A lei e a fé - Carta aos romanos

O exemplo do casamento

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Meus irmãos, vocês todos podem compreender muito bem o que vou dizer, pois conhecem a lei. A li só tem poder sobre uma pessoa enquanto essa pessoa vive. Por exemplo, a mulher casada está ligada pela lei ao marido enquanto ele vive; mas, se ele morrer, ela está livre da lei que a liga ao marido. (Capítulo 7 – versículos 1 e 2).

Ou seja, os códigos de normas humanos só valem para o mundo carnal e não para o espiritual. Mesmo aqueles elementos que são considerados como santificados (por exemplo, o casamento), não possuem qualquer relevância para a existência real.

Falando agora especificamente sobre o matrimônio, que é tão decantado como exemplo de santidade pelas religiões, esta união não tem valor para a existência eterna do espírito. Ela só tem algum valor durante a vida carnal; depois não.

Essa união não é eterna: ela só vale para o aqui e agora (esta encarnação e enquanto durar a relação). Assim que um dos dois fechar os olhos, acabou o casamento.

Pergunta: As uniões não duram depois da morte?

Para quê? Que serventia teria esta união na eternidade espiritual?

O casamento não tem valor para os espíritos, a não ser para aqueles que ainda estão presos no eu. Estes, mesmo sem carne, ainda são seres humanos e, portanto, precisam da união para viver o prazer...

Se assim o é, para quem renasce do espírito ainda em vida, essa união, como entendida pelos conceitos humanos, acaba.

Deixe-me fazer uma pergunta àqueles que defendem a santidade desta relação.Vocês já nasceram e viveram muitas vidas. Já casaram com espíritos que em outra encarnação foram pais, mães, etc. E aí?

Vocês já viveram mil vidas e durante elas tiveram centenas de espíritos que serviram como maridos e esposas... Qual deles é o seu marido ou esposa espiritual? Nenhum deles, pois todos são irmãos universais...

Mas, tenho outra pergunta a fazer: qual o objetivo de saber disso? Por que é importante conhecer esta Realidade?

Digo isso porque não adianta apenas estudarmos uma coisa sem sabermos como aplicar o ensinamento à existência material. Isso seria o mesmo que o apego à letra fria que Cristo condenou...

Continuemos ouvindo Paulo para compreender.

De modo que, se ela viver com outro homem, enquanto o marido estiver vivo, será chamada de adúltera. Mas, se o marido morrer, ela estará legalmente livre e não cometerá adultério se casar com outro homem. É o que acontece com vocês, meus irmãos. Do ponto de vista da Lei, vocês também já morreram porque são parte do corpo de Cristo. E agora pertencem a ele que foi ressuscitado para podermos viver vidas úteis para Deus. (Capítulo 7 – versículos 3 e 4).

O exemplo usado por Paulo neste capítulo (casamento) é simplesmente para não dizer diretamente: qualquer lei firmada sobre valores humanos, só vale para aquele que está preso a estes valores...

Outro exemplo: o mandamento que diz não matar... Ele só vale para aquele que está preso no eu, que acredita na existência carnal como vida. Para aquele que está vivendo com Deus e com Cristo, não há o menor problema matar ou morrer. Para aquele que alcançou o renascimento durante e encarnação, não existe o valor que o ser humano dá às coisas.

A lei é uma criação humana para defender o que ele supervaloriza. Qualquer código de normas tem este finalidade, mesmo aqueles que são considerados como religiosos. Observe a lei de Moisés (s Dez Mandamentos e demais enunciados bíblicos) e entenderá que ela foi criada para defender aquilo que o ser humano supervaloriza: a vida, o bem pessoal, as suas propriedades particulares...

As leis não surgem ao acaso. Elas são criadas para defender determinados interesses.

Não matarás... Qual o objetivo dessa lei para quem se apega a ela sem a consciência amorosa? Defender a vida carnal... Quem valoriza essa vida? O ser humano...

Não roubarás... Qual o objetivo desta norma? Defender os bens materiais. A lei de Moisés preocupa-se em defender os valores humanos e não os espirituais. Mas, o espírito não supervaloriza estes elementos.

Participante: Mas, não foi o próprio Deus quem ditou a lei?

Sim, mas já respondemos isso...

Foi Deus quem ditou a lei, mas Cristo deu o real sentido dela: um teste para a consciência amorosa. Quem se apega à letra fria da lei irá julgar a tudo, mas quem tem a consciência amorosa, mesmo que conheça a lei, não se apegará ao seu texto, pois o amor é maior do que tudo.

Participante: Então Deus primeiro dá a lei para só depois Cristo ir explicá-la... Por que isso?

Não sei lhe dizer... Teríamos que perguntar diretamente a Deus...

O que posso lhe dizer é que foi assim que aconteceu e tudo que ocorre é a obra geral criada por Deus. Esta obra não acontece de uma só vez, mas sim em etapas, atendendo a evolução da coletividade espiritual que habita um orbe num determinado momento.

