Opinião

O efeito da opinião

Participante: na verdade, eu não estava querendo fazer um juízo de valor, se é certo ou se é errado. O que eu quis colocar é o seguinte: se você vê uma boiada indo em uma direção – Rede Globo, jornal, Revista Veja – você tem duas alternativas: entra e sai mugindo junto...

Ou sai e vai mugir com os que são contra. Mas, aí não importa: está se colocando em outra boiada.

Ser livre pensador por obrigação é seguir uma boiada.

Participante: mas, Joaquim, um pouco diferente disso. Acho que o raciocínio tem que ser o seguinte: bom, tem uma boiada andando para lá, para onde ela vai? E, principalmente, quem está tocando a boiada? E quais são os interesses de quem está tocando a boiada? Eu não estou fazendo juízo de valor se a boiada está indo certo, se a boiada está indo errado, só estou querendo entender quais são as forças e quais são os interesses envolvidos para produzir aquela movimentação.

Você me falou assim: “quais são as forças e os interesses envolvidos”. Qual o interesse e a força envolvida na sua opinião?

Participante: não é uma opinião.

Você falou para mim que você acha isso, que acha aquilo, que acha que foi perda de tempo o presidente se reunir depois, etc. Isso é uma opinião.

Qual foi a força e o interesse que o levou a essa opinião?

Participante: ter conhecimento...

Não. Estar certo! Ter a razão! Foi isso que lhe levou. Por isso tomou uma opinião.

O ser humano se guia por uma opinião para poder discutir com os outros e, por se acharem o certos, obrigar os outros a aprender com ele. Isso não é consciente, mas esse é o funcionamento da mente. Cada opinião que a mente humana toma tem como objetivo criar uma norma para que você possa ter a vitória, o prazer, a fama e o elogio.

Participante: nem que seja para mim mesmo?

Não importa se é para você ou para duzentos: esse é o objetivo.

Deixe-me lhe dizer uma coisa. Essa conversa que estamos tendo é importantíssima e eu lhe agradeço, pois com ela estamos ilustrando exatamente o que eu quero mostrar. Com a sua insistência em defender o direito de ter uma opinião está mostrando a todos que cada vez que deixa a opinião, que é construída pela mente, entrar em seu coração, acaba a sua felicidade.

Participante: e a frase “procurai a verdade e a verdade vos libertará”?

Concordo com você: procure a verdade e a verdade vos salvará. Qual a única verdade desse mundo?

Participante: a verdade para mim nesse mundo é a minha existência, minha mente.

Participante: Deus?

A única verdade é Ele, então, procure-O e esqueça tudo o que acha para que Ele possa lhe libertar.

A sua verdade nunca vai lhe libertar. Pelo contrário, ela vai sempre lhe escravizar a ter que ter para ser e ter que ser para ter. Sempre irá, cada vez mais, lhe escravizar ao sistema humano de vida.

Participante: então, nesse caso, procurar a verdade equivale a procurar Deus.

E o que é procurar Deus, nesse caso? É dar a Ele o poder que é Dele: Ele sabe se foi bom ou mal, se está certo ou errado; eu não sei de nada.

Repito, lhe agradeço esta conversa, pois mostra a prática do que estamos falando. A prática é essa: não importa se você acusa a menina ou se a defende, não importa se acusa um governo ou se o defende, na hora que toma como verdade absoluta a sua opinião, ela lhe faz discutir, debater o assunto. Com isso, acaba a felicidade.

Nós conseguimos conversar sobre esse tema, mas se você estivesse conversando com outro ser humano, com certeza vocês já tinham partido para a discussão. Cada vez iam colocar suas opiniões mais alto e mais rápido para não deixar o outro falar.

Participante: mas o ideal seria abrir mão disso pela a sua felicidade, não é?

Isso. Saber que a única vítima é você e, porque prefere ser feliz, não ter opinião. É isso ou preferir ter opinião. Neste caso, não conseguirá ser feliz.

Participante: as vezes, quando uma pessoa está falando uma opinião contraria a minha, antigamente, eu tinha aquele impulso de revidar, discutir. Aí, depois, você falou uma coisa sobre caridade. Caridade seria doar a razão ao outro. Mas aí, eu fico pensando que hoje em dia, a pessoa conversa comigo e sinto um pouco de preguiça em discutir. Será que isso é caridade ou será que não sou eu querendo ganhar: “ah, para ficar bem, deixa eu ficar quieta logo”.

Pode até ser, mas neste caso é um ganhar sem derrotar o outro. Você está ganhando, mas está derrotando a si mesmo, pois está derrotando o seu egoísmo de querer vencer, de querer ter o prazer de estar certo.

Participante: mas será que isso também não seria prazer?

Olha, isso é caminhada. Vai ter uma hora que nem vai mais pensar em ter que fazer isso e vai doar a razão instantaneamente, mas isso ainda demora. Portanto, como caminhada vá vivendo o que está fazendo agora ...

Participante: Joaquim, existe um problema cultural nesse negócio de discussão. Você pode ver a discussão como...

O que é um problema cultural? O que é a cultura de um povo?

Participante: a forma de ver e tratar as coisas.

É o sistema humano de vida que você vive. A cultura é o sistema humano de vida que é usado como provação para o espírito que é você.

Participante: agora, no caso como ela estava dizendo, aí existe um embate de opiniões contrárias ... Você pode ter a atitude de tentar converter o outro afirmando que está certo e ele está errado, mas também pode, se tiver uma mente um pouco mais aberta, escutar os argumentos e não fazer um embate de pessoa contra pessoa, mas argumento contra argumento. Os dois saem ganhando. Não existe aí, uma vaidade.

Você, agora pouco, falou da função mediúnica deste médium e minha. Disse que nossa missão é importante para levar esclarecimento. Isso quer dizer – não estou dizendo que isso é verdade, mas você colocou desse jeito – que para você eu estaria aqui em uma posição de levar e vocês de receberem.

Esse meu raciocínio está certo? A sua fala me levou a entender que você está vendo nossa conversa desse jeito.

Participante: Sim. Para mim a sua função é o esclarecimento de alguém que tem conhecimento superior.

Perfeito.

Só que mesmo assim você está há meia hora tentando me provar que pode ter opinião, apesar de eu, aquele que está aqui para esclarecer, dizer que não. Isso é comigo; imagina se fosse outro que você não vê numa posição de trazer um conhecimento superior? Com certeza já teria pulado no pescoço dele ...

Não estou falando de atacar o outro fisicamente, mas emocionalmente, internamente, estaria vibrando emoções de combate ao próximo. Estou falando daquilo que vai tomando conta de você aos poucos e quando vê acabou a sua paz, a sua felicidade.

Viu o que estou tentando mostrar? Tomar uma opinião, seja ela qual for, é botar uma arma na sua cabeça. Sabe, aquela brincadeira antiga, roleta russa. Colocar apenas uma bala no tambor e girar para ver se ela estará no gatilho ou não ...