há um ego e que sua identidade espiritual é outra, que as realidades que está vivenciando são ilusórias e que há outra a ser vivida, poderá voltar à sua consciência espiritual depois do desligamento da massa física.

Aí poderá voltar a estudar, formar outro ego e encarnar novamente.

Participante: os espíritas falam em fé raciocinada. Está coerente isso, então?

A fé raciocinada não é a fé de Cristo. Vou explicar esta afirmação.

No Evangelho do João há uma frase de Cristo diz. Ela é dita depois do episódio que é conhecido como Santa Ceia e momentos antes de ser preso. ‘Sinto uma grande aflição, mas o que vou fazer. Dizer, Pai afasta de mim este cálice? Mas, eu nasci para isso. Pai glorifique seu nome em mim’.

Repare bem nesta frase. Ela dita num momento onde a racionalidade de Cristo aponta para a aflição, ou seja quando o seu ego está criando uma realidade aflitiva. No entanto, o mestre reage a tal proposição com sua fé, ou seja, com a entrega total a Deus.

Veja bem: a fé de Cristo é fundamentada numa entrega total e absoluta a Deus, mesmo acima do que você chama de racional, razão. A personalidade, o ego Jesus Cristo tinha uma razão, uma lógica racional como a sua, mas ele exerceu a fé superando a própria razão.

Quando se fala em exercer uma fé raciocinada, a compreensão que nos vem é de que devemos subordinar a entrega a Deus (fé) à razão, à lógica humana, material, do ser espiritual. Se ela fosse usada por Cristo ele oraria a Deus pedindo que o afastasse da crucificação assim como qualquer humano faria, pois, ninguém em sã consciência se entregaria a uma cruz, se deixaria levar preso sem reagir sendo inocente.

Esta mesma oração libertando dos perigos foi sugerida por um ser humanizado (Pedro) ao próprio Cristo em outro momento e o mestre lhe respondeu: cala a boca Satanás, você está falando igual a um ser humano. Isto porque a fé de Cristo sempre maior que qualquer razão lógica humana.

Portanto, a fé raciocinada não foi ensinada por Cristo e não pode existir para aqueles que querem aproximar-se de Deus, pois se trata da fé subordinada ao que o ego diz, enquanto que a elevação espiritual é exatamente ao contrário. Completamente incongruente este ensinamento.

Mas, deixe-me dizer algo. Não há, nos ensinamentos do Espírito da Verdade, o aconselhamento desta postura.

Estudamos com este grupo todo O Livro dos Espíritos e não há nenhuma informação do Espírito da Verdade que tenha nos levado a encontrar uma orientação para se raciocinar a sua entrega a Deus. Portanto, isto foi criado pela doutrina espírita e não pelos espíritos.

Mas, o que é a doutrina espírita, senão também um banco de dados de onde são retirados comandos que criam realidades ilusórias como prova para o espírito? Ou seja, um banco de comandos para o seu ego, o criador de determinadas realidades?

Então, a doutrina espírita não está certa ou errada ao ensinar a fé raciocinada, mas o religioso que vive o que esta ou qualquer outra doutrina prega como certa é que não está realizando o seu trabalho de elevação espiritual: deixar de viver o que o ego lhe diz.