Em busca da Felicidade - Prática - Relações trabalhistas

Não queira saber como agir

Participante: eu decepcionaria a minha mente se agora for para cama dormir ao invés de ficar aqui e acabar de lhe ouvir?

Está vendo como o problema é que vocês correm atrás do rabo? Acabei de dizer que quem faz a ação é a mente. Sendo assim, você não pode ir dormir. Quem pode é ela.

Você não dorme, porque é o observador da mente. Sendo assim, enquanto ela dorme, você deve continuar observando-a. É a mente que deita, que dorme, que se levanta e que vai ao banheiro.

É neste ponto que ainda estão correndo atrás do rabo: querem saber o que fazer, como agir. O que estou dizendo o tempo inteiro é que a única coisa que deve ser feita é a observação. Sendo assim, se ela neste momento está dizendo que vai dormir, observe ela fazer isso. Verifique o que ela está pensando enquanto está indo dormir e não se preocupe com a ação em si.

Não é fazer, não é praticar atos, mas observar a mente agindo.

Participante: não se deve acreditar em nada para que a mente não crie conceitos e depois ficar criando realidades em cima deles?

Quem cria conceitos é a mente. Toda hora que o observador, você, aceita o que ela cria, esta informação será guardada e um dia será usada contra você, contra a sua felicidade.

Para poder entender, comparo o que estou falando com a leitura dos direitos que a polícia dos Estados Unidos faz: tudo o que disser poderá e será usado contra você no tribunal.

Participante: a paz é mais um prazer que a mente busca?

A paz racional, aquela que é compreendida como paz, sim. Agora, a verdadeira paz é simplesmente aquela que surge quando você não vive o que a mente cria.

A paz que vocês conhecem e buscam é apenas uma declaração da mente. Por isso, quando ela fizer essa criação, não acredite. Apenas observe o que ela criar e não compactue com isso.

Participante: estou desempregado há três meses, mas ultimamente me vejo cada vez mais desinteressado por um trabalho. Meus amigos estão muito mais preocupados do que eu em arrumar um emprego para mim. Pode parecer loucura, mas prefiro morrer por falta de dinheiro a ter que trabalhar para comprar isso ou aquilo, pois não desejo mais nada deste mundo. Posso estar ficando louco?

Se estiver é a mente que está e não você. Afirmo isso porque tudo isso que você está me relatando é apenas uma criação mental e não uma realidade. Por isso, apenas observe e não acredite nestas informações.

Volto a dizer: vocês ainda estão preocupados se o que pensam está certo ou não, se devem continuar pensando isso ou aquilo. Fazem isso imaginando que estão realizando o trabalho que eu indico, mas não ouvem que o que sempre digo é observar o que a mente pensa.

Não é você quem pensa. Não importa qual seja a situação, não é você que está vivendo aquilo. Mesmo que seja uma situação como essa, que é aparentemente algo sublime, elevado espiritualmente.

Sei que está imaginando que você está mostrando um desprendimento, mas este não é seu e sim da mente. O único desprendimento que você pode fazer não tem nada a ver com as coisas deste mundo, mas sim das criações mentais. Portanto, não acredite que essa sua razão é verdadeira.

Não existe desprendimento do observador com relação a qualquer coisa da vida material. O único desprendimento dele é do que a mente cria.

Sei que o fato de não desejar mais nada deste mundo parece muito bonito para vocês, mas trata-se apenas de uma coisa racional, mental e não sua. Por isso, observe-a sempre.

Participante: qual o objeto da mente ao gerar isso?

Se lhe falar qual é o objetivo dela, com certeza você não entenderá. Se houver alguma compreensão isso será um processo racional e por isso será ela que compreenderá e não você. Para que, então, você está aí todo ouriçado querendo saber alguma coisa?

Participante: estamos dentro de um robô personagem vivendo uma peça de teatro?

Para estar dentro de alguma coisa seria necessário existir um fora. Como não há fora, não há dentro.

Esqueça essas coisas. Isso é apenas uma figura gerada pela mente; não compactue com ela. Não se prenda a ter que saber a resposta.

