A lei e a fé - Carta aos romanos

O exemplo de Abraão

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O que é que podemos dizer de nosso antepassado Abraão? O que foi que ele conseguiu? Se foi por causa do que ele fez que Deus o aceitou, então teria motivo para se orgulhar, mas não diante de Deus. (Capítulo 4 – versículos 1 e 2)

Para compreender bem o que Paulo nos ensina, vamos relembrar a história de Abraão.

Abraão é o patriarca do povo judeu. Foi o primeiro a receber a visita do Senhor Eterno e Este, em determinado momento, prometeu que, a partir de Abraão, se construiria a nação judaica. Mal comparando, podemos dizer que Abraão é o Adão do povo judeu: o precursor da raça.

Abraão era um velho, com mais de cem, quando foi visitado pelo anjo do Senhor. A mulher dele, Sara, também era bem velha. Eles não tinham filho, pois Sara era estéril. O Abraão tinha filhos com escravas, o que era muito normal naquele tempo, mas não tinha com sua própria esposa.

O anjo do Senhor que visitou Abraão disse para ele: você terá um filho da sua mulher, ela engravidará. O patriarca judeu não acreditou muito, pois além da doença de toda uma vida, Sara não tinha mais idade para engravidar. Mas, mesmo assim, o anjo garantiu, em nome de Deus, que ela engravidaria. Abraão, uma vez que se falava em nome do Senhor, acreditou.

Pouco tempo depois a mulher dele engravidou e teve um filho. Quando esse moleque já era grande (sete anos) e, claro, era o xodó do pai, Deus apareceu para Abraão – isso é o que falam as Escrituras, mas hoje sabemos que não foi o próprio Senhor, mas um emissário Seu que esteve com Abraão – e disse: vá ao altar e sacrifique seu filho a mim. Mate-o como sacrifício a mim.

Deus pediu a Abraão o seu único filho em sacrifício, mesmo sabendo que ele não podia mais ter, e Abraão não pensou duas vezes: pegou o filho, levou ao altar, amarrou-o e levantou a faca. Quando ia baixar, Deus fez-se ouvir e disse: pare, você já provou o que tinha que provar.

É isso que Paulo está perguntando: será que Deus amou Abraão pelo que ele fez (predispor-se a sacrificar o filho, dar o filho único como oferenda a Deus)? Será que é por isso que Deus o louvou?

Não...

Pois as Escrituras Sagradas dizem: Abraão creu em Deus e por causa da sua fé, Deus o aceitou como justo. (Capítulo 4 – versículo 3).

Então, não foi o ato em si que fez de Abraão o patriarca do povo judeu – tanto que Deus não deixa a ação se consumar – mas a fé. Abraão só tinha um filho, mas pela fé em Deus ele entregaria aquilo que era mais sagrado na sua vida a Deus.

É isso que Paulo quer lembrar aos seres hoje humanizados: é preciso sacrificar as coisas que são importantes (aquelas que são desejadas) a Deus, no altar do sacrifício. Para Krishna este mesmo sacrifício (sacrificar a intencionalidade) chama-se yajña e, segundo este mestre, é um dos caminhos para se chegar ao Pai.

Claro que, assim como no caso de Abraão, não irá necessariamente se consumar a perda da coisa importante. Deus só deixará o sacrifício terminar em perda se preciso e necessário for dentro do planejamento da encarnação que o ser realizou antes dela. Deus não quer a ação em si, mas o que Ele vive nos testando é a nossa fé: a confiança e entrega absoluta.

É neste aspecto que, a cada segundo de nossa existência, seja encarnado ou não, estamos sendo testado. A cada acontecimento estamos sendo alvos de uma pergunta por parte do Senhor: você confia mais nas suas formações mentais (idéias) ou em Mim?

Você confia mais no seu patrão – acredita que é ele que vai lhe pagar salário, que vai lhe promover e, com isso, lhe proporcionar bem estar – ou confia em Mim e sabe que ele é Meu instrumento para suas provações? Você confia mais no motorista que está lhe levando algum lugar ou em Mim?

