O evangelho segundo Tomé

Logia 9 - Campo para semeadura

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Logia 9

“009. Jesus disse: Vede, o semeador saiu, encheu suas mãos e semeou. Algumas sementes caíram no caminho; os pássaros vieram e as recolheram. Outras caíram na pedra e não puderam enraizar-se na terra, e não germinaram. E outras caíram em solo fértil; e germinaram e deram bons frutos; nasceram na proporção de 60 por unidade e 120 por unidade”

Deixemos que o próprio Jesus decifre este ensinamento:

“Então escutem e aprendam o que a comparação do semeador quer dizer. Aqueles que ouvem a mensagem do Reino, mas não entendem são como a semente que caiu na beira do caminho. Satanás vem e tira o que foi semeado neles. A semente que cai no meio de muita pedra são os que ouvem a mensagem e a aceitam logo com alegria, porém duram pouco porque não têm raiz. Quando, por causa da mensagem, chegam os sofrimentos e as perseguições, eles logo desistem. Outros se parecem com a semente que cai entre espinhos. Eles ouvem a mensagem, mas quando aparecem as preocupações deste mundo e a ilusão das riquezas, elas sufocam a mensagem, e eles não produzem fruto. E as sementes lançadas em terra boa são aqueles que ouvem e entendem a mensagem e produzem frutos; uns cem, outros sessenta e ainda outros trinta vezes mais”. (Mateus – 13, 18).

A importância desta parábola é tão grande que foi transmitida nos quatro evangelhos canônicos e é a única que contém a explicação de Jesus decifrando-a. Trata da recepção, por parte dos espíritos, dos ensinamentos trazidos pelos enviados de Deus.

Jesus compara todos os enviados a semeadores que vêm espalhar sementes sobre a face do planeta; compara cada um com o terreno que irá recebê-las e sobre a forma que cada um recebe os ensinamentos.

Existem pessoas que transformam a religião em um compromisso social: freqüentam os locais de culto apenas para dar uma satisfação à sociedade e serem chamados de religiosos.

Estes são os que ficam à “beira do caminho”. Por não buscarem realmente Deus, os ensinamentos não penetram em seu coração, deixando-os imunes a eles. Apenas comparecem aos cultos com o corpo, mas seus sentimentos estão voltados à sua vida material, preocupados com os compromissos assumidos em suas vidas. O comportamento é alterado e, por isso, os ensinamentos não se fixam, em virtude dos sentimentos negativos existentes.

Por não se encontrarem sentimentalmente envolvidos com os ensinamentos, nada se altera em sua base de raciocínio (sentimentos).

Aqueles que comparecem nos cultos e procuram ouvir as mensagens dos enviados de Deus, apenas na busca da realização de seus desejos e não para sua transformação íntima, Jesus os compara a um terreno cheio de pedras, onde a semente não consegue criar raízes.

Para estes, os ensinamentos só serão aceitos enquanto satisfizerem seus próprios conceitos e trouxerem o resultado de suas vontades. Sua busca é a da satisfação pessoal e não a do aprendizado que pode trazer a mudança interna.

Quando esta satisfação não é mais alcançada, mudam de religião (ensinamento). Na verdade não estão à procura de Deus, mas de realização pessoal. Sempre que podem “lucrar” com determinado ensinamento, ele é considerado “certo”. Estes seres humanos, na verdade, em momento algum aceitaram o ensinamento. Por isto, Jesus afirma que, para estes, os ensinamentos não possuem raízes, pois eles dependerão sempre de uma raiz mais profunda: o querer de cada um.

Um ensinamento, para ser posto em prática, necessita que o espírito abra mão de sua individualidade e de suas “posses” (sejam materiais, morais ou sentimentais).

O terceiro tipo, que não foi citado originalmente por Jesus, mas acrescentado posteriormente pelos “revisores” dos evangelhos canônicos, parece-se muito com o segundo. São espíritos que estão presos aos avanços materiais e não aos avanços espirituais.

Para estes, o ensinamento deve ser sempre uma fonte capaz de gerar o bem material. Enquanto ele for auxiliado a atingir este objetivo, o ensinamento será “certo”, mas quando não premiá-lo mais, passará a ser “errado” e por isso não mais existirá a necessidade de segui-lo...

Deus não está preocupado com a vida material do espírito na carne, pois sua existência é curta em face da eternidade da vida espiritual.

A vida na carne é entendida pela espiritualidade como uma etapa da vida espiritual. Ela deve ter como objetivo o avanço moral do espírito e não premiar a posse material.

