A lei e a fé - Carta aos romanos

Os professores da lei

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Até aqui o termo Lei foi aplicado aos ensinamentos religiosos. Neste capítulo continuaremos utilizando esta codificação, mas, além disso, expandiremos este contexto.

Devido às características que o ego utiliza para se relacionar com as verdades que estão nele (posse, paixão e desejo), tudo aquilo que o ser humanizado acha se transforma em uma lei, ou algo verdadeiro. Já o embasamento egoísta, que está presente em todos os egos humanos, exige, então, que estas leis sejam cumpridas. Com isso cria-se, então a figura do professor da lei, ou seja, daquele que acha que conhece as normas de procedimento que devem ser adotadas como certas.

Estas verdades não se restringem apenas ao campo religioso, mas a todos os setores da vida. Os egos possuem verdades que viram leis para arrumação de casa, para forma de se portar à mesa, como se vestir, como andar, etc.

Por isso é que ampliaremos neste capítulo o universo de nosso estudo. Apesar de até agora temos utilizado o termo judeu para aquele que conhece a lei religiosa, aproveitaremos este ensinamento de Paulo e falaremos também daqueles que dizem conhecer os padrões de comportamento dos outros seres humanos.

O que há com você? Você se diz judeu, confia na Lei de Moisés e se orgulha do Deus que você adora. Você conhece a vontade de Deus e aprende na Lei a escolher o que é certo.

Você está certo de que é guia dos cegos, luz para os que estão na escuridão, orientador dos ignorantes e professor dos jovens. Você está certo de que na Lei encontra o conhecimento e a verdade. Você, que ensina os outros, por que é que não ensina a você mesmo? (Capítulo 2 – versículos de 17 a 21).

Paulo está falando dos religiosos, mas também de todos os seres humanizados que imaginam saber algo. Por sua vivência com os elementos do mundo, o ego dos seres humanizados armazena diversas informações (verdades) sobre o que é certo praticar durante a vida carnal. Lêem, estudam e, com o armazenamento destas informações geram o que chamam de sabedoria.

Desta sabedoria se orgulham. Acreditam que sabem das coisas, que conhecem todas as verdades e, por isso, se julgam capazes de assumir a postura de orientador, professor e guia. No entanto, deixam que a empáfia tome conta de sua consciência e não aceitam questionamentos ás suas verdades.

Para esses, Paulo pergunta: por que não ensina a si mesmo aquilo que transmite aos outros?

Se afirma que não se deve roubar, por que é que você mesmo rouba? (Capítulo 2 – versículo 21).

Muitos dirão que nunca roubaram nada, que nunca subtraíram nenhum objeto que pertencia aos outros. Mas, existem outros roubos muito mais sérios do que a subtração de elementos materiais...

O professor da lei (aquele que imagina conhecer o certo) rouba, por exemplo, a paciência e a felicidade do próximo quando o acusa de estar errado. O pior: utiliza à mesma lei que diz conhecer e seguir para isso.

O ser humanizado cobra aos outros que eles façam o que acha certo ser feito e diz que está fazendo isso por amor ao outro, já que quer ensiná-lo, corrigi-lo, mas não vê que o que está exigindo mesmo é submissão às suas próprias verdades. Aí, quando o outro reclama ainda o acusa de grosso, mal agradecido... O que ele esperava? Ser amado? Mas ele não amou o outro...

Não importa qual seja a lei (conhecimento) que o ser humanizado esteja se fundamentando, a cobrança de que o preceito seja atendido fere sempre o conjunto de intenções do ser. É essa hipocrisia que Cristo combateu quando ensinou sobre os professores da lei.

A hipocrisia se consiste exatamente no professor da lei se fazer de santo (dizer que tem a melhor das boas vontades) e leal cumpridor da lei, mas para cumpri-la a fere.

Quem exige o cumprimento de um seu preceito é porque quer ter o direito de ganhar (de que os acontecimentos transcorram segundo sua vontade própria). Mas, só que ao exigir, fere este próprio desejo no outro, ou seja, nega a ele o direito de também querer ganhar, que é uma verdade de todo ser humanizado.

Os ensinamentos de Paulo pregam a igualdade perfeita: dar a cada um o direito de ser, estar e fazer o que quiser... Mas, esta visão não é só dele: “Será repreensível aquele que escandalize com a sua crença um outro que não pensa como ele? Isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 839).