Repare que, como já vimos no exemplo do Abraão, naquele tempo não havia lei; depois Moisés a trouxe e só muitos anos após Cristo deu o real sentido dela. Por que isso? Não sei. Mas deu uma coisa tenho certeza o povo de Moisés não estava pronto para aprender o amor que Cristo ensinou...

Digo isso porque foi só Moisés se afastar do acampamento uma noite e quando ele volta o povo já estava adorando um bezerro de ouro. O povo que não tinha o amor pelo Senhor e preferia adorar figuras humanas, não estava pronto para aprender a amar incondicionalmente.

Quando o povo alcançou as condições para aprender, Deus mandou Cristo e sua mensagem. Agora, porque nos mínimos detalhes só perguntando a Ele...

Portanto, use a fé que conversamos até agora e compreenda: não sei, só Deus sabe. Além do mais, utilize a libertação dos conceitos e não queira julgar se está “certo ou errado” o proceder de Deus e valorize a tudo como Perfeito.

Porque, quando vivíamos de acordo com a natureza humana, a Lei serviu para despertar os maus desejos no nosso corpo, e isso produziu a morte. (Capítulo 7 – versículo 5)

Aí está uma resposta do porque Deus primeiro criou a lei para depois mandar Cristo dar o real sentido dela: despertar os maus desejos.

Como instrumento da ação carmática, em determinado momento, Deus criou o pecado matar para testar o seu amor incondicional: julgar, criticar, acusar, quem mata, ou amá-lo, mesmo tendo infringindo a lei.

Participante: Com o estabelecimento da lei cria-se o certo e o errado, mas também o desejo de que o certo prevaleça.

Exatamente isso é o mau desejo que leva a morte citado por Paulo: o desejo que a lei humana se cumpra, mesmo que em detrimento do amor universal.

Porém agora aquilo estamos livres da Lei porque já morrermos para aquilo que nos tornava prisioneiros. (Capítulo 7 – versículo 6).

Aquele que se liberta do poder das coisas materiais e vive só com Deus, não é mais prisioneiro do cumprimento da lei porque compreende a Realidade universal: tudo que acontece é a obra geral criada por Deus por intermédio dos espíritos encarnados.

Portanto, a lei que diz que não se deve matar perde força, pois a morte, bem como o ato que a gera, passa a ser uma criação de Deus e não uma realidade. Portanto, se alguém matar outro, o ser elevado não julga critica ou condena nada nem ninguém.

Portanto, somos livres para servir a Deus não da maneira antiga, obedecendo à Lei escrita, mas da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus.

Olha que frase linda: “portanto somos livres para servir a Deus não da maneira antiga, obedecendo à Lei escrita, mas da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus”. O que é obedecer ao Espírito de Deus? Entregar-se à realidade com fé.

O que Paulo está dizendo é que aquele que segue os ensinamentos de Cristo (um cristão) não deve ficar preso aos códigos de lei que defendem os interesses humanos, senão terá que julgar e condenar os assassinos, o adultero, o ladrão. Quem conhece verdadeiramente ensinamento deixado pela encarnação Jesus Cristo, como Paulo conheceu, está livre disso...

Aquele que vive com fé, com amor incondicional está livre da obrigação de criticar o próximo. Que maravilha, que liberdade...

Digo isso porque, apesar do ser humanizado se dizer livre (ter o livre arbítrio de viver como quiser), na verdade é escravo dos padrões e normas que defendem a materialidade prioritariamente. São escravos da necessidade de olhar e ter que julgar, pois se sentem obrigados a fazer o que a lei manda.

A mãe sente-se obrigada a fazer pela filha, o de boa intenção é obrigado a julgar e criticar quem não a tem, a esposa se sente obrigada a fazer determinadas coisas pelo marido, mesmo que não goste. Tudo em nome do cumprimento de normas e padrões humanos...

Na verdade todos estão com cangas (“Peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro ou arado, jugo” Mini Dicionário Aurélio). São trabalhadores seguindo apenas a vontade do seu senhor (o mundo material) imaginando que fazem o que querem. São bois puxando a carreta do mundo.

Agora, através de Cristo, do ensinamento da ação amorosa, do caminho e da luz, somos livres, libertos dessa canga. Não precisamos seguir aquilo que nos mandam seguir: ficar atrelado à materialidade.

Que coisa boa poder olhar para o próximo e vê-lo com cabelo despenteado e não ser obrigado a criticá-lo. Que maravilha é olhar para alguém que está com a roupa amassada e não criticar. Como é formidável viver com aquele que lhe critica e poder oferecer a outra face sem sentir-se compelido a criticá-lo...

Que liberdade... O verdadeiro cristão não precisa reagir dentro de padrões.

Mas, a humanidade cristã – e todos os demais religiosos - apesar do ensinamento do mestre estar muito claro, continua preferindo viver com a canga no pescoço. Por quê? Porque é mais cômodo, por que dá prazer, fama e glória.