Para a espiritualidade, a única posse que um espírito adquire são os sentimentos que nutre e, por isso, direcionam todos os seus esforços para que ele se enriqueça com o sentimento mais valioso: o amor universal. Este amor tem de passar necessariamente pela felicidade universal, ou seja, aquela que é sentida por todos sem a necessidade da satisfação de “vontades” para acontecer.

Portanto, para ser um terreno fértil, o espírito tem de abolir seus conceitos, suas verdades, para poder penetrar na “Verdade Universal” e alcançar a felicidade através da felicidade dos outros e não por prazeres pessoais.

As verdades individuais são como espinhos que não permitem que o ensinamento se fixe e altere a base de raciocínio (sentimentos) para que possa alcançar a Verdade Universal. São as verdades individuais (ou posses) que sufocam os ensinamentos não permitindo ao espírito germinar a semente do amor.

Enquanto o espírito estiver preso a sentimentos que lhe tragam lucro pessoal de qualquer espécie, não conseguirá produzir os frutos que lhe auxiliarão na evolução espiritual.

Para poder colocar em prática os ensinamentos, os espíritos precisam livrar-se da vontade de ganhar ou do medo de perder; necessitam esquecer o prazer e não mais ter medo do desprazer; devem deixar de procurar o elogio e deixar de sentir preocupação com a crítica e não devem buscar a fama nem sentir a infâmia.

Todos estes sentimentos levam ao sentimento de posse. O espírito quer ganhar para poder possuir. Isto lhe causará prazer, pois ele será elogiado e ficará famoso entre os seus iguais. São estes quatro sentimentos básicos que sufocam os ensinamentos enviados por Deus e transformam o espírito em ser humano, o possuidor.

Para poder possuir coisas materiais o espírito cria o mundo material, para poder possuir “verdades”, cria os conceitos e para possuir os outros espíritos cria o “certo” e o “errado”.

Todas estas bases são geradas com o intuito de obter posses e assim alcançar o comando das coisas.

O espírito não precisa possuir nada, pois ele já tem tudo o que necessita para viver, dado sempre por Deus. Somente quando o espírito eliminar os espinhos que sufocam a Verdade Universal, poderá praticar os ensinamentos que o levarão a evoluir na verdadeira vida: a espiritual.

Por isto Jesus avisa:

“Não ajuntem riquezas neste mundo, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Ao contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde estiverem as suas riquezas, aí está o coração de vocês”. (Mateus – 6,19)

É de acordo com a “posse” do espírito, que ele terá os sentimentos. Enquanto der valor às coisas materiais, seus sentimentos serão voltados à materialidade e serão negativos, pois esta se contrapõe ao mundo de Deus.

Quando o espírito voltar-se apenas para os “bens” espirituais, aceitará os ensinamentos como um “terreno limpo” e, aí sim, estes conseguirão germinar e produzir os frutos necessários para a evolução espiritual.

Como afirmou Jesus, estes ensinamentos produzirão o amor universal dentro de cada um e se reproduzirá em grandes proporções. Mas, para tanto, é necessário que cada um promova a limpeza de seu próprio “terreno”.

Deus não alterará nunca os sentimentos que existem dentro de um espírito, a fim de que ele alcance o amor universal. É necessário que o próprio espírito busque amor para poder receber amor. Como já avisado, a cada um será dado de acordo com as suas obras. Um terreno limpo é aquele que não possui pedras nem espinhos, ou seja, onde não existem conceitos ou “verdades individuais”.

Para que o ensinamento o conduza ao amor universal, o espírito necessita abolir todos os seus conceitos. Para que estes acabem, o espírito tem de acabar com a análise de suas “percepções”.

Por isso Buda Guautama afirmou que “onde existe uma percepção, existe ilusão”. Cada vez que o espírito analisa alguém, utiliza conceitos e busca contemplá-los, fugindo à “Verdade Universal”. Para Buda, a percepção é o resultado da análise de alguma informação recebida pelo espírito através dos sentidos do corpo humano. Eliminar a percepção é aprender a ver uma pessoa sem que ela seja analisada. Toda análise é um julgamento que se faz com base nos sentimentos atuais e nos anteriores guardados nos conceitos.

Para que os ensinamentos gerem o amor universal, o espírito precisa extinguir a análise de qualquer pessoa ou situação, pois Deus lhe revelará a verdade de cada coisa, como já transmitido na logia cinco deste Evangelho.