Participante: estou fazendo determinado trabalho e de última hora mudo a ação. Aí vejo que o que queria fazer antes estava certo e o que fiz estava errado. Imagino que minha mente me enganou, então. O que tem a dizer sobre isso?

É a só a sua mente que está dizendo que isso aconteceu. Na verdade foi ela que quis fazer de uma forma, foi ela que gerou a ideia de mudar, foi ela que fez dar errado, foi ela que disse que estava lhe enganado. Você não fez nada. Aliás, o que poderia fazer não fez: apenas observá-la trabalhando e agir para se libertar das ideias que ela criou.

Estamos conversando há bastante tempo sobre o assunto, mas vocês ainda não entenderam, pois estão preocupados com ação. Não se trata de agir fisicamente, mas de observar a criação mental.

Participante: o senhor disse que ao dirigir, por exemplo, temos que focar o dirigir. Só que quando estou fotografando um casamento penso e fico à espera de futuros acontecimentos para não perde-los. Como devo proceder?

Quem faz tudo isso é a mente e não você. O que deve fazer é observá-la agir.

Toda ação, e a atenção a alguma coisa é uma ação, é feita pela mente. Por isso não se preocupe em ter atenção em nada neste mundo, mas apenas no que é criado no seu mundo mental.

Sei que muitos podem estar achando cansativa a conversa de hoje por causa da quantidade de perguntas respondidas da mesma forma, mas estou fazendo isso de propósito. Quero ver se a repetição frente às diversas ações que estão usando nas suas perguntas chegamos à conclusão da única coisa que podem fazer.

Observe como a preocupação de vocês está focada no como agir, como criar ou participar fisicamente de uma ação. Só que toda e qualquer ação é feita pela mente. Por exemplo: neste momento vocês estão me ouvindo? Não, quem ouve ou deixa de ouvir é a mente e não você. Por isso observe o que ela cria enquanto ouve, ao invés de ficar preocupado com o volume ou com o que é dito.

Ao invés de querer compreender o que eu digo – ‘tenho que prestar atenção no que Joaquim está dizendo para ver se aprendo’ – concentre-se no que a sua mente vai fazer enquanto o som está entrando. Afinal de contas, se toda ação será realizada pela personalidade humana, você jamais compreenderá nada. Além disso, tudo o que for compreendido é o que ela está criando e que posteriormente poderá ser usado contra você.

Imaginar que tem que prestar atenção ao que está sendo dito para poder compreender as coisas é uma cilada da mente. Digo isso porque quem gerará a compreensão é ela e não você. Quando fizer isso, ela compreenderá do jeito dela, fundamentada nas suas próprias verdades. Com esta compreensão ela gerará um conceito que, como já disse, mais tarde será usado para lhe roubar a felicidade.

Você nunca vai gerar uma compreensão. Por isso, não se preocupe com isso. Apenas observe o que ela diz que está compreendendo ou não e não acredite em qualquer afirmação que ela faça sobre o assunto, qualquer conclusão que ela chegue.

Participante: a impressão que tenho é que caminho para um vazio, sem sentir, sem pensar. É só deixar o barco da vida correr.

Quem está falando isso é a mente. Portanto, apenas observe o que ela está falando e não aceite como verdade.

Participante: algum tempo atrás li muito um autor que fala da observação plena e viver no aqui e agora. Abandonei porque me senti esgotada. Agora começo a entender que foi porque queria fazer alguma coisa para ser outra pessoa.

Isso. Você ficou esgotada porque ao invés de se concentrar em prestar atenção nas criações mentais, estava concentrada em fazer. Fazer o que, se a única coisa que precisa ser feita é ter atenção?

Portanto, esteja concentrada apenas em ter atenção e não em ser alguma outra coisa do que é.

Participante: descrever as verdades geradas pela mente não seria uma nova verdade e portanto sujeito também à dúvida? O que resta, então, para ser observado?

Tudo, inclusive a descrição que a mente faz do que está pensando.

Observe tudo que a mente lhe disser. Se ela disser lhe descrever o que está sendo pensado ou se ela lhe disser que conseguiu se libertar, duvide disso.

O que estou dizendo é que vocês devem ser incrédulos o tempo inteiro, inclusive quando a mente lhe disser que conseguiu ser incrédulo.

