Caridade espiritual

O dharma

Outra característica importante do Buda de uma casa: ele é universal...

Hoje em dia é comum as casas espíritas ou espiritualistas possuírem variados trabalhos. As casas possuem trabalhos de apometria, reiki, energização, passes, incorporação, etc. Estes trabalhos funcionam para a casa como os departamentos funcionam para uma empresa.

Assim como nas empresas os departamentos executam seus trabalhos isoladamente, os trabalhos da casa também são executados deste modo. Mas, isso não quer dizer que tanto num como no outro caso eles são autônomos. O funcionamento de cada um precisa ser realizado vinculado ao objetivo e as normas da empresa. É aqui que entra a universalidade do Buda de uma casa.

Pouco importa que expressão mediúnica a casa utilize para atender aqueles que a procuram: o objetivo, a doutrina e o direcionamento desta precisam estar presentes. Seja na apometria, no reiki, nos passes ou na incorporação, aquilo que foi decidido pela casa como seu objetivo, doutrina e direcionamento desta devem ser observados, como o objetivo e as normas das empresas precisam ser respeitados no trabalho de cada departamento.

Isso é outro aspecto importante no tocante ao Buda. Quando em cada trabalho mediúnico um objetivo é buscado, uma doutrina diferente é usada ou um direcionamento desta é diferente do outro, causa instabilidade àqueles que freqüentam a casa. Ele não sabe mais o que esperar, mais como caminhar e com isso acaba não sendo atendido a contento.

Esta última compreensão nos leva ao próximo elemento que sustenta uma casa: o dharma...

O que é o dharma? Para os budistas é a ação certa. Não certa como aquela que deve ser executada, mas como a ação que leva àquilo que quer ser alcançado.

Buda no seu primeiro discurso afirma que encontrou o caminho que leva à felicidade: o Nobre Caminho Óctuplo. Este caminho é composto por atitudes corretas: ação correta, compreensão correta, meio de vida correto, etc. O correto neste caso não significa o certo, mas aquele que se percorrido leva a alcançar o que é pretendido. A ação correta indicada por Buda leva o ser à felicidade; a ação não correta leva a outro destino. Qualquer ação para Buda está certa, mas leva a lugares diferentes.

O dharma, então, no nosso caso, é a casa fazer aquilo que deve ser feito dentro da ideologia e direcionamento desta pré-escolhida. Ou seja, o dharma no nosso caso é a ação executada dentro daquilo que a casa se propõe a fazer. Da mesma forma, no caso do trabalho individual de cada ser humanizado para a sua elevação espiritual, a presença do dharma neste trabalho significa agir dentro daquilo que ele escolheu como caminho para si...

Pela presença do dharma na casa, como disse, os trabalhos devem ser executados de forma uníssona. Esquecendo-se disso, os trabalhos da casa podem acabar ficando dissonantes entre si. Vou explicar isso...

Digamos que depois de funcionando, uma casa antevê a perspectiva de poder contar com o trabalho de alguém reconhecido com um grande potencial de realização de ajuda ao próximo. Na ânsia de servir, os membros da casa acabam trazendo esta pessoa para seu dia a dia. Fazem isso com a melhor das intenções, mas o preço a ser pago por isso pode ser muito alto...

Se esta pessoa ao trabalhar na casa estiver ligada a um objetivo, a uma doutrina ou a um direcionamento diferente, está praticando uma ação não dharma, porque o seu trabalho não está de acordo com aquilo que a casa estabeleceu para si. Não importa se o trabalho desta pessoa é profícuo, se alcança imensos resultados ou se a presença dela engrandece a casa: ele não serve para trabalhar ali, pois pode gerar instabilidade para a casa.

Ao invés dessa pessoa, a casa pode ter um médium menos conhecido ou de menor potencial de êxito, mas que execute seu trabalho vinculado ao que foi pré-escolhido. Este pode não trazer glória para casa e pode até muitas vezes não agradar aos freqüentadores, mas ele é o melhor para a casa, pois trará estabilidade ao seguir o caminho proposto. A ação deste elemento é dharmática e isso só faz bem à casa que tem como objetivo ajudar o próximo.