A aplicação destes ensinamentos leva o ser humanizado a uma vivência sem exigências e, por isso, sem críticas. Com isto não se torna professor da lei, pois não a quebra em nome dela própria.

Compreenda que tudo o que um ser humanizado julgar no próximo a partir de suas próprias convicções, ferirá a lei maior: o livre arbítrio, o direito de ser e achar o que quiser, que cada um exige para si mesmo no momento que está cobrando ao próximo.

Quem disse que existe um lugar certo para se guardar o copo? Quem disse que existe uma combinação perfeita para as cores das roupas? Quem disse que tal atitude é um dever? Apenas o seu ego, as suas verdades, e para justificar esta criação afirma justamente que você tem o direito de achar o que quiser... Claro que tem, mas daí exigir que os outros se submetam aos seus desejos, fere a mesma ordem que o ego usou.

Na verdade o ser humanizado cobra ao próximo dizendo que está exercendo o seu direito de querer alguma coisa. Mas, quando faz, fere esta mesma lei na qual se baseia, pois não dá ao outro o direito dele querer o que quiser, ser quem quiser, fazer o que quiser.

Com isso pratica o roubo de paciência, felicidade, alegria e muitos outros estados de espíritos que são alterados pela obrigação ditada em nome de uma lei individual, mesmo sabendo por força de seus próprios códigos que não deve roubar...

Participante: A respeito do que o senhor disse sobre o ensinamento de Paulo pregar a igualdade, isso tem a ver com a própria transmigração de Saulo para Tarso, pois ele viu que conhecia a lei, mas não a seguia porque combatia os cristãos.

Para compreender melhor a questão da mudança de Saulo, lembre-se do que Cristo disse a ele no meio da visão: “Paulo, por que me persegues?”.

Neste momento ele viu que, apesar de conhecer a lei, a utilizava como instrumento de força (impor desejos individualistas) e não de amor. Por causa desta compreensão ele viu a santidade divina de Cristo.

Participante: Ele precisou ficar cego para o mundo para compreender e depois executar sua missão.

Para compreender exatamente isso: que ele estava julgando.

Se diz que não se deve cometer adultério, por que é que você mesmo comete? (Capítulo 2 – versículo 22)

Vale aqui tudo o que dissemos acima, mas, também da mesma forma, precisamos ampliar o termo adultério para que os seres humanizados não digam que nunca traíram suas esposas.

O adultério não se resume apenas na traição sexual. Ele vem do termo adulterar, mudar a verdade, alterá-la. Toda vez que alguém muda a realidade está cometendo um adultério.

Não é isso que o professor da lei faz? Ele adultera a verdade (que cada um tem o direito de ser, estar e fazer o que quiser) dizendo que todos devem se submeter aos seus padrões?

Mesmo tendo em seu ego uma lei que afirma que não se deve mentir (alterar a verdade), o ser humanizado aceita como certo quando o ego a quebra. É a isso que Paulo está alertando...

Você odeia os ídolos, mas rouba as coisas dos templos. (Capítulo 2 – versículo 22).

A idolatria está ligada à questão da religiosidade, aos ensinamentos religiosos. O professor da lei humano diz que a vida religiosa é uma e que a material é outra. Ou seja, diz que não se pode viver o tempo inteiro dentro dos padrões exigidos pelos mestres como caminho para elevação espiritual.

Dentro das leis dos professores da lei humanos está a necessidade de trabalhar para comer, de estudar para evoluir e muitos outros preceitos materiais que não foram ditos pelo mestre, mas quando se vêem em perigo seus desejos, a quem vão recorrer? Ao próprio mestre, a Deus...

Se a lei diz que tem que ser humano, porque o professor da lei apela para a religiosidade quando está em perigo? Resolva humanamente para ser leal aos seus princípios...

Além disso, quantas vezes os professores da lei (aqueles que querem ensinar o certo), não se baseiam nos ensinamentos religiosos para cobrar do próximo, nas situações mundanas, submissão às suas verdades e desejos? Falam em caridade, em amor, e outros elementos nitidamente religiosos para exigir...

Com isso estão descumprindo a sua própria lei: levar uma vida carnal independente da espiritual.

Você se orgulha de ter a Lei de Deus, mas você é uma vergonha para Deus, quebrando a sua Lei! Pois as Escrituras Sagradas dizem: os não judeus falam mal de Deus por causa de vocês, judeus. (Capítulo 2 – versículo 23 e 24).

