O evangelho segundo Tomé

Logia 86 - Sonhos

“86. Disse Jesus: (As raposas) (têm) suas (tocas) e os pássaros têm (seus) ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde recostar a cabeça e descansar”.

“(As raposas) (têm) suas (tocas) e os pássaros têm (seus) ninhos”

O animal, assim como o ser humano, é uma massa carnal que abriga um espírito que dirige as atividades desta massa de acordo com a causa primária determinada por Deus. No entanto, o espírito desse animal encontra-se em uma busca diferenciada daquele que habita a massa do ser humano.

Os espíritos que comandam a massa humana estão na busca da prova, ou seja, provar a Deus que são capazes de, com o processo raciocínio, escolher apenas o amor universal como seu sentimento básico. Aqueles que habitam a massa animal ainda não precisam passar por esta prova e, por isto, seguem o seu instinto.

“INSTINTO – Impulso espontâneo alheio à razão” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição)

73 – O instinto é independente da inteligência?

Não precisamente, porque é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência não racional e é por esse meio que todos os seres provêm a sua necessidade” (Livro dos Espíritos)

Como já vimos, o raciocínio é a capacidade de perceber e analisar percepções, tomar uma decisão e comandar atos. A parte racional, ou seja, a análise das percepções e a tomada de decisões, não está presente no instinto conforme explicou a espiritualidade a Alan Kardec.

Podemos então definir o instinto como a capacidade de perceber percepções e comandar atos.

A análise e tomada de decisões de um raciocínio como também já vimos, é quando o espírito recebe uma percepção e a analisa a partir de seus conceitos pré-estabelecidos. Se estas etapas não existem no instinto, quer dizer que o espírito que utiliza esta forma de raciocínio não utiliza conceitos para buscar entender os acontecimentos.

O espírito possui uma memória espiritual. Nela, antes da encarnação, são colocados os comandos básicos para facilitar a vida do espírito na carne. Aqueles que encarnam nas formas humanas possuem esta programação, mas sempre questionam qual será a melhor escolha, enquanto que o espírito que habita uma forma animal sempre segue esta programação.

75 – É exato dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que aumentam as faculdades intelectuais?

Não, o instinto existe sempre, mas o homem o negligencia. O instinto pode também conduzir ao bem; ele nos guia quase sempre e, algumas vezes, com mais segurança que a razão. Ele não se transvia nunca.

Porque razão não é sempre um guia infalível?

- Ele seria sempre infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e o egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre arbítrio” (Livro dos Espíritos).

Por estas respostas da espiritualidade, fica bem claro que o espírito que encarna em uma forma humana possui, então, uma missão diferente: precisa vencer a capacidade de querer analisar e escolher qualquer sentimento (raciocínio espiritual) para que possa exercer bem só o amor universal. O espírito que encarna em um corpo de animal, que só utiliza o instinto, não tem esta missão.

“mas o Filho do Homem não tem onde recostar a cabeça e descansar”

Devido à dificuldade maior da missão dos espíritos que encarnam na forma humana, Deus criou um artifício para facilitar sua missão: o sono. Quando o ser humano adormece, seu corpo continua a funcionar e ele (espírito) liberta-se desta prisão carnal e continua a sua existência espiritual fora da carne.

Esta vida que o espírito terá fora da carne dependerá do seu grau de evolução espiritual. Caso esteja ele na busca da elevação espiritual, poderá encontrar mentores para estudo, energização ou missões e poderá participar ativamente da vida fora da carne. Se, no entanto, não estiver nesta busca, continuará a vida material sem perceber que seu corpo está dormindo e que ele está utilizando um corpo mais volátil (perispírito).

Por este motivo é muito comum espíritos fora da carne sentados na cama fora de seus corpos físicos, continuando uma discussão iniciada antes de dormir... Outros espíritos vão a lugares distantes e diversos para “tomar satisfação” de espíritos com os quais tenham tido qualquer tipo de mágoa naquele dia ou em outros. Assim, a vida continua a mesma e ainda facilitada pela libertação do espírito da matéria densa.

Esta existência passa-se no que é conhecido pela ciência como inconsciente do ser humano. Tudo o que o espírito faz ou participa fica ali registrado.

Para que o espírito lembre-se dos acontecimentos do momento do sono, é necessário que estas lembranças alcancem o consciente, ou seja, a memória utilizada por ele na vida carnal.

Sempre que há necessidade desta lembrança para a evolução do espírito, o plano espiritual comanda esta transferência de mensagem. Entretanto, para que não exista uma confirmação material da vida espiritual para aqueles que não têm fé, estas lembranças ficam como se o espírito houvesse tido um “sonho”.

Sonho, portanto, é a lembrança da vida fora da carne que o espírito vive diariamente enquanto o corpo permanece em repouso. Para explicar melhor esta questão, transcrevemos abaixo palestra do amigo Zytos (instrutor espiritual deste grupamento) proferida em 17/05/2000:

O sonho é um estágio conhecido pelos moradores da carne como ”uma fase alcançada durante o sono”, ou seja, durante o processo de dormir. Este conhecimento em parte é verdadeiro: o sonho acontece durante o processo de dormir, mas pode acontecer em outras etapas que vamos estudar também. Primeiramente, vamos deixar bem claro que o sonho independe do sono.

