2ª Conversa - Relações familiares e relações amorosas

Obrigações e compromissos familiares

Como disse no início, o tema está muito abrangente. Por isso precisamos começar definindo o que iremos falar sobre relações familiares.

É preciso que definamos o que vamos tratar como famílias, porque este assunto é muito complexo. Para alguns família remonta aos ancestrais, mesmo aqueles que não foram conhecidos, enquanto que outros não consideram aqueles que não tiveram contato como pertencente ao grupo familiar. Para outros, a família engloba tios, tias, primos, sobrinhos. Para outros estes elementos são só agregados e não membros do seio familiar.

Tanto um quanto o outro grupo para nós é prejudicial neste trabalho. Se considerarmos a família com muitos elementos, a estenderemos e com isso fica difícil se enfrentar os inimigos para se ter a paz. Para fazer este trabalho é preciso pormenorizar os acontecimentos.

Por isso, vou falar hoje da família como apenas o núcleo familiar: par, mãe e filhos. Este núcleo é que constitui para este nosso estudo uma família.

Vamos, então, falar das relações entre pais e filhos e vice versa, mas mesmo reduzindo como fizemos, ainda não vou poder entrar em detalhes, pois cada uma destas relações e cada momento delas precisa ser analisada separadamente para que se consiga vencer os inimigos da paz.

O que é uma família, o que é o núcleo familiar. Este é o primeiro ponto que você precisa pensar para poder manter-se em paz nas relações familiares. Será que são pessoas que se aproximam e criam uma família? É só olhar os conhecimentos trazidos pela biologia que verá que não é bem isso.

Me diga uma coisa: você pediu para nascer na família que nasceu? Tenho certeza que não. Você, pelo conhecimento científico, é o resultado do encontro de um espermatozoide determinado com um óvulo. Se fosse outro, não seria você que nasceria nesta família.

Por isso, para fins de se alcançar a paz, a primeira coisa que precisamos entender é que a família não é constituída por um vínculo material. As pessoas não escolheram fazer parte do núcleo familiar que fazem. Elas foram mais ou menos jogadas neste núcleo.

Ninguém pediu para nascer na família que nasceu, por isso o vínculo familiar, pelo aspecto humano, é algo fictício. Este é o primeiro elemento que você precisa trazer para a sua realidade para poder combater os inimigos da paz quando eles se utilizarem da posse, da paixão, dos desejos, das quatro âncoras e do individualismo durante as relações com os membros desta família.

Porque estou dizendo isso? Porque tem muita gente que imagina que deve – não vou falar favores – mas obrigações para os demais membros do núcleo familiar. Acha que deve satisfação, que tem compromissos com aquelas pessoa, mas o ser humano não tem compromisso nenhum com qualquer membro da sua família, porque não escolheu nascer lá.

A sua família foi constituída, mesmo humanamente falando, a partir de acasos, se eles houvessem. Porque, então, você teria obrigações ou compromissos com essas pessoas?

Compreender isso é importante porque a maioria das perturbações nas relações familiares surgem justamente porque vocês acham que têm responsabilidades, compromissos e obrigações com os demais membros deste núcleo. Este é o primeiro aspecto que quero abordar.

Vocês sabem, por exemplo porque uma pessoa cobra que uma mãe seja mais carinhosa? Porque ela acha que toda mãe tem obrigação de dar carinho e não tem. Sabem porque uma mãe sofre por causa de um filho ou filha? Porque acha que eles têm obrigações com ela e não têm.

Se você mantém a ideia deste núcleo familiar como uma relação onde há responsabilidades, obrigações e compromissos, não terá paz. Porque? Porque a mesma coisa que quer obrigar o outro a ter, você não tem. Mais: vai se obrigar a algumas coisas que não quer dar ou fazer.

Toda guerra – e volto a repetir que estou falando a nível humano - entre membros familiares surge porque as pessoas imaginam que por constituírem um núcleo familiar têm obrigações. Digo isso porque o individualismo de cada ser humano se aproveita disso e não faz o que o outro quer. Surge da ideia que possui de que os membros da família são obrigados a agir do jeito que você quer.

Esse é o primeiro aspecto. Portanto, se você sofre numa relação familiar, se perde a sua paz por causa de uma relação neste núcleo, é preciso que fale para si mesmo: ‘eu não tenho obrigação com este núcleo e nem ele tem comigo. Se a minha mãe me dá carinho, ótimo; se ela não faz isso, eu não posso exigir, em nome da maternidade, que ela me dê. Se a minha mãe é uma pessoa ditatorial, eu não posso, em nome dos conceitos do núcleo familiar, exigir que ela seja diferente’.

Aprender a viver em paz com os outros é aprender a se harmonizar com eles. Essa harmonia, como já conversamos, surge quando você mata dentro de si alguma coisa e não através da mudança dos outros.