O não religioso fala mal do religioso justamente por causa da religião que este diz seguir.

O ser humanizado que se diz religioso, independente de qualquer seita que siga, aprende que o serviço ao próximo com amor é o caminho para Deus e que, portanto, deve se transformar em um princípio, uma regra de conduta. Mas, quando este religioso se torna “professor da lei” (passa a buscar a submissão do próximo às suas verdades ao invés de servi-lo) quebra esta regra.

É por causa desta hipocrisia (dizer que acredita em algo,mas não praticar o que crê) que os não religiosos criticam aqueles que freqüentam os templos: ‘Para que ir lá? Depois ele vive exatamente igual a mim...’

Já falamos sobre este tema: apego à letra fria. Por isso Cristo disse que aquele que quiser alcançar o “reino do céu” precisa ser fiel aos ensinamentos. Ou seja, praticar na íntegra aquilo que diz acreditar, mesmo que com isso fira suas paixões e desejos.

A circuncisão tem valor se você, que é judeu, obedecer à Lei; porém, se não obedecer, é como se não estivesse circuncidado. (Capítulo 2 – versículo 25).

Vamos estabelecer outra decodificação para podermos entender o ensinamento de Paulo. O termo circuncisão aqui não deve ser entendido apenas como o ato que os judeus praticavam, mas a intenção com o qual ele era praticado: uma prova de dedicação a Deus.

A prática da circuncisão entre os judeus é realizada com os recém nascidos como um ato de dedicação daquele ser ao Senhor Supremo. A intenção deste povo, ao praticar este ato, é dizer que aquela criança pertence a Deus.

Será este sentido que usaremos e, por isso, pergunto: o que adianta você tirar um pedaço de carne se não faz a circuncisão em você mesmo? Que adianta seu sacrifício aparente a Deus se não se liga na vivência dos acontecimentos com ele?

Sabe, ser religioso ou buscar a Deus – o que na verdade é a religião, o religar-se - é muito mais do que a prática de atos externos. É muito mais do que uma oração, do que um trabalho espiritual, do que um aprendizado dos mandamentos, do que uma circuncisão: é coração. É a vivência do amor universal (incondicional).

Não adianta querer louvar a Deus externamente: com atos que reflitam sacrifícios ou com glórias. É preciso louvar a Deus no coração, no sentimento, para se ter a ligação completa com Ele. É por isso que Cristo ensina através do Evangelho de Tomé: “Seus apóstolos perguntaram: Queres que jejuemos? Como deveremos rezar, e deveremos dar esmolas? E que dieta deveremos seguir? Jesus disse: Não mintais, não façais aquilo que odiais, pois todas as coisas são manifestadas ante a verdade. Nada há de oculto que não venha a ser desvelado, e nada há de coberto que permaneça sem ser descoberto” (Logia 06).

De nada adianta a prática de qualquer ato como caminho para a elevação espiritual, se o coração (a intencionalidade) não estiver em unidade com ele? Que adianta jejuar sofrendo fome; que adianta orar se seu interesse real é receber; que adianta dar esmolas se você não ama o próximo, mas tem dó dele?

Foi para combater a hipocrisia dos professores da lei que acreditam nas ações como certas, mas não se preocupam em dominar seus próprios instintos que Cristo afirmou: não há nada oculto que não venha a ser desvelado. Aquele que fere os próprios padrões diz defender, um dia terá sua intencionalidade revelada, mesmo que seja apenas na presença do Pai depois do desencarne.

São essas máscaras que os professores da lei (o aparentar externamente bom) que precisam cair. A máscara de que ir ao templo, fazer orações, praticar a caridade em determinados momentos, já é o suficiente para se religar a Deus. É preciso muito mais do que isso...

É preciso lavar o interior com o mesmo cuidado com que se cuida do exterior (cuidar da intenção com a mesma dedicação com que se toma conta das atitudes), como ensinou Cristo aos “professores da lei” e fariseus de sua época: “lave primeiro o copo por dentro e então a parte de fora ficará limpa também” (Evangelho de Mateus 23, 26).

Se os não judeus, que não são circuncidados, obedecerem aos mandamentos da Lei, então Deus os tratará como se fossem circuncidados. (Capítulo 2 – versículo 26).

