O evangelho segundo Tomé

Logia 95 - Amor ao inimigo

“095. Disse Jesus: Se tiveres dinheiro, não o emprestes a juros, mas dá-o àquele que não vai pagar-te”.

Luiz

Paz!

O ser humano procura conviver com quem gosta e aprova, com quem possui os hábitos e costumes semelhantes aos seus. Afirma que agindo desta forma está amando aquele amigo.

Infelizmente a verdade é outra: o ser humano que assim age está amando a si mesmo.

Ele não convive com a outra pessoa por causa dela, mas para gerar satisfação para si mesmo. O que move esta relação não é amor, mas egoísmo, individualismo. O que o ser humano busca nestes relacionamentos é apenas a sua própria satisfação.

Dentro do que o Mestre ensinou nesta logia, o ser humano só empresta o seu dinheiro para aquele que, com certeza, poderá pagá-lo com juros, ou seja, só gosta daquele que provavelmente não irá aborrecê-lo, pois possuem conceitos semelhantes.

É muito fácil conviver com quem se gosta. Como nos ensinou Cristo, viver com quem se ama é muito fácil; o importante é aprender a conviver com aqueles de quem não gostamos, ou seja, dar o “dinheiro” para aquele não poderá pagar o que está recebendo.

Tratar os que possuem conceitos assemelhados com benevolência e camaradagem não é um ato de amor ao outro, mas de amor a si mesmo: é egoísmo. O que o ser busca nesta amizade é a paz baseada na não exposição a situações que contrariem os seus conceitos.

O ser humano egoísta e individualista age desta forma. O espírito procura exatamente o contrário.

Aquele que busca a sua evolução sabe que só a conseguirá expiando faltas de vidas anteriores. Toda expiação é um pagamento, ou seja, gera uma perda de “posses”.

Quando se paga alguma coisa, recebe-se algo e perde-se o que se tinha. Em uma transação comercial o espírito paga o valor devido por uma mercadoria, perde a posse da moeda, mas ganha a posse da mercadoria.

Na expiação, ou seja, na convivência com aqueles que possuem conceitos diferenciados (“inimigos”) é a mesma coisa: o ser perde suas posses morais, mas entra de posse de tesouros que o levarão à felicidade universal.

Expiar não pode ser um ato que cause satisfação material ao ser. Se a expiação é um dos trabalhos que o espírito vem fazer na carne e que é necessário para a sua evolução, pode se compreender que somente convivendo com aqueles que possuem conceitos contrários (“inimigos”) o ser alcançará a evolução.

Por este motivo o Mestre enviou tantos ensinamentos de amor a todos, amor ao inimigo e àquele que não pode pagar por este amor. Se o seu inimigo puder pagar com amizade o seu amor, não será mais inimigo, mas amigo. A partir deste momento não existe mais expiação.

Amar um viciado não deve se traduzir na tentativa de tirá-lo do vício, mas de amá-lo dando-lhe o direito de exercer o seu vício. O vício seja ele qual for, não é bom ou ruim: é apenas mais uma condição que Deus criou para que os espíritos possam provar, expiar e cumprir missões.

Se assim o é, não será um ato material de qualquer dos envolvidos que poderá extinguir a situação. Se um ato material extinguisse uma situação ela teria que ser fruto da materialidade. Somente um ato espiritual positivo pode dar motivo a Deus para modificar o ato material que Ele mesmo criou. Somente o amor incondicional entre os envolvidos na expiação pode acabar com a situação que foi criada para este fim.

Quando falo em viciado, não estou me referindo apenas ao viciado em drogas, bebidas ou cigarro, ou seja, no viciado material. Os seres humanos são viciados também em sentimentos. Existem aqueles que são viciados em raiva, outros em mágoa, muitos se viciam em reprovação. Para todo e qualquer vício, o amor incondicional é a única solução.

No entanto, o amor de que estamos falando não é aquele conhecido no planeta, mas sim o AMOR UNIVERSAL.

Para o ser humano existem três formas de amar: a professoral, a que envolve sofrimento e o fim das perdas acontecidas durante a expiação. Nenhuma delas reflete o amor universal.

Sempre que uma pessoa age “errado” dentro dos padrões das outras, a primeira reação é alguém ensinar o que é “certo”: este é o amor professoral. O “certo” ensinado, porém, não reflete uma Verdade Universal, mas sim uma verdade individual. Aquele que é viciado material (drogas, cigarros, bebidas, etc.) está “certo”, pois é desta situação que necessita para fazer sua expiação.

Aquele que utiliza o amor universal compreende esta situação e ama o próximo da forma que ele é. Ao invés de lhe dar “lição de moral” e cobrar a sua recuperação, mostra constantemente que o ama, sem cobranças ou exigências.

Outra forma de reagir é sofrer com o “errado”. Um viciado passa por diversas situações de sofrimento. Quem ama com o amor universal reconhece este sofrimento, mas não chora com o viciado.

Ao invés de encharcá-lo com mais sentimentos negativos tendo “pena”, mantém sua alegria para poder transmiti-la ao necessitado. O ser que utiliza o amor universal compreende que estas situações foram criadas por Deus com a intenção de que aquele outro altere os seus sentimentos e deixe de sofrer.

Existem ainda os que são “superprotetores”. Esta forma de amor busca sempre minimizar as situações de sofrimento pelas quais o ser necessita passar para a sua evolução. Em nome de um amor inexistente fazem uma caridade que, na verdade, acaba causando prejuízo ao ser.

Falo em amor inexistente porque quem age desta forma ama a si mesmo e não ao próximo. O que ele procura é a sua satisfação, ou seja, que aconteça tudo o que ele quer para o outro. Aquele que procura compensar as “perdas” ocorridas durante a situação de sofrimento de um espírito, não ajuda a ele, mas, ao contrário, prejudica a sua evolução.

O espírito para evoluir precisa “pagar” todas as suas dívidas.

O amor em qualquer das três formas nada tem a ver com o amor universal, mas sim com o material, pois ele sempre espera uma recompensa, um retorno do “capital” empregado acrescido dos juros.