O que quero dizer com isso. É que o ser humanizado ou grupo que pensa em abrir uma casa ou que administra uma deve ter cuidado ao escolher aqueles que vão desenvolver trabalhos lá. De nada adianta escolher o melhor, pois de nada adianta escolher ou admitir pessoas que se destaquem no que façam, mas que não sigam o que foi pré-estabelecido pela casa e que se tornou no seu Buda, na sua diretriz. O melhor para a casa é escolher ou admitir quem esteja comprometido com aquilo que a casa escolheu para si.

Guiados pelos conceitos humanos, quando se fala em abrir uma casa para auxílio aos outros, os seres humanizados preocupam-se logo com quantidade de trabalhadores e em agregar pessoas com qualidade comprovada. Isso não é real. Se a casa só tiver um trabalhador que esteja focado no objetivo dela, este será alcançado. Se ela tiver cinqüenta trabalhadores que não possuam este foco, ele jamais será alcançado. Isso acontece, porque como cada um puxará a brasa para sua sardinha, nenhuma delas será assada...

Falando pelo aspecto espiritual das casas, o problema de se ter pessoas comprometidas com objetivos e doutrinas diferentes é que cada um possui a sua própria energia. Cada doutrina escolhida, cada direcionamento adotado e cada objetivo perseguido fazem o ser humanizado utilizar uma determinada energia. Numa casa onde isto existe, portanto, há uma gama grande de energias e isso desestabiliza o campo energético dela.

Por isso é que quem quer criar uma casa ou quem administra uma precisa ter a preocupação de que todos os envolvidos no processo ajam dentro do objetivo, da doutrina e do direcionamento escolhido, como a política estabelecida por uma empresa precisa ser seguida pelos seus diversos departamentos.

É por causa disto que o ecumenismo nunca conseguiu ser implantado entre os humanos. Isso acontece porque os seres humanizados acreditam que o ecumenismo é formado com a convivência das diversas correntes religiosas existentes. Isso é impossível. Para que ele existisse seria necessário que todos abandonassem suas próprias correntes e criassem uma corrente única para eles. Neste momento haveria, então, uma nova corrente: a corrente ecumênica. Ela seria composta por ensinamentos das diversas correntes originais, mas teria seu corpo próprio e não mais teria vários corpos.

O ecumenismo, portanto, não é a fusão, mas a integração. Integrar-se a que? Ao ecumenismo. Mas para que isso aconteça é preciso que cada um saia de onde está...

Dharma: este é o segundo aspecto sem o qual um ser humanizado ou um grupo não consegue criar uma casa espírita ou espiritualista que realmente possa ajudar ao próximo. Pode fazer uma casa que às vezes ajude alguém, pode fazer uma casa que se torne muito famosa e reconhecida, mas que acaba não ajudando ninguém.

Ainda sobre este ponto, quero falar mais alguma coisa. Se um ser humanizado ou um grupo deles decide escolher um Buda formado por ensinamentos de diversas correntes religiosas, muitas vezes, este fato pode atrair pessoas que não estejam diretamente ligadas a esta ideologia, mas que acabam aproximando-se por causa da presença de alguns aspectos que eles comungam, apesar de não comungar com a doutrina toda. Neste caso, como manter o dharma da casa?

Simples: sendo firme na aplicação do Buda que foi escolhido. Se o grupo que pertence a casa está firme na sua ideologia e passa esta firmeza para os recém-chegados, eles mesmos acabam percebendo que ali não está de acordo com as suas crenças e com isso acabam se afastando. Isso é o que chamo de seleção natural...

Para manter o dharma de uma casa os trabalhadores que comungam da ideologia desta não precisam manter uma vigilância constante nos trabalhos realizados por outros, mas não transigir do seu Buda. Mantendo sempre presente o objetivo e o direcionamento dos ensinamentos nas reuniões de trabalhadores e nos próprios trabalhos, o grupo leva aquele que não comunga com a ideologia da casa a buscar outro local onde possa desenvolver suas atividades.