É isso que Paulo está nos alertando. Nós somos salvos, ou seja alcançamos à glória espiritual, através da fé com que vivemos os acontecimentos da vida e não pelos atos que praticamos. Somos aceitos pelo Pai pela confiança e pela entrega a Ele com que cada um vivencia cada momento e não pelo que se faz.

Além do mais já conversamos anteriormente e descobrimos que o que é feito não pode ser mudado e mais, independe da vontade humana.

NOTA: Como parte da doutrina Espiritualista Ecumênica Universal, existe o ensinamento de que a vida encarnada é formada pelo gênero de prova que o espírito pede antes da encarnação e este é dramatizado por Deus através de atos.

É com a fé que o ser humanizado acrescenta algo ao que está sendo feito e é este algo que o leva a evoluir. Este é o ponto primordial da vida do ser humano: Ele vem à carne para realizar provas e o instrumento necessário para esta realização é o amor e a fé, a entrega total a Deus.

Isso é que é a vida humana...

A cada segundo dela Deus está perguntado: você confia em Mim? Tem realmente fé? Porque se você confiar em Mim mesmo não se sentirá traído, atacado, ameaçado, magoado. Se você tiver fé em Mim jamais sentirá sofrimento nas situações que passa.

Sem entender a história de Abraão não tinha como se compreender o ensinamento de Paulo...

Quem trabalha é pago e o pagamento não é considerado como favor, mas como direito. Porém, se alguém não trabalha, mas crê em Deus, é a sua fé que Deus leva em conta para aceitá-lo como justo; pois Deus é quem declara que o culpado é inocente. (Capítulo 4 – versículos 4 e 5).

Veja o que Paulo fala: Deus declara que o culpado é inocente... Para entender o que ele diz, vamos ver outra analogia que está neste trecho: quem trabalha recebe o seu salário.

Na verdade o ser humanizado quer as coisas sem trabalho, sem esforço. Não se está falando de trabalho material, mas espiritual. Por tudo o que vimos até agora, posso afirmar que sem exercício da fé não há salário a ser pago, ou seja, não há nada a ser dado ao ser humanizado.

O espírito, encarnado ou não, que não trabalha vive na ociosidade. O ócio espiritual é a vivência dos acontecimentos da existência sem fé. O ser que vive a sua vida, espiritual ou material, sem fé a vivencia numa ociosidade espiritual.

Que salário ele quer receber? O que quer ganhar, se não faz por onde receber?

Na verdade o ser humanizado espera que o Deus maravilhoso, bonzinho, sempre atento aos seus caprichos (desejo), vá correndo lhe satisfazer. Mas, não é assim.

Cada ser humanizado é um empregado de Deus. Digo isso porque, como já estudamos, inclusive aqui, quando ele age (participa da ação) serve de instrumento a Deus para a vida do próximo, ou seja, o sal da humanidade que Cristo ensinou – aquele que tempera a vida dos outros. É exatamente por este trabalho com fé (colocar-se à disposição do próximo louvando a Deus) que o ser humanizado recebe do Pai.

Recebe o que, salário? Sim, mas não salário de dinheiro, mas um pagamento espiritual: paz, harmonia, felicidade... Aquilo que dinheiro nenhum no mundo pode comprar...

O ser humanizado pode ter muito dinheiro, mas não terá, paz, tranqüilidade e felicidade real, sem o trabalho da fé. Apenas a entrega total com confiança no Pai pode garantir estes bens ao ser universal. .

A analogia de Paulo é excelente (para receber o salário tem que trabalhar e o trabalhar para Deus é a pratica das ações com fé) e só entendendo-a perfeitamente, podemos compreender a outra afirmação: Deus declara que o culpado é inocente.

Quando você ser humanizado participa das ações com fé, por causa do salário que recebe, não se sente humilhado, contrariado, ferido, magoado... Por causa disso não rotula o próximo como culpado ou errado.

