O evangelho segundo Tomé

Logia 112 - Uma só realidade

“112. Disse Jesus: Ai da carne que depende da alma; ai da alma que depende da carne”.

John

“Quem se esforçar para conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perder a sua vida por minha causa vai achá-la” (Mateus – 10, 39)

A vida de um ser humano é composta de dois elementos: realidade e ilusão. A realidade é o acontecimento da vida carnal; a ilusão é o sonho ou projeções de situações que o ser humano faz para ser feliz.

Estudar é “chato” porque a felicidade está na formatura; trabalhar é cansativo, pois só quando se recebe o salário do mês podemos realizar nossos sonhos; criar um filho é motivo de preocupação porque todo o futuro dele já está sonhado pelos pais...

No entanto, se não houver estudo não há formatura, o salário depende do trabalho e o futuro de cada um será sempre aquele que Deus destinar. Mas, como foram criadas condições para que a felicidade fosse sentida, o ser humano não consegue estar neste estado de espírito durante os trabalhos necessários para alcançar os objetivos.

Sofre durante todo o caminho para a felicidade planejada e quando chega a ela também não consegue exercer plenamente este estado, porque já projetou uma outra e nova condição para ser feliz. A formatura perde importância quando se projeta o futuro profissional, o salário nunca dá para realizar os novos sonhos de consumo e o filho perde a importância frente ao futuro do neto.

Assim, de sonho em sonho o ser humano passa pela vida sofrendo e nunca alcançando a felicidade universal. Os sonhos, ilusões projetadas, são a realidade da existência dos seres humanos e não os acontecimentos da vida.

 Jesus nos ensinou que Deus sabe o que precisamos melhor do que nós mesmos. Baseado nas nossas reais necessidades o Pai causa as situações da vida de cada um. O objetivo de cada causa (acontecimento da existência carnal) é levar o ser humano a ser feliz universalmente, só que ele não aproveita a oportunidade porque está vivendo o sonho.

Por isto Jesus também nos ensinou que se deve “perder a vida para poder ganha-la”. O ser humano precisa deixar de sonhar e viver a realidade com felicidade universal para poder ganhar a felicidade eterna.

Para se ter uma vida feliz com a carreira profissional é preciso amar (ser feliz) cada dia de aula; para que o salário tenha algum valor é preciso amar o trabalho e todas as coisas que se possui, não desejando mais nada; para ser feliz de verdade com o filho é necessário que se ame cada dia da vida dele concedendo-lhe a liberdade de ser quem ele quiser.

Na minha última encarnação também sonhei. Como já possuía os objetos do sonho da maioria dos seres humanos (dinheiro, poder e fama), dediquei-me a sonhar com um mundo diferente daquele que Deus criava a cada segundo. Busquei promover a paz, a liberdade e igualdade dentro dos parâmetros que eu sonhava para estes estados de espírito.

Queria paz desde que ela fosse alcançada sem que eu me mudasse. Queria liberdade, mas não dava aos outros a liberdade de ser o que desejassem. Queria igualdade desde que o parâmetro básico fosse determinado pelo meu sonho...

Na verdade não buscava nada disso, porque o que eu queria era construir cópias de mim mesmo, ou melhor, cópias do que idealizava como sendo eu. Como poderia eu querer paz se era um agressor, sistematicamente atacando meus inimigos? Como poderia eu falar em liberdade se era escravo do meu próprio querer? Como falar em igualdade se não respeitava o princípio básico da igualdade que é o direito de sermos diferentes?

Deixei de ser feliz porque não amei os meus inimigos, mas não o fiz porque não vivi a realidade que Deus me deu com amor.

A paz só será alcançada quando cada um estiver em paz consigo mesmo e com os outros, a liberdade só será conquistada quando cada um se tornar livre dos seus valores e a igualdade só será plenamente exercida quando todos tiverem o direito de serem diferentes.

Existe uma só realidade: as situações que Deus oferece a cada segundo para o ser na carne. Esta é a oportunidade para ser feliz, mas para isto é preciso amar o agressor sabendo que ele é instrumento de Deus, é preciso amar os conceitos alheios dando a todos a liberdade de prenderem-se ao que quiserem, tornando assim todos iguais perante o Pai.

Imagine um mundo assim... onde todos os seres humanos vivam e deixem os outros viverem como quiserem.

Imagine um mundo assim ... onde todos percam seus sonhos e vivam trabalhando com amor.

Este mundo só existirá no dia que o ser humano deixar de viver (projetar situações para ser feliz) e amar cada segundo de sua existência como a Perfeição que Deus criou, necessária e justa.

Ame a realidade.