Mas, será que o dharma, ou seja, ação correta dentro do objetivo da casa se aplica aos seus freqüentadores? Ou seja, será que é preciso selecionar as pessoas que vão buscar o que a casa quer oferecer ou pode se receber pessoas que venham em busca de objetivos diferentes?

Da mesma forma como no caso dos trabalhadores, esta seleção acontece naturalmente. Os trabalhadores da casa mantendo-se firmes em sua ideologia levam o ser humanizado que busca alcançar objetivos diferentes ou que comunga de doutrinas diferentes a compreenderem que ali não existe o que ele busca. Para isso é preciso não haver submissão aos desejos daqueles que procuram a casa.

Muitas vezes a casa tem como objetivo auxiliar o próximo e como caminho para isso a utilização de ensinamentos direcionados à evolução espiritual. Acontece que quem procura esta casa não sabe disso e vai ali buscando a felicidade deste mundo. Esta busca é expressa através da procura de resolução para os seus problemas materiais e não do conforto espiritual. Neste caso, a tendência de quem quer ajudar é prestar o auxílio que é esperado e com isso acaba transigindo do seu Buda e praticando uma ação não dharmática. Isso desestabiliza a casa, como já vimos...

Transigir do seu Buda não ajuda nem a casa, nem a pessoa que está buscando auxílio. Isso acontece porque, se a casa tem um objetivo, como já vimos também, ela é municiada com uma determinada carga energética que seja compatível com este objetivo. Sendo assim, não existe na casa a energia específica para ajudar no outro sentido. Portanto, transigir do Buda e praticar a ação não dharmática não leva a lugar algum...

A partir disso, gostaria de dar um conselho a todos que querem criar ou que participam de casas para auxílio ao próximo: torne a ideologia da casa bem como o direcionamento que se dá a ela muito conhecida para todos que ali trabalham e também para os que frequentam. Isso pode ser feito por uso constante nas palestras, por citações em conversas particulares ou ainda por meio de quadros que transmitam o Buda e direcionamento que é dado por este pela casa. Assim, as pessoas que ali frequentam, bem como os trabalhadores da casa conseguem antever o que ali se professa e podem mais facilmente verificar se ali existe compatibilidade com o que buscam.

Lembre-se do ensinamento do Espírito da Verdade: o Universo é feito por afinidades. De nada adianta manter numa comunidade aqueles que não possuem afinidades com os objetivos dela. Ele não se sentirá bem, nem confortável naquele lugar.

Tenho dito a muitas pessoas que deveriam repensar a sua busca da elevação espiritual, pois pode ser que dediquem uma vida inteira a isso e acabem se frustrando com o resultado que encontrarão. Vou dar um exemplo disso.

Imagine um ser humanizado que goste de natureza. Goste de flores, rios correndo, a mata, etc. Estas pessoas, se procurando a elevação espiritual podem se frustrar com o que vão encontrar depois do desencarne. No Universo universal não existem formas. Sendo assim, como encontrar uma flor, um rio ou uma mata neste lugar? Mantendo-se preso a este gostar, não terá afinidade com o que vai encontrar e isso acaba frustrando-o.

A afinidade com o que está se vivendo é o fundamental para o bom aproveitamento daquele momento. Por isso, oriento a todas as casas que tenham instrumentos que deixem bem claro qual o Buda e o seu direcionamento que são usados para a realização dos trabalhos da casa. Sendo expostos a isto, tanto os trabalhadores como os freqüentadores terão rapidamente consciência da incompatibilidade entre os seus desejos e esperanças e a ideologia da casa. Com isso podem procurar um local onde encontrem afinidade.

Volto a insistir: não estou falando em selecionar trabalhadores ou freqüentadores, mas em preservar a afinidade. Toda casa existe para atender os seres humanizados de uma forma genérica, mas para que este atendimento possa ser realmente proveitoso para ambas as partes é preciso que cada um seja atendido no lugar que possua afinidade. Existem casas que comungam com todos os anseios dos seres humanizados. Nenhum ficará sem atendimento por causa disso. Assim, se ele não se afina com a proposição de uma sempre encontrará outra onde isso aconteça e ali poderá ser atendido.