O ato externo só tem valor se acompanhado por amor universal. Se você agir sem amor é como se jamais tivesse praticado ato algum. Se der um cobertor com individualismo (dar algo diferente do que tem, esperar recompensa pela ação, diminuir aquele que está recebendo considerando-o um pobre-coitado, criticar alguém como causador daquela situação), é como se não tivesse praticado caridade alguma.

Somente o ato que é vivenciado com amor universal, ou seja, onde a intencionalidade não distingue o que está sendo dado do que consome, não trata o próximo como inferior, não julga nem critica ninguém e onde não há expectativa de se ganhar algo individualmente, conduz a Deus. Quem pratica o ato com estas intencionalidades, sejam religiosos ou não, terão o reconhecimento de Deus.

Pouco importa se este lê a Bíblia ou estuda qualquer texto sagrado, que faça orações, que compareça aos cultos: ele será louvado pelo Pai porque venceu a tendência egoísta que o ego cria.

 Assim vocês, judeus, serão condenados pelos não judeus, pois vocês quebram a Lei apesar de terem essa Lei escrita e de serem circuncidados. (Capítulo 2 – versículo 27).

Os professores da lei humanos que, apesar de comparecerem aos cultos, de orarem, de conhecerem os mistérios do Universo espiritual, quebram a lei do amor, não serão reconhecidos por Deus e sofrerão a condenação pelos demais seres humanos.

Como já dissemos, Cristo ensinou: não há nada coberto que permaneça sem ser descoberto. A intencionalidade dos professores da lei durante a prática de seus atos (sejam religiosos ou não), um dia será revelado e toda a sua hipocrisia exposta.

Este ensinamento de Paulo é muito profundo e, na verdade cria um cristianismo completamente diferente do existente hoje e, inclusive, daquele que era praticado pelos demais apóstolos. Como já falei, hoje se diz que Paulo foi o criador do cristianismo: tomara o cristianismo de Paulo fosse seguido. Apenas para ilustrar a visão do apóstolo sobre os ensinamentos de Cristo, cito uma passagem de sua existência que iremos estudar mais posteriormente.

Na carta aos Gálatas, Paulo fala sobre a necessidade da circuncisão. Esta carta foi motivada porque Paulo havia tido notícia que alguns enviados dos apóstolos estiverem com o povo da Galácia e disseram a estes que era necessário circuncidarem-se para ser cristão e eles estavam acreditando nisso.

Quando soube deste fato, Paulo escreveu a carta contando que havia comparecido a uma reunião com todos os apóstolos de Cristo acompanhado de Tito, seu companheiro grego. Lá, conforme relato de Paulo, alguns, que queriam se passar por irmãos quiseram circuncidá-lo.

O apóstolo dos gentios não deixou que isso acontecesse e explicou o motivo: “Esses homens entraram ali como espiões para observarem a liberdade que temos por estarmos unidos com Cristo Jesus. Eles queriam nos tornar escravos. Mas, em momento nenhum nós cedemos, pois queríamos que vocês tivessem o verdadeiro Evangelho” (Carta aos Gálatas – capítulo 2 – versículos 4 e 5).

Exatamente por ter sido um professor da lei, as cartas de Paulo são uma ode à liberdade. Mais do que: são verdadeiros tratados contra a hipocrisia. Repare neste trecho da Carta aos Gálatas:

“Quando Pedro veio a Antioquia, eu o repreendi em público porque ele estava inteiramente errado. Antes de chegarem ali alguns homens que Tiago tinha mandado, Pedro comia com os irmãos que não eram judeus. Mas, depois que aqueles homens chegaram, ele não queria mais comer com os não judeus porque tinha medo dos que eram a favor da circuncisão. E também os outros irmãos judeus começaram a agir como covardes, do mesmo modo que Pedro. E até Barnabé se deixou levar pela covardia deles. Quando vi que não estavam agindo direito, nem de acordo com a verdade do Evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: você é judeu, mas não está vivendo como judeu e sim como os não judeus. Como é então que você quer obrigar os não judeus a viverem como judeus?” (Capítulo 2 – versículos de 11 a 14).

É por este espírito de liberdade e igualdade, que Paulo sempre afirma que não importa se o ser humanizado é religioso ou não e que atos pratique: sem a vivência do amor universal, que exige o respeito à liberdade individual como fonte da igualdade, durante os acontecimentos da vida, nada terá realizado no sentido da elevação espiritual.