Se o sonho para alguns faz parte do sono, vamos falar muito rapidamente de sono, sem entrar em maiores detalhes, pois trata-se de um assunto específico.

 O sono é um estado no qual a carne fica sem a presença física do espírito. Durante um determinado momento ou tempo, o espírito afasta-se da carne sem perder o contato com esta. Assim, os sentidos da carne são desligados e a matéria entra no estágio sono.

Por que isso acontece, a finalidade, a falta do sono ou outros problemas para dormir, vamos estudar em outra oportunidade.

A partir do momento em que o espírito se afasta do corpo, entra no que é conhecido como “sonho”, ou seja, ele passa a viver a vida espiritual afastado da matéria. O espírito continua tendo a sua vida própria, mas afastada da matéria; vivendo em um mundo espiritual sem massa densa.

 O sonho, então, nada mais é do que a vida espiritual plena, vivida sem matéria densa.

Esta saída se dá da seguinte forma: o espírito sai da matéria densa alongando o perispírito em torno do “cordão” que o liga ao chacra animal (de animação), ou chacra que recebe o fluído animador. Assim, o espírito liga-se ao corpo físico por um ”fio” e o perispírito em torno deste “fio” continua envolvendo o espírito. Após a saída do corpo denso, o espírito dirige-se ao mundo espiritual, dentro do orbe terrestre ou não.

O espírito pode sair ou ir para qualquer dos planos e vida espiritual acessíveis a ele, dependendo da sua missão ou grau de elevação. Pode, ainda ficar na própria orbe terrestre ou ter acesso aos mundos espirituais inferiores. Todos esses locais, dependendo da função ou da missão que será desempenhada, o espírito pode visitar.

Livre então da matéria, vivendo com os seus iguais, fazendo parte do mundo espiritual sem matéria densa, o espírito pode executar atos espirituais. Pode participar de trabalhos, conversar, passear, rever amigos, pode tudo que qualquer espírito fora da carne pode fazer. Não existe restrição para o espírito que mora em uma carne quando ele está fora dela.

O mais comum é o espírito, ao se retirar da carne, ficar no próprio mundo da matéria densa. Quando ele sai, normalmente é para missões de trabalho próprio ou missões de ensinamento, que é outra função muito utilizada durante o sonho. O espírito é levado ao sexto plano e ali é feita uma reciclagem dos conhecimentos adquiridos durante a sua última passagem fora da carne, nas escolas espirituais.

Esta é a função mais comum do espírito quando se retira da carne. Entretanto, quando ele retorna ao mundo denso e tem a consciência material, não se lembra perfeitamente de tudo. É acionado novamente o “véu do esquecimento” que só está presente quando o espírito está na carne. Quando ele sai a trabalho ou em missão durante o sono ou não, o “véu” é retirado.

Por que muitas vezes nos lembramos do que sonhamos e tudo nos parece muito descabido? O que acontece é que cada véu do esquecimento de cada espírito possui um código próprio, personalizado, que interpreta aquilo que aconteceu com ele durante o sono do corpo material. Daí os sonhos mais estranhos ou sem sentido. Sonhos sem sentido porque na realidade são figuras passadas pela “peneira” e interpretadas pelo “véu” para depois serem lançadas na memória.

O “véu” cria figuras que codificam e posteriormente decodificam os atos que aconteceram na vida espiritual, enquanto o espírito esteve fora.

Assim, o espírito sai toda a noite ou todo o dia ou a qualquer momento que o corpo durma, ou seja, tenha os seus sentidos desligados. Sai para estudos, trabalhos, visitas, passeios. Quando retorna, esta lembrança é codificada de acordo com o seu próprio código.

Aqueles que nunca se lembram dos seus sonhos é porque não existe codificação para os atos praticados fora do corpo. O que acontece geralmente nesses casos é que o que foi praticado durante a saída do espírito, não vai ter reflexos e, portanto, não terá necessidade de ser relembrado quando na carne. Quando não existe a lembrança é porque não existe a necessidade daquele ensinamento ou do que foi realizado fora da carne.

Quando existe a lembrança, deve o espírito na carne ter atenção com o “sonhado”, pois ali existem ensinamentos que foram recolhidos fora da carne, não se esquecendo de que foram codificados no seu código próprio. É para isso que serve o sono: para que o espírito na carne tenha um direcionamento mais amplo, uma vez que ele não tem contato consciente com os seus mentores espirituais, que, no “sonho” fazem este trabalho através de lições ou só conversas.

O espírito pode também sair e não existir a necessidade de viagens astrais. Dessa maneira, ele fica sobre a própria orbe terrestre passeando, aguardando a hora de voltar para o corpo, aguardando a hora que o corpo estará pronto para recebê-lo novamente. Durante esta saída pode receber amigos, trocar informações, ou seja, fazer todos os atos que um espírito pode fazer.

Esta é a função do sonho: o espírito vivendo o seu próprio mundo que é o mundo espiritual afastado da matéria densa.

Todo este processo Deus criou para auxiliar os espíritos que se encontram na massa carnal humana, devido às características desta encarnação. Aqueles que encarnam em massas animais, apesar de também terem o processo “sono”, não precisam deste desligamento da carne e, por este motivo, podem descansar.

Este é o ensinamento que Jesus nos traz nesta logia.