Vida humana

O mundo em que se vive

Participante: ontem estávamos conversando sobre as coisas deste mundo. Estávamos falando sobre a realidade universal e a ilusão do mundo humano.

Esta questão é muito interessante para um espírita ou espiritualista, porque vocês querem saber além do que podem. Como saber, não estou falando em conhecer, mas em tomar consciência.

Tudo que é vivido no mundo material não pertence ao mundo espiritual. Isso porque tudo o que é vivenciado durante a encarnação é conscientizado através da mente humana. Como esta não pertence ao mundo espiritual, tudo que o ser universal enquanto encarnado tiver consciência não pertence ao mundo dos espíritos.

Apesar disso, o ser humanizado ainda acredita que pode entrar em contato com o mundo espiritual e conhecê-lo através da mente. Mas, isso é impossível. Tudo o que surgir na consciência sobre o mundo espiritual é uma ilusão. Vou dar um exemplo para ficar mais claro o que estou dizendo.

Os espiritualistas e espíritas modernos acreditam que são capazes de realizar viagens astrais, ou seja, ter consciência de atividades suas fora da carne. Isso é impossível de acontecer. Com isso não estou dizendo que não haja atividade fora da carne. O que estou dizendo que aquela consciência não espelha a realidade universal.

Todos os espíritos encarnados realizam atividades além da realidade humana, mas quando há uma consciência de se estar fazendo, esta não é a verdade sobre o que foi feito. Não estou falando apenas da consciência no momento que imagina estar fazendo. A lembrança que o ser humanizado nutre de ter feito uma viagem astral também é irreal ou apenas material.

O espiritualista ou espírita precisa separar o que é da Terra do que é do céu. O que é da Terra? Tudo que vem pela mente humana, pois esta é a personalidade humana que o espírito está vivenciando temporariamente. Ela não é o espírito nem está nele. Sendo assim, tudo que for conscientizado pela mente humana pertence a Terra, mesmo que a razão diga que é espiritual.

Se tudo que passa pela mente pertence a Terra e se tudo o que você vive é conscientizado através da mente, tudo o que você vivenciar enquanto humanizado pertence a Terra.

Participante: esta questão de consciência é interessante, pois ontem estávamos conversando justamente sobre aqueles sentimentos que nós humanos não conseguimos explicar.

O sentimento que vocês humanos não explicam e nem percebem que sentiram não é da Terra. Agora, quando você toma consciência de ter tido um sentimento inexplicável, o que é conscientizado através dela é da Terra.

Tudo o que você souber que sentiu ou vivenciou pertence exclusivamente a Terra. Isso porque todo o seu saber é formado a partir de razões. Saber é ter conhecimento de alguma coisa. Isso transforma tudo o que você sabe em humano, terrestre.

A compreensão sobre o que é vivido é muito difícil porque vocês tratam a vida de uma forma macro, ou seja, tratam-na com passado, presente e futuro. Isso é irreal. No Universo não existe tempo e por isso podemos dizer que lá só o existe o presente, um momento que é o de agora.

Quanto tempo dura um presente no seu mundo? Não dá para medir, não é mesmo? Mesmo quando estou falando a palavra presente, vivo diversos agora, pois quando pronuncio a sílaba ‘sen’ desta palavra, o ‘pre’ é passado e o ‘te’ é futuro. Sendo assim, não há como mensurar um presente e nem sentir o que está acontecendo num agora ou em outro.

Na verdade, quando você sente algum sentimento é um presente; quando toma consciência de ter sentido já é outro agora. Não há como você reparar nestes dois momentos isoladamente. Mas, é por causa desta existência exclusiva do agora que eu digo que quando sentiu aquilo foi espiritual e quando tomou consciência de ter sentido, esta lembrança é material. Como você não distingue um momento do outro, acha que tudo aconteceu no mesmo presente, mas isso não é real.

Participante: então, para viver o espiritual deveríamos nos desvincular da mente. Certo?

Desvincular-se da mente é impossível, pois o espírito enquanto humanizado, ou seja, vendo-se como ser humano, passa a ser a própria mente. Aliás, ele só existe humanamente falando porque a mente diz que ele existe. Desvinculando-se da mente, você seria qualquer coisa em qualquer outro lugar, menos no mundo humano, pois para ser algo aqui você precisa da mente.

Participante: mas, não podemos ter consciência de termos sentido determinado sentimento sem ser pela mente?

Ter consciência de alguma coisa é tomar conhecimento do que está se passando. Você quando vive acontecimentos que não passam pela mente não tem conhecimento do que está acontecendo. Como pode ter consciência de ter feito alguma coisa se não tem conhecimento de estar fazendo nada?

Participante: Quer dizer que sempre que eu souber que fiz alguma coisa este conhecimento é criado pela mente?

Sim, pois houve a criação de uma consciência. Houve a criação de uma percepção de ter feito. Quem faz isso é a mente: é ela que cria a percepção de estar acontecendo alguma coisa. Portanto, se houve a criação de uma percepção, não existe mais nada espiritual.

Toda esta conversa está sendo muito interessante, mas lhe pergunto: para que separar o que é espiritual do material? Os espiritualistas e espíritas acham isso muito importante porque imaginam que existem dois mundos, mas isso não é real. Quando se separa o Universo em dois acaba-se com a unidade universal pregada por Cristo (eu e Deus somos Um). Como pode haver unidade universal quando se separa o Universo em dois? Na verdade é tudo uma coisa só.

Quem separa o Universo em dois, mas vive só num, fica curioso para saber o que existe no outro. Por isso quando a mente cria consciências humanas sobre o mundo espiritual vibra com a descoberta e acredita piamente no que ela diz. Mas, se olharem friamente à luz do que foi ensinado pelos mestres entenderão que é impossível conhecer estas coisas porque estão presos à personalidade humana.

Ora, se hoje vocês estão presos a carne, agora não é o momento de viverem nada espiritual, mas em concentrarem-se em viver a vida humana. Quando falo que não devem viver nada espiritual, não estou dizendo que devem abrir mão de sua espiritualização. Estou falando que não devem viver nada espiritual na espiritualidade, mas sim na matéria.