O evangelho segundo Tomé

Logia 111 - Renúncia

 “111. Disse Jesus: Os céus e a terra passarão diante de vós, e aquele que vive do Vivo, não conhecerá nem morte nem medo, porque Jesus disse: aquele que encontrar-se a si mesmo, dele o mundo não é digno”.

Judas

O primeiro ingrediente necessário para a promoção da reforma íntima é a renúncia. É preciso que o ser humano renuncie a esta auto visão (“ser humano”) para que possa chegar à realidade universal: este é o trabalho que um espírito faz na carne.

Renunciar às suas posses, aos seus desejos, às vontades individuais, à alegria material, à fama, ao elogio ou até à própria vida material se for preciso, para alcançar a glória eterna. Sem esta renúncia, o tempo não passa para o espírito e ele fica preso na roda de encarnações. Novamente ele terá que retornar à carne para provar que é capaz de renunciar a todas estas coisas em troca da sua felicidade eterna.

A renúncia às coisas materiais é a aceitação dos desígnios de Deus para cada um. É a prova de que o espírito reconhece a Ele como o Pai capaz de guiar os seus passos com Inteligência, Justiça e Amor.

Muitas vezes esta renúncia pode produzir efeitos que duram por um longo período, mas quanto maior a prova, maior também será a felicidade alcançada pelo cumprimento dos desígnios de Deus. A renúncia ao sofrimento do sonho não alcançado, vivenciando-se a realidade amarga com felicidade, produz frutos espirituais de valor inestimável.

Cristo nos ensinou que não devemos possuir bens na vida material, mas buscá-los no universo, onde não há possibilidades que eles se degenerem. No entanto, o ser humano é atingido constantemente pelas tentações da busca dos bens materiais. É neste momento que deve existir a renúncia.

Esta mensagem foi constante por parte de Jesus. Ele renunciou à sua família, à sua religião, às verdades estabelecidas e até à sua própria existência material para poder glorificar o Pai.

Frases como “Amigo, fazes logo o que tens que fazer”, dita no momento da traição que levaria Jesus à cruz, ou a dirigida a Pedro quando ele buscou defendê-lo do soldado romano (“Achas que não vou beber até a última gota do meu cálice?”), são o exemplo maior que este espírito iluminado poderia deixar para os outros espíritos.

É a mais cristalina e pura renúncia a uma existência material, a uma satisfação pessoal e deve servir como um convite para que todos não fujam ou reajam aos acontecimentos negativos. Renunciar à vida material como forma de felicidade é passar por seus momentos agradecendo a Deus e pedindo ao Pai que perdoe a todos porque não sabem o que fazem.

Este trabalho não teve outro objetivo do que transmitir os instrumentos necessários para esta renúncia.

O “Evangelho Segundo Tomé” contém todas as ferramentas lógicas que o espírito precisa para renunciar à vida carnal.

Agora o trabalho é individual. Em uma determinada existência me foi passada a incumbência de uma renúncia à satisfação pessoal que duraria séculos, mas não hesitei e aceitei a missão. Até hoje os clamores dos espíritos encarnados que imaginam que devem fazer “justiça com as próprias mãos” chegam até perto de mim, mas são rechaçados pela fé que possuo no Pai.

Poderia não ter aceito a missão, pois todos possuímos o livre arbítrio, mas hoje compreendo o quanto ganhei espiritualmente com aquela encarnação. O que me moveu naquela decisão foi a fé, a minha entrega e confiança absoluta no Pai e a certeza de que colheria os frutos daquela missão.

A fé é o instrumento básico da renúncia e o objeto dela é o fator que determina que renúncia acontecerá. A vida como um todo é uma renúncia, mas o objeto da fé de cada um é que determinará a que se deve renunciar.

Se o espírito buscar a fama e o elogio dos seus pares terá fé nas coisas materiais, nos atos, mas se ele tiver fé em Deus, buscará o elogio do Pai e não se entristecerá com o julgamento feito pelos irmãos de caminhada.

Para que o espírito consiga a renúncia necessária à sua evolução espiritual deve possuir um único objeto de fé: Deus. Colocando-O no timão da vida, o espírito jamais sofrerá, pois sabe que está cumprindo Seus desígnios e colaborando para a promoção dos seus irmãos.

Fiquem na fé do Pai.