Um exemplo disso é uma frase de Gandhi proferida um pouco antes de morrer. Perguntaram a ele se queria perdoar alguém e o Mahatma disse: não tenho a quem perdoar, pois ninguém nunca me feriu...

Quando se está com e em Deus se vivencia a harmonia, a paz e a felicidade. Com isso acabam os ferimentos e mágoas e, aqueles que são considerados como culpados e errados para a humanidade viram inocentes.

E foi isso que Davi queria dizer quando falou da felicidade daqueles que Deus aceita como justos, sem levar em conta o que eles fazem: “Felizes são aqueles cujas maldades Deus perdoa e cujos pecados ele apaga. Feliz aquele que o Senhor não acusa de cometer pecado”. (Capítulo 4 - versículos de 6 a 8).

O pecado é a ação contra Deus (a falta de fé) e não um ato. Não existe ato pecaminoso. Como Krishna ensina, nesta vida nada se perde...

Não existe ato pecaminoso. O pecado surge quando, independente da ação, o ser humanizado a vivencia sem fé.

O contrário da ação vivenciada sem fé em Deus é a vivência com fé em si mesmo (confiança e entrega aos valores ditados pelo ego), ou seja, individualismo. Eu acho, sei, quero, posso, vi, faço, tenho certeza: isso é pecado. Quem participa da ação com estas consciências não merece perdão porque está tendo como intencionalidade o seu lucro (ganhar) individual.

Então, o salário que Deus paga, é dado àquele que participa da ação sem consciência do que está fazendo. Aquele que não participa da ação como criador (eu fiz) e sem expectativas (eu quero que isso aconteça), esse merece perdão.

Agora, aquele que sabe os motivos pelo qual agiu (intencionalidade), esse não tem perdão. Terá uma nova prova, um novo trabalho, para ver se garante o salário.

Uma observação. Perdão, neste texto, foi usado como não gerar novos carmas como resultado da consciência com que se vive o acontecimento. Aquele que vivencia os momentos com a consciência Universal (Deus faz e sabe), este não gera novos carmas.

Será que essa felicidade que Davi falou pertence somente aos que são circuncidados? (Capítulo 4 – versículo 9).

Pertence só aos que são religiosos de qualquer seita?

Não. Ela pertence também aos que não são circuncidados. Porque temos citado as Escrituras Sagradas, que dizem: “Abraão creu em Deus e por causa disso Deus o aceitou como justo”. (Capítulo 4 – versículo 9).

Deixe-me explicar um fato histórico que Paulo está utilizando. Antes apenas lembremos que, como já vimos, a circuncisão é um rito da religião hebraica.

Abraão não era circuncidado. O rito da circuncisão como prova de devoção a Deus só se iniciou com Moisés, muitos anos depois de Abraão. Então, Abraão não era religioso, até porque não existia religião hebréia naquele tempo.

Paulo está nos lembrando uma coisa que poucos se atêm: o primeiro ser humanizado de cada religião nunca pertenceu a ela e, portanto, nunca participou dos rituais dela. Cristo não era cristão e nunca participou de uma missa – até porque não existia esta religião nem esse rito quando ele estava encarnado. Buda não era budista. A religião budista com todos os seus rituais só apareceu mais de quatrocentos anos depois que ele morreu...

Por causa disso, eles não receberam o salário de Deus? Sim, receberam. Isso porque eles foram aceitos não por terem praticado os ritos de uma determinada religião, mas por terem vivenciado a fé em Deus.

Então, não importa se um ser humanizado se dizer católico e ir a missa todo domingo, porque isso não garantirá o salário. Para garanti-lo é preciso responder sim a uma pergunta de Deus: você vivenciou os acontecimentos da sua vida com fé? Se a resposta for não, de nada adiantou participar dos rituais de sua religião.