Participante: como amar de verdade contemplando a mente?

Na hora que você souber o que é amor, vai entender o que estou dizendo.

Neste momento da sua existência só quem sabe o que é amor é a mente. Amar, para vocês, é viver a partir de diversos conceitos. Por isso, não se ligue na busca da compreensão deste tema.

Tem mais: se é a mente que age, quem ama neste momento é a mente e não você. Por isso observe-a amando e não ache que está.

Participante: quando estou concentrada e trabalhando fisicamente em determinada ação pensando apenas no que está sendo feito e começo a observar, acabo desconcentrando. Esta desconcentração me leva a pensar em outras coisas. Este desconcentrar é minha mente me fazendo parar? Ela está em todas?

Observe a sua mente desconcentrando ao mesmo tempo lhe dizendo que isso está acontecendo e que você precisa se concentrar novamente. Para que? Para não se deixar levar por isso e querer fazer alguma coisa: voltar a se concentrar ...

Se a sua mente vagueia por outros pensamentos, observe-a pensar em outras coisas. Só observe: tudo é a mente que faz.

Participante: para quem ainda acredita que vai mudar o que pensar, o que seria bom de se pensar?

Não sei. O que será bom de se pensar é o que for bom para você.

Falo assim porque qualquer coisa pensada é ruim para aquele que quer ser feliz, pois se trata de uma armadilha que está sendo preparada para lhe prender ao prazer ou a dor. O pensamento só serve para isso: para criar condições para que o prazer e a dor sejam considerados reais, que devem ser vividos. Com isso, a vivência da felicidade não é alcançada.

É como já me disseram: é normal ter prazer e dor. Sim, isso é normal, mas para a mente, não para você.

Participante: se minha mente me diz que eu sempre observo, é ela querendo me enganar? Digo isso porque enquanto presto atenção a isso deixo de observá-la.

Exatamente. Acreditou que observou e com isso deixou de observar. Por isso estou dizendo: não acredite em nada. Nem na mente lhe dizendo que a observação foi feita.

Participante: quem está racionalizando nossas perguntas e dando a resposta: é a sua mente ou sou eu?

É a sua mente.

Participante: se tudo é a mente que faz, onde estou eu? Não consigo me encontrar. Talvez precise de mais exemplos práticos.

Você só se encontrará quando se libertar da mente. Como vai se conhecer se não tem a mínima ideia de quem é você ou a mente?

Conforme vai se libertando das criações mentais aparece para si mesmo.

Participante: se a observação der uma canseira, devo observar a canseira de observar?

Exatamente. ‘A minha mente está dizendo que está cansada de observar, mas eu não acredito nisso’.

Participante: entendi então que o problema está na nossa identificação com a mente e na verdade ela não é problema algum. Sendo assim, não devemos rejeitá-la, mas sim entende-la?

Se quiser entende-la só tem um instrumento para fazer isso: a própria mente. Não, estou falando em rejeitá-la, pois cada vez que a rejeita não cria mais entendimentos.

Realmente o problema não é a mente, mas o entendimento que ela cria. A armadilha do sofrimento está no entendimento. É ele que lhe diz que deve sofrer, deve ter prazer. Todo entendimento lhe causa um sofrimento.

Participante: a mente não é o mestre, mas um instrumento na mão dele?

Não sei quem é o mestre. Se você não sabe de onde vem o pensamento, como quer saber quem o enviou?

Esqueça mestre ou qualquer outra coisa. Na sua vida existe apenas você e a mente. O resto será o que o seu processo mental lhe disser que é.

Participante: meu trabalho é costurar. Às vezes enquanto minha mente costura, ela me diz o quanto ainda tenho que costurar. Neste momento digo a ela que não sei o quanto ainda falta. Digo que sei que apenas daquele ponto que estou dando. Percebo, também, que as vezes que dou ouvidos sempre acontece alguma coisa: a linha arrebenta, a máquina enguiça. Isso é uma cilada da mente?

Tudo isso é cilada da mente. Observe ela falar da quantidade que tem para fazer e da ideia de que só há este ponto a ser dado. Quanto ao que acontece, também apenas observe e não chegue à conclusão alguma.

É sempre não sei de nada.