Conversando com um espiritualista - volume II

O vazio e a felicidade

Participante: porque é que mesmo deixando de acreditar no sistema humano de vida e vivendo com uma visão espiritualista da vida, eu ainda não sinto, ou nós ainda não sentimos, a felicidade prometida pelos mestres? Ao contrário, o vazio em que mergulhamos só tem, no fundo, gerado um sentimento de melancolia, Poderia comentar a respeito?

Primeiro detalhe: você sabe que deixou de acreditar no mundo humano? Se sabe, não deixou de acreditar neste mundo. Falo isso porque quem está dizendo que você está livre do mundo humano é a mente, o próprio mundo humano. Então, você não deixou de acreditar: apenas tem a ideia de ter deixado de acreditar.

Segundo detalhe: se você ainda sabe que está vivendo melancolia e vazio, ainda está preso ao mundo humano. Acreditando que está vivendo qualquer coisa conscientemente, você está preso ao mundo humano, pois está vivendo o que a sua mente cria. Estando preso ao mundo humano, como quer, então, viver a felicidade do espírito?

A felicidade que você quer sentir conscientemente é impossível de ser detectada pela percepção racional. Se isso acontecer, ou seja, se a mente lhe der a consciência de estar sendo feliz, ela é humana, pois é uma ideia humana.

A felicidade que os mestres tem ensinado tem que ser inconsciente, ou seja, não percebida pela razão. Se ela chegar ao consciente, não será mais a felicidade ensinada pelos mestres. Será algo humano, gerado por uma mente humana, e não o que os mestres prometeram.

Portanto, repare que é a mente que está lhe dizendo que você está livre e que o resultado dessa liberdade é sentir-se melancólico e vazio. Como ainda não se separou dela, você se sente melancólico porque acha que está livre, quando não está.