Porém os não judeus obedecem à Lei, embora não sejam circuncidados no corpo. Portanto, quem é judeu de fato e circuncidado de verdade? Não é aquele que é judeu somente por fora e circuncidado só no corpo. Ao contrário, o verdadeiro judeu é aquele que é judeu por dentro, aquele que tem o coração circuncidado; (Capítulo 2 - versículo 27 a 29).

Como decorrência de tudo o que dissemos, o verdadeiro buscador de Deus não é aquele que comparece aos cultos, ora, estuda ou pratica atos caridosos, mas sim aqueles que vivenciam os acontecimentos da vida com o amor universal.

 e isso é uma coisa que o Espírito de Deus faz e que a Lei escrita não pode fazer. Essa pessoa, sim, é aprovada por deus e não pelas outras pessoas. (Capítulo 2 – versículo 29).

Àquele que vive com intencionalidades egoístas chamamos de ser humano; àquele que se liberta dessa tendência e vivencia os acontecimentos do mundo com o amor universal, chamamos de espírito na carne. Isso porque ele possui a consciência de ser muito mais do que a personalidade que está vivenciando: se reconhece como espírito, filho de Deus.

Viver com uma intencionalidade universalista, com a doação ao próximo ao invés de fundamentar suas intencionalidades ao egoísmo é algo que nenhum ser que se reconheça como humano e nascido de um homem e uma mulher podem fazer. Por isso Cristo ensina no Evangelho de Tomé: “bendito aquele que era antes de existir” (Logia 19).

Bendito aquele que sabe que antes de se tornar humano era espiritual e que esta essência permanece presente, mesmo durante a humanização.

Todo ser humanizado é um professor da lei, porque as características da personalidade temporária a qual se liga o ser universal é a de criar leis e exigir o cumprimento para a satisfação individual, mesmo que fira os próprios padrões impostos. Portanto, é preciso vencer esta tendência e isso só se consegue sabendo que toda a realidade material é apenas uma máscara que encobre o que é Real: o espírito e o Universo espiritual.

Então, qual a vantagem de ser judeu? Será que há algum valor em ser circuncidado? Sim, há muito e de muitas maneiras! Em primeiro lugar Deus entregou a sua mensagem aos cuidados dos judeus. E daí? Se alguns não foram fiéis, isso quer dizer que Deus será infiel? De jeito nenhum! Deus continua verdadeiro, mesmo que todos sejam mentirosos. (Capítulo 3 – versículos de 1 à 4).

É isso que estamos dizendo há muito tempo: toda religião é perfeita. Agora, se alguns religiosos não são, o problema é do religioso e não de Deus.

Temos que começar a colocar a casa em ordem: não existe nada no Universo que seja errada ou ruim; tudo é Perfeito. Agora, se um espírito humanizado se utiliza dos acontecimentos da vida para buscar o individualismo (o ganho individual), isso não quer dizer que Deus também esteja movido por esta intencionalidade.

Na verdade, Deus utiliza o individualismo dos seres humanizados para trazer, a quem precisa e merece, o seu carma. Foi isso que aprendemos outro dia quando estudamos Krishna (Bhagavad Gita): nessa roda de existências nada se perde...

Isto porque, quando um espírito faz contra outro (age pensando em obter prazer individual), mesmo que ele esteja movido por um sentimento individualista, ao fazer para exatamente para aquele outro, serviu de instrumento para que ele possa mudar-se (abandonar o seu individualismo). Desta forma, apesar do ser humanizado estar buscando sua própria satisfação, o fato de estar acontecendo justamente na frente daquele outro, é o amor de Deus em ação (dar mais uma chance para a promoção da reforma íntima). .

Sendo assim, não há culpabilidade e, portanto, não há nada a ser julgado: nem o ato nem o sentimento. Isso porque o gênero da prova (ato) foi pedido pelo próprio ser que o recebeu e a execução do acontecimento foi comandada por Deus na forma e na intensidade.

O sentimento (intencionalidade) cada um tem o que quiser e Deus o aproveita e ama todos os seus filhos (quem faz, quem recebe e quem tem notícias do acontecimento) através daquele sentimento.

Como dizem as Escrituras Sagradas a respeito dele: “Que fique provado que tu és justo quando falas e que sejas aprovado quando fores julgado”. (Capítulo 3 – versículo 4).

Isso é ensinamento da Bíblia (Velho testamento) onde se ensina que todos podem falar (praticar ação), mas o que importa é que cada um seja aprovado quando for julgado pelo Pai. Ou seja, o que importa é como cada um reage àquela ação.

