Conversando com um espiritualista - volume III

Não aceitar o que a vida dá

Participante: nós podemos não aceitar o que a vida propõe?

Claro...

Quantas vezes você já não acordou de bem consigo mesmo, tranquila e alguém faz algo que você não gosta. Neste momento lhe vêm à ideia de sofrer pelo que o outro fez, mas você não aceita este sofrimento. Diz para si mesma que está tão bem hoje que não compensa perder este estado de espírito por conta do que aconteceu.

Neste momento você reagiu não compactuando com o que a vida lhe propôs para sentir. Conviveu com o acontecimento que a vida viveu sem se deixar levar pela opção proposta por ela.

Participante: não foi a vida que viveu assim neste momento?

Não, ela lhe deu o acontecimento. Depois, lhe propôs sofrer pelo que aconteceu. Você, por estar se sentindo bem, decidiu não sofrer.

Participante: se fizermos isso vivenciamos o não sofrer. Mas, para isso é preciso estar ligado.

Sim, a necessidade de estar ligado para poder separar-se da vida é fundamental. Apesar de falar assim, repare que dei um exemplo onde você não está ligado nesta questão, mas mesmo assim fez. Ou seja, a opção pode acontecer mesmo que você não esteja ligado em si mesmo, mas isso ocorrerá esporadicamente. Se estiver ligado, pode fazer acontecer sempre.

Por isso insisto que a questão de estar ligado é necessária para a realização deste trabalho. Sem estar ligado a esta questão, normalmente você viverá o que a vida propõe. É preciso estar muito atento no momento em que a vida propõe uma reação a um acontecimento para que você possa não viver o que ela propõe.

Participante: o senhor está certo. Muitas vezes eu digo deixa para lá, mas em outras não consigo fazer isso...

Mas, o deixa para lá não tem que ocorrer no ato. Não se trata de reagir ou não fisicamente. Ele precisa acontecer com relação ao que a vida propõe que você sinta. O que precisa ser deixado de lado é o que ela propõe para sentir e não o que acontece.

Participante: o que o senhor quer dizer é que é possível nós termos um chilique daqueles fenomenais, rodar a baiana, ficar muito braba e atacar o outro e assim mesmo estar em paz?

Quem é que está tendo o chilique, rodando a baiana? A vida. Neste momento não há nada seu, não há nenhuma ação sua. Agora, depois que a vida rodar baiana, depois que tiver o chilique e brigar e gritar a vontade, ela vai lhe dizer: sofra, pois você sabe que não podia fazer isso e fez... Aí chegou a sua hora de agir. É neste momento que você precisa dizer a si mesmo que não foi você que fez a ação e que por isso, não precisa sofrer por conta do que aconteceu.