 

Quando foi que isso aconteceu? Foi antes ou depois de Abraão ser circuncidado? Foi antes e não depois. Ele foi circuncidado mais tarde. E a sua circuncisão foi um sinal para provar que, por causa da fé que Abraão tinha, Deus o aceitou como justo, quando ainda não havia sido circuncidado. Assim Abraão é o pai espiritual de todos os que crêem em Deus e são aceitos como justos por ele, embora não sejam circuncidados. Ele é também o pai de todos os que são circuncidados. Não apenas porque são circuncidados, mas porque seguem o exemplo de Abraão e têm fé, assim como ele teve fé antes de ser circuncidado. (Capítulo 4 – versículos de 10 a 12).

Esse é o exemplo de Abraão que Paulo cita: ter fé. Agora eu pergunto: o que você está disposto a sacrificar da sua vida em nome da fé?

Há algum tempo estamos falando que é necessário parar de brincar de ser religioso. Nenhum ser veio a este planeta para simplesmente viver uma vida cômoda e tranqüila.

O espírito não está ligado a um ego de férias ou passeio. Ele está aqui para trabalhar e o trabalho é aquilo que vimos aqui: buscar vivenciar a fé nas ações que cada um participa como suposto agente ou receptor. Para que você trabalhe e, com isso, se torne apto a receber o seu salário, é que se faz imperativo que os sacrifícios sejam pedidos.

O sacrifício pedido hoje não é mais o do seu bem mais precioso (a vida do seu filho único), como foi pedido a Abraão. Ele é muito menor...

O sacrifício do ser humanizado hoje é o de, mesmo querendo ter um objeto, não possuí-lo; querer que o ambiente (o mundo como um todo) em que vive fosse melhor e não é; gostar de limpeza e encontrar sujeira... Veja bem: Abraão levou ao altar do sacrifício um filho; o ser humanizado de hoje não consegue levar uma poeira, uma televisão, nenhuma vontade... Tudo ele insiste que seja do jeito que ele quer que seja...

É isso que temos que pensar...

Não dá mais para brincar de religioso: ‘se Deus me der uma televisão irei louvá-Lo, mas se não der continuarei sofrendo’. É preciso começarmos a cair na real.

A vida será sempre composta de pedidos de sacrifícios feitos por Deus. O tempo inteiro será pedido o sacrifício dos desejos que o ego cria. Não porque Deus quer o seu sofrimento ou suas coisas: na verdade, ao fazer isso, Ele está dando ao ser humanizado uma chance de trabalhar, de colocar fé no que vivencia.

Essa é a essência da vida.e é para isso que cada um nasceu e pediu os seus próprios sacrifícios antes de encarnar. Mais nada...

Vocês poderiam me perguntar: Joaquim, você faz apologia da desgraça, do sofrimento, da pobreza? Não, não faço apologia do negativismo, da vida cheia de problemas. Não é isso.

Eu faço apologia da Realidade da vida carnal e incito todos a começar a entendê-la. Mas, para compreender o que falo, seria preciso que vocês entendessem a Boa Nova que Cristo ensinou, pois ninguém a compreendeu até hoje.

Todos dizem que Cristo veio trazer a Boa Nova, mas se perguntarmos o que é isso, poucos saberão responder corretamente. Isto porque transformaram a Boa Nova numa vida boa. É diferente.

Quer um exemplo? Veja este ensinamento do sermão do monte: “Bem-aventurados são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque está guardada para vocês uma grande recompensa no céu” (Mateus – capítulo 5, versículos 11 e 12).

Esta é a boa Nova. Querem mais? “Vocês ouviram o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu porém lhes digo: não se vinguem dos que lhes fazem mal. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se processarem você para tomar a sua túnica, deixe que levem também a capa. Se um dos soldados estrangeiros forçá-lo a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois quilômetro. Se alguém lhe pedir alguma coisa, dê; e empreste a quem lhe pedir emprestado” (Mateus - capítulo 5 – versículos de 38 a 42).

A Boa Nova é composta de ensinamentos de exortações ao sacrifício do bem material (a satisfação de ter os desejos e vontades atendidas – prazer). Bem diferente da vida boa que dizem que Cristo prometeu, não?