Se o espírito reage acreditando nos valores ditados pelo ego (ele é errado, ele é ruim), este terá reagido com individualismo (acreditando em seus próprios valores) e com isso terá que voltar à roda de encarnações. Agora se, não importando o que aconteça, o espírito humanizado sempre reage com amor universal (sem acusar nem criticar), este será aprovado.

Mas, se a nossa maldade serve para mostrar que Deus é justo, o que é que podemos dizer? (Capítulo 3 – versículo 5).

Repare bem no que Paulo, o apóstolo que teve a mais profunda compreensão dos ensinamentos de Cristo fala: o seu individualismo serve para provar que Deus é justo. Por quê? Porque nenhum espírito, encarnado ou desencarnado, não consegue fazer maldade (sobrepor o seu desejo individual ao do próximo) contra quem não mereça e precise passar por ela...

Se alguém lhe dá uma bofetada, por exemplo, você está sendo amado por Deus. Isto porque a essência desta ação é Deus lhe dando o que você precisa e merece para promover a reforma íntima e, com isso, se elevar. Pouco importa o que outro ache do assunto, pouco importa que ele imagine estar tirando vantagem sobre você..

É isso que Paulo está dizendo: quem age com maldade, apesar de imaginar que está agindo por moto próprio, na verdade está servindo de comprovação da Justiça de Deus. Isso porque não cai uma folha da árvore sem que meu Pai deixe cair.

Então não há maldoso (individualista) que consiga agir com maldade (buscando o lucro individual) contra quem não precisa e merece recebê-la.

NOTA: Em outros ensinamentos aprendemos que a Justiça de Deus não é punitiva, mas amorosa. Deus dá a cada um o justo merecimento, não como castigo ou punição, mas para que o ser universal tenha mais uma oportunidade para conseguir comprovar a si mesmo que é capaz de amar universalmente acima dos conceitos e valores existentes no ego.

Que Deus é injusto quando nos castiga? (eu falo aqui como as pessoas costumam falar). (Capítulo 3 – versículo 5).

Paulo pergunta: se a maldade dos espíritos serve para provar que Deus é justo, será que merecemos ser punido? Veja bem: você tem um sentimento de raiva e Deus o faz agir sobre quem merece receber a raiva, será que merece ser punido por isso?

Participante: O que consigo compreender é que se tenho raiva e jogo sobre outro, como já estudamos anteriormente, tenho que me arrepender de ter agido assim, com este sentimento. Isso é que é complicado...

Se arrepender é mudar... Agora, você pode mudar pelo castigo ou pela compreensão...

Uma das posturas que caracteriza a reforma íntima do espírito é, por exemplo, ter a compreensão que teve raiva em um determinado momento de outra pessoa, mas que agora deve buscar não sentir mais este sentimento por aquela pessoa. Esse é o arrependimento pelo amor...

Enquanto isso não é feito, Deus continuará a expor este ser à raivas para ver se ele um dia consegue se arrepender (parar de julgar os outros). Isso é o arrependimento pelo castigo...

Participante: Então, a minha obrigação é mudar o meu sentimento. Se aquela pessoa continua recebendo raiva de outros é porque ela continua sendo merecedora disso

Isso. Cada espírito humanizado deve se preocupar em não ser instrumento raivoso para Deus...

Mas veja, a pergunta de Paulo é interessante. Vamos analisá-la mais profundamente...

Um espírito nutre raiva (contrariedade com o agente da ação que está vivenciando) e Deus o usa para sentir este sentimento pelo próximo o expõe através de ações. Neste momento a raiva deste ser foi usada para gerar a provação do outro.

A partir daí é que Paulo pergunta: se aquele espírito contribuiu para o amor do próximo, será que ele merece ser punido por ter raiva? Vamos ver a resposta de Paulo...

É claro que não! Se Deus não é justo, como poderá julgar o mundo?

Mas digamos que minha mentira aumenta a glória de Deus, fazendo que a verdade dele fique mais clara. Nesse caso, por que é que devo ainda ser condenado como pecador? Então por que não dizer: façamos o mal para que do mal venha o bem? Na verdade alguns têm me caluniado, dizendo que eu afirmo isso. Porém eles serão condenados como bem merecem. (Capítulo 3 - versículos de 6 a 8).