É preciso enfrentar a vida na realidade e não nos sonhos ilusórios que Deus dará tudo para satisfazer ao ser humanizado. A Realidade é essa: cada ser, antes de encarnar, pediu os sacrifícios e Deus os dá de acordo com o que cada um pediu, nada a mais ou menos, como uma oportunidade de exercer a fé.

Só que quando chegam aqui (na vida material), os seres humanizados não estão dispostos a trabalhar e preferem à ociosidade espiritual. Trabalham materialmente, mas no tocante a promoção do trabalho necessário para ser recebido de volta na pátria espiritual em glória, a ociosidade é grande no planeta.

Portanto, eu não estou aqui para pregar a pobreza ou o sofrimento, mas sim a Realidade: cada ser encarna não para se satisfazer, mas para trabalhar em busca da sua elevação espiritual e com isso alcançar o bem maior (felicidade), que é o do céu.

Se mesmo assim você tiver uma piscina, melhor; mas se, dentro de seus sacrifícios não tiver nem uma bacia, não deixe tal situação afetar a sua felicidade.

Participante: A quantidade de bens materiais é uma prova difícil... Saber lidar com muitas coisas sem perder a fé não é fácil....

A riqueza material é uma prova maior do que a pobreza... Isso porque na pobreza existe a resignação (eu não posso ter mesmo...). Agora, na riqueza existe a ilusão de que se pode ter tudo o que se quer e, com isso, acaba perdendo o tudo que se pode ter: o salário que Deus paga.

Apesar disso, não podemos transformar tal afirmação em uma generalidade. Existe muito pobre que é ganancioso (vive preso aos seus próprios interesses) e muitos que possuem grande quantidade de bens, mas que são universalistas no trato com eles.

Deus prometeu à Abraão e aos seus descendentes que o mundo ia pertencer a eles. Essa promessa foi feita não porque Abraão tinha obedecido à Lei, mas porque ele havia crido em Deus e havia sido aceito por ele como justo. (Capítulo 4 – versículo 13).

Seguindo o ensinamento de Paulo, podemos dizer que a promessa que Deus faz a cada um que vivencia os acontecimentos de sua existência com fé é que o mundo lhe pertencerá. Vamos tentar entender isso.

Paulo não está dizendo que você terá posse material das coisas se vivenciar os acontecimentos da vida com fé, mas que terá tudo que alguém pode ter nesta vida. Por exemplo, Você conseguirá ter uma cadeira, mesmo que não a possua materialmente.

Para entender o que estou dizendo pergunto: o que é não ter uma cadeira? Você ter uma cadeira é possuí-la, achar que ela é sua, constatar a existência dela. Agora, não tê-la é não sentir falta dela.

Se você não sente falta, não acusa que não tem, nem chega à consciência de que não tem a cadeira e por isso não sente falta dela. Então, não ter uma cadeira é sentir falta dela e não apenas viver sem ela, materialmente falando.

Partindo deste raciocínio, podemos entender quando Paulo diz que Deus prometeu a quem tiver fé que o mundo será dele, que aquele que vivenciar a sua vida trabalhando, no sentido espiritual, não sentirá falta de qualquer elemento do mundo material. Este ser terá a sensação de ter tudo, mesmo que não tenha a posse, pois não sentirá falta destes elementos.

Esta é, em linhas gerais, a promessa de Deus: quando o ser entrega em sacrifício as coisas a Deus com fé, não sentirá falta delas.

Quando um ser humanizado despossuir, por exemplo, um filho, com fé em Deus, no momento que ele se ausentar das percepções deste ser – não estou dizendo em morrer, mas em viver a vida dele longe do ambiente familiar – este não sentirá a falta do filho.

Agora, quando este ser faz a entrega sem fé, no momento que o filho não tiver mais sobre sua guarda – quando ele forma sua própria família, casa, sai de casa, vai estudar longe – sentirá falta. Viverá esta situação, que é imperiosa pois faz parte dos sacrifícios que aquele espírito pediu antes de encarnar, com angústia (preocupada, querendo saber se ele está bem, se está se alimentando, se a esposa está cuidando bem dele).

Participante: O limite entre saber se realmente entregamos para Deus ou se estamos lidando com isso de uma forma racional, é difícil de saber...

Estou lhe dando agora a solução...

Se você entregar com fé receberá de Deus o seu pagamento: harmonia, tranqüilidade e felicidade durante aqueles acontecimentos. Agora se não entregar com fé não receberá este salário e aí então viverá o acontecimento sentindo falta e angustiada.

Se você tem sofrimento é sinal de que não ouve fé.

Participante: Digo isso porque estou vivenciando acontecimentos desse tipo. Estou com uma filha que está numa situação difícil...

Não, ela não está numa situação difícil: você está vendo a situação dela como difícil, mas ela não.

Participante: É ela não está vendo isso mesmo...

Você está vendo dificuldades na vida dela e o classificar a existência dela como tal é sinal de que você não a entregou a Deus, o Pai dela, com fé.

As situações todas que ela está passando são etapas da sua existência e, durante elas, o Pai dela está dando para ela o que precisa e merece: louvado seja Deus por isso. Esta a Realidade daquilo que você classifica como dificuldades...

Adore o que Deus faz a cada um: ‘que maravilha que ela está brigando com o marido, que está mal no trabalho’. Olha quantas oportunidades de trabalho ela (o espírito) está tendo... Mas, não é só para ela que deus está dando uma oportunidade de trabalhar. Você, ao saber da situação dela, ou seja, ao tomar consciência de fatos, a criação do ego (a compreensão raciona que está tendo da situação) também é uma oportunidade para você realizar o seu trabalho: entregar tudo nas mãos de Deus com fé.

Não queira se meter na situação e tenha a consciência de que tudo está certo, pois está do jeito que deve ser. Entregar com fé é abrir mão, com confiança em Deus.

Participante: Mesmo porque eu já tentei ajudá-la, mas ela não quis.

Desculpe, mas você tem como ajudá-la.

Participante: Como?

Não subordinando a ajuda ao que você quer que ela faça...

Participante: Não é isso que estou fazendo. O que quero é mostrar o que ela está fazendo...

Você não está querendo mostrar o que ela está fazendo, mas sim dar a sua opinião sobre como ela deveria viver os acontecimentos da vida dela. Mas, o que você acha que ela está fazendo é o que você acha e não o que ela acha.

Por isso disse que está querendo ajudá-la dentro de suas próprias vontades, ou seja, dentro daquilo que desejaria que ela estivesse fazendo.

Compreenda... Ela não vai ver o que você quer que ela veja, pois isso é verdade sua. Exigir a compreensão de uma determinada forma não é ajuda, mas subordinação.

Como você pode ajudá-la? Não brigue, não critique, não diga que ela está errada. Agora, se um dia ela tiver a compreensão que quebrou a cara, esteja aberta para recebê-la de volta com uma festa, como fez o pai do filho pródigo.

Já falei desta parábola neste estudo e torno a citá-la porque ela é muito importante. O pai, durante o tempo que o filho esteve longe, nunca o procurou para mostrar o quanto ele estava errado, nem nunca o criticou para o seu outro filho. Deixou que aquele filho esbanjasse todo o capital que possuía, mas na hora que ele retornou, novamente não estavam presentes as críticas ou acusações, mas o recepcionou em festa.

Deixe-a quebrar a cara dela.

Participante: É difícil...

Claro, não existe entrega a Deus... Na verdade você ainda se acha dona (mãe) dela e que pode decidir o que é melhor para ela...

Para compreender melhor o que deve fazer, vou fazer uma figura através de uma competição esportiva: não fique narrando o que ela vive... Não fique pensando ou conversando sobre o que você acha que está acontecendo... Liberte-se dessas idéias criadas pelo ego. Aquilo que o seu ego cria não é o mesmo que o dela cria, ou seja, a sua realidade é diferente da dela.

Exatamente por você acreditar de um jeito é que se acha impelida a forçá-la a ver o acontecimento dentro do seu prisma de visão. Mas isso é impossível. O raciocínio que cria as realidades é dado por Deus dentro das provas de cada um. Os seus são apenas suas provas (seus sacrifícios) os dela são os dela. Quando você compreende isso e tem a fé, entrega a Deus o direito de dizer o que está acontecendo e, por isso, não tem opinião sobre nada.

É isso que Paulo está nos ensinando. A entrega com fé leva o ser humanizado a sentir falta das coisas. Agora a entrega sem fé o leva a estar sempre vigilante notando a ausência daquilo ou sempre tomando cuidado com as coisas que estão sob sua guarda por sentirem-se responsáveis. Neste momento houve a entrega sem fé.

Pois, se o que Deus prometeu vai pertencer aos que obedecem à Lei, a fé que a pessoa tem não vale nada e a promessa de Deus não tem valor. (Capítulo 4 – versículo 14).

Podemos resumir os ensinamentos de Paulo com a seguinte máxima: não adianta apenas seguir a lei; se você não tiver a fé, de nada adianta.

Fazer por obrigação (como subjugação a um código normativo de ações) ou esperando ganhar algo pelo que pratica (mesmo que seja apenas o reconhecimento de estar “certo”), de nada adianta para a elevação espiritual, pois este ainda sentirá falta daquilo que os seus desejos pedem.

Este ser não alcança a tranqüilidade e a paz, mas sim a resignação. Quem vive dessa forma, um dia não conseguirá mais sufocar a ação dos desejos e sofrerá pela carência do que não foi recebido. Já comentamos isso: viver não é ociosidade (resignação), mas uma ação amorosa para o perfeito entrosamento com o Universo.

Paulo é aquele que melhor pode falar a respeito disso, pois ele foi um professor da lei, ou seja, buscava a subjugação do ser humanizado aos códigos legislativos de sua religião.

Porque a Lei traz o castigo de Deus. Mas, onde não há lei, também não há desobediência da lei.

Assim, é da fé que a promessa de Deus depende, para que a promessa seja garantida como presente de Deus a todos os descendentes de Abraão. (Capítulo 4 – versículos 15 e 16)

Vamos deixar bem claro que os descendentes de Abraão não só os judeus. A descendência aqui não é física, mas espiritual.

Os descendentes de Abraão são todos aqueles que professam a fé no Deus Único e Eterno. Portanto, essa promessa vale para os cristãos também.

 A promessa não é somente para os que obedecem à Lei, mas também para os que crêem em Deus, como Abraão creu, pois ele é o pai espiritual de todos nós. (Capítulo 4 – versículo 16).

A promessa de Deus (pagar o salário aos seres) não é apenas para aqueles que cumprem a lei (vivenciam atos que são considerados como certos pela humanidade), mas também para aqueles que vivenciam todos os acontecimentos com fé.

Ou seja, não passar pelas suas situações de sofrimento apenas porque está vivenciando isso no momento, mas usar a fé (entrega com confiança a Deus) durante estes momentos.

Como dizem as Escrituras Sagradas: “Tenho feito que você seja pai de muitas nações”. Assim a promessa é garantida por Deus, em quem Abraão creu, o Deus que ressuscita os mortos e faz existir o que não existia. Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança e por isso ele se tornou “o pai de muitas nações”. (Capítulo 4 – versículos 17 e 18).

Como já dissemos, Abraão não o pai só da nação judaica, mas de todos aqueles, independente de raça, que acreditam no Deus Eterno. Mas, vamos um pouco mais longe, já que o ensinamento de Paulo é universalista.

Não importa a que povo, raça ou até mesmo credo, aquele que viver com fé, poderá ser considerado filho de Abraão e, por isso, herdeiro do acordo que Deus fez com este profeta.

Como dizem as Escrituras: “os seus descendentes serão muitos”. Ele tinha quase cem anos. Mas, mesmo quando ele pensou a respeito do seu corpo que já estava quase morto ou quando lembrou que Sara não podia ter filhos, a sua fé não enfraqueceu. Abraão não perdeu a fé nem duvidou da promessa de Deus. A sua fé o encheu de poder e ele louvou a Deus porque tinha toda a certeza de que Deus podia fazer o que havia prometido. Por isso Abraão, por meio da fé, “foi aceito por Deus como justo”. As palavras “foi aceito como justo” não falam somente dele. Falam também de nós, que cremos em Deus, que ressuscitou Jesus, o nosso Senhor; falam de nós, que seremos aceitos como justos. (Capítulo 4 - versículos de 18 a 24).

É o que estávamos falando: todos que agirem com fé em Deus será considerado como justo. Esta é uma afirmação muito importante.

Não importa o que você faça, se colocar a fé no que está fazendo é justo. O que seria colocar a fé no que faz dentro de tudo o que já estudamos? Retirar a intencionalidade, a fé em você mesmo.

Retirar a intencionalidade é não ter motivos para o que praticou e nem esperar receber nada em troca.

O ser humanizado que é justo é aquele que participa das ações como suposto agente sem acreditar nas motivações que o ego cria. É aquele que sabe que, apesar do raciocínio lhe dizer que havia motivos que levaram a tal ação, ele não acredita nisso, mas sabe que aconteceu o que Deus designou que acontecesse. Agora, quando um ser humanizado acha que faz ou que alguém fez, colocou a fé em si (eu vi, acho, sei).

Ter qualquer opinião sobre um assunto mascara a Realidade, pois tudo o que acontece é a justiça amorosa de Deus em ação: dar a cada um de acordo com suas obras como uma nova oportunidade de trabalho para elevação espiritual.

 Jesus foi entregue para morrer por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para que sejamos aceitos por Deus. (Capítulo 4 – versículo 25)

Morrer pelos nossos pecados: o que quer dizer isso?

Pecado, já compreendemos, é a intencionalidade que é fundamentada no individualismo. Por que Cristo foi crucificado? Porque os seres humanizados acharam alguma coisa dele (que não era o messias esperado, que era contrário às leis do Sinédrio), julgaram-no a partir desse achar e o condenaram à cruz.

É isso que Paulo está nos ensinando...

Participante: Mas, o senhor mesmo disse que as ações são pré-determinadas. Se isso é verdade ele não foi crucificado por nada, mas porque isso estava escrito...

Sim, mas tal acontecimento foi escrito desta forma porque o os seres humanizados são individualistas. A vida de Cristo foi construída de tal forma a mostrar que os conceitos de cada ser humanizado não são justos e a ressurreição dele provou que vivenciar a vida com fé, apesar de ser julgado pelos outros, leva à elevação espiritual.

Não é que Cristo, como se fala, pagou pelos pecados dos seres humanizados e, por isso, agora vocês podem pecar à vontade. O que ele mostrou, com a vivência daquela encarnação pré-programada, é qual o pecado do mundo (julgar de acordo com suas verdades) e como se vive com o pecado do mundo sem pecar. De quebra, mostrou a recompensa para quem vive como ele viveu: a ressurreição.

A partir disso, podemos entender que a mensagem de Cristo através da sua vida: se você for alvo da ação individualista dos seres humanos e passar por estas situações louvando a Deus e vivendo na fé, receberá a ressurreição. A partir desta mensagem, podemos entender que a ressurreição não é garantida para aqueles que vivenciam estas três coisas.

É isso que Paulo está nos ensinando...

É preciso você viver a vida Jesus Cristo, ou seja, ser alvo das ações individualistas dos seres humanos e vivenciar isso com a fé em Deus (sacrificando a sua intenção) para alcançar a ressurreição (o retorno à consciência espiritual, à glória de Deus).

Mas, mesmo depois deste ensinamento de Paulo, que é conhecido há quase dois mil anos, ainda tem gente que reza a Cristo pedindo para arrumar emprego, para fazer acontecer o que ele quer. Justo a ele que passou por todas as situações de constrangimento e carência